22.06

 

Após ser vítima de um câncer raro, garotinho morador de Petrolina tem aval para seguir a vida normal.

Silvia Bessa (texto)
Arquivo da família (foto)

Este foi um semestre de descobertas para Jeremias e não apenas por ser a primeira experiência escolar de um menino de 3 anos de idade. Passou a frequentar a escola, ter amigos para interagir, brincar de massinha de modelar, de lápis de cera e de pega-pega. Tudo era a primeira vez. Antes, os cuidados médicos exigiam que fosse poupado de riscos e, quase sempre, era mantido no colo para evitar infecções indesejadas. Jeremias agora corre no chão com as próprias pernas, pode se enrolar na areia como muitas crianças saudáveis, andar descalços, tomar banho de rio no município onde mora, no Sertão de Petrolina, e pisar com pés descalço sobre a roça. Deliciar-se com o mar, pensar em visitar a capital pernambucana, distante 700 quilômetros da sua casa verdadeira, apenas para ganhar o abraço da avó paterna, dona Isabel. Jeremias, que teve diagnóstico de um câncer raro (o retinoblastoma) em um dos olhos com um ano e um dia de vida, ganhou a liberação que precisava.
“Ele está curado”, anuncia a mãe, Jamilly Bezerra, exultante. Ela, que se corroeu de preocupação quando notou no seu bebê o brilho diferente no olho e as manchas brancas vistas em fotografias. Que segurou o corpo fraco do filho em sessões de quimioterapia e laser. Que ouviu de um médico que Jeremias chegou a ressuscitar numa sala cirúrgica. Jamilly, que não cansa de sorrir e que ontem – após viagem de 12 horas de carro e consulta de rotina no Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira – comemorou: “Graças a Deus está tudo certo. Jeremias é meu milagre”.
Segundo ela, os médicos dizem que não resta nenhuma “célula cancerígena” em Jeremias nem no olho retirado (ele perdeu o globo ocular e usa uma prótese de vidro), nem no outro olho, tampouco em qualquer parte do corpo. “Eu sempre tive fé”, conta a mãe, que deixou o apartamento emprestado que acomodou sua família durante meses de tratamento de Jeremias e novamente está em Petrolina. “Sou muito grata a todos que nos ajudaram financeiramente, com palavras ou doações”, diz. Na época em que o câncer dele foi descoberto, uma amiga da família chamada Teresa Leonel encabeçou uma campanha na internet para doações, cujo título foi “Por amor a Jeremias”. A mãe fazia a sua parte espalhando mensagens de otimismo. Uma me marcou: “Ame mais, se preocupe menos”.
A história de luta de Jeremias ficou conhecida sobretudo em Petrolina há alguns anos e tem ajudado outras famílias. Quatro delas tiveram notícias sobre a aparência dos olhos das suas respectivas crianças e procuraram Jamilly para obter mais informações. Duas, as únicas que Jamilly tem notícias, perderam os dois olhos, mas sobrevivem. O relato sobre a superação de Jeremias virou testemunho dos mais emocionados na Igreja Cristã Evangélica, da qual são seguidores e serve como estímulo para quem precisa na rotina diária. “Tive muito medo de perder ele por várias vezes mas depois passei a entender que Jeremias veio para que a gente possa ajudar a outros”, crê.
Jeremias curte a vida na ingenuidade da idade. É um menino tagarela e tem a inquietude de um típico garoto que está às vésperas de completar os quatro anos – no dia 12 de julho. Gosta de personagens de Homem-aranha e Capitão América. Segue marcado pelo um drama infantil. Um dia, adulto, no entanto, saberá que muitos, inclusive desconhecidos, temeram sua morte e passaram a comemorar o recomeço da sua vida.