01.08

 

Instrumento acessível e democrático, serve para um milionário e para um estudante pobre.

Vandeck Santiago (texto)
Julio Jacobina/DP (foto)

Sabe qual o presente que Bill Gates, o criador da empresa de software mais valiosa do mundo, gostaria de dar a cada recém-formado? Um livro, este longo conjunto de páginas abrigadas entre duas capas, que se mantém popular por mais de cinco séculos. Não qualquer livro, mas um que o inspirou e que ele gostaria que fosse lido por outras pessoas: Os Anjos Bons da Nossa Natureza, do canadense Steven Pinker. A obra analisa se as pessoas em geral são essencialmente boas ou más, e defende a tese que devemos ser esperançosos sobre o futuro, em vez de pessimistas.
Bill Gates é o campeão das tradicionais listas de “mais ricos do mundo” elaboradas pela revista Forbes. Na mais recente, divulgada semana passada, ele estava em segundo lugar, atrás de Jeff Bezos, da Amazon. O relatório traz um detalhe interessante: ele seria o detentor da maior fortuna do mundo, distante do segundo lugar, se não tivesse doado US$ 33 bi (o equivalente a R$ 102 bi) para causas humanitárias. No mesmo espaço (uma série de 14 tuítes) em que falou do desejo de dar o livro aos recém-formados, Gates afirmou: “Também possuo um grande arrependimento. Quando saí da escola, sabia pouco sobre as piores desigualdades do mundo. Demorei décadas para aprender sobre elas. Vocês sabem mais do que eu na idade de vocês. Vocês podem começar a lutar antes contra a desigualdade, seja na rua da sua casa ou ao redor do mundo”.
A bem da verdade, ressalve-se que Bill Gates não é o único milionário que gosta de ler — na verdade, pelo menos em se tratando dos norte-americanos, este é um hábito comum aos mais ricos, segundo estudo feito pelo consultor Thomas Corley com 233 deles (todos com fortuna líquida de US$ 3,2 milhões para cima).
A leitura deles, conforme o estudo de Corley, é dirigida na busca de conhecimento, inspiração e capacitação. A julgar por suas fortunas, este modelo serve para eles, mas evidentemente, para o resto da humanidade, não se limita a isso. Podemos ler, por exemplo, pela pura satisfação de ser arrebatado pela história, de ter os nossos sentidos inundados, de descobrirmos novas histórias. Qualquer que seja o motivo, já está comprovado o benefício da leitura para todos, independentemente da idade. As crianças que têm contato com a leitura de forma cotidiana adquirem maior vocabulário, desenvolvem a curiosidade e sentem-se encorajadas a buscar novas descobertas com o instrumento que agora dominam. Crescem, tornam-se jovens e adultos e — se permanecem leitoras — ficam mais aptas a entender e analisar abstrações, conceitos e situações. Para jovens e adultos, ajuda a desenvolver a criatividade e a imaginação. Há estudos indicando que a leitura sistemática pode ser uma barreira contra a perda de memória e até mesmo retardar o surgimento da doença de Alzheimer. Pesquisa realizada na Universidade de Michigan (EUA) e publicada na revista especializada Social Science & Medicine sugere que a leitura de livros reduziu em 20% os riscos de mortalidade das pessoas. No estudo foram acompanhadas durante 12 anos 3.635 pessoas acima de 50 anos.
Não importa se impresso ou digital, o livro se mantém como o mais acessível e democrático dos instrumentos a serviço do conhecimento, capaz de ser valioso tanto para um milionário quanto para um estudante pobre, tanto para um adulto em idade avançada quanto para uma criança, tanto para alguém que busca o sentido da vida quanto para quem quer apenas escrever uma coluna de jornal.