08.08

A menos que haja reviravolta no quadro de hoje, presidente será uma espécie de anticabo eleitoral.

Vandeck Santiago (texto)
Miguel Schincariol/AFP (foto)

Pergunta para ser respondida nas eleições de 2018: que partido ou candidato ousará levar Michel Temer para o seu palanque? A pergunta antecede outra: que influência o apoio fiel dado a Temer, hoje, terá sobre a corrida eleitoral do próximo ano, sobretudo em relação a cargos majoritários que estarão em disputa (senador e governador)?
A menos que haja uma reviravolta no quadro que temos hoje — em outras palavras: que a economia melhore, sejam criados novos empregos, haja melhoria na renda das pessoas etc. —, tudo indica que Temer será uma espécie de anti-cabo eleitoral. Já tivemos isso em eleições passadas — aquele nome com o qual os candidatos não querem se associar, porque lhes tira votos. A tática utilizada para evitar danos é conhecida: esconde-se o personagem durante a campanha, não deixa que ele apareça em cartazes, em slogans, em atos públicos, e tenta-se levar a campanha para os temas que afetam diretamente a população, como segurança, saúde, educação…
Tirando o fato de que essa tática não necessariamente é bem-sucedida, resta a ressalva de que há de se levar em conta também o grau de aproximação e fidelidade que se teve com o personagem. Por exemplo: uma coisa é ter sido seu defensor discreto em votações e discursos, no parlamento; outra, é ter sido ministro dele ou ocupado cargo relevante no governo. Neste caso, escondê-lo do palanque vira tarefa mais difícil. Até porque o candidato que estiver nessa situação vai querer utilizar na campanha as obras e ações que concretizou enquanto esteve no cargo governamental — prática que estabelecerá o seu link com o governo. Pegue esse quadro e o coloque sob a perspectiva regional. Exemplo: imaginem a situação no Nordeste, onde a impopularidade do governo federal é maior assim como o prestígio do principal candidato de oposição, Lula (considerando-se que ele saia candidato a presidente; mesmo que seja impedido por decisão judicial, ainda assim sua influência terá peso no Nordeste). Não à toa, duas lideranças com atuação no Nordeste já marcaram posição contrária ao governo Temer: o senador Renan Calheiros (PMDB), que deve concorrer à reeleição por Alagoas, estado governado por seu filho, e o também senador Tasso Jereissati (PSDB), que pode ser candidato a governador no Ceará.
Claro que numa eleição para governador e senador o tema central não será “a relação que o distinto candidato, ou distinta candidata, teve com o governo Temer”. A população vai querer soluções para os temas já mencionados: empregos, segurança, transporte, educação. Mas todos estarão sentindo na pele as consequências das medidas nacionais, em diversas áreas. Como os efeitos da reforma trabalhista. Considere-se também que em 2018 teremos eleições para presidente, e as questões nacionais permearão as locais. Aumento de geração de emprego, por exemplo, depende mais do presidente do que do governador. Outro detalhe é que em 2018 não teremos mais um partido só como “vilão preferencial” dos ataques sobre corrupção. As novas gravações e delações que surgiram no pós-impeachment escancararam a compreensão de que as propinas e as distorções do financiamento das campanhas são um problema sistêmico, que atinge a todos. Em 2018 a fantasia de vestal ou santo não caberá em ninguém.
A situação ainda sofrerá a influência de dois fatores que se encontram em estado embrionário: a reforma política e a rearrumação dos partidos, como está acontecendo agora com o DEM, que pode receber parlamentares de outros partidos e formar uma espécie de centro liberal.
Por enquanto, mantidas as atuais temperatura e pressão do quadro nacional, a conclusão que se pode tirar é que os ocupantes de cargos no governo Temer e os políticos mais fiéis a ele pagarão o preço dessa opção em 2018, sobretudo no Nordeste.