25.09

Arquiteta dá guinada profissional ao capacitar, voluntariamente, rede de prestadores de serviço.

Marcionila Teixeira (texto)
Gleyson Ramos (foto)

Os números saltaram reveladores na frente de Tathiane Jordão, 40 anos. Dona de um escritório de arquitetura, certa vez ela decidiu localizar onde estavam os erros na execução dos projetos desenvolvidos para os clientes. A pesquisa aconteceu entre agosto e novembro do ano passado e mostrou que a maioria das falhas, ou seja, 60%, estava entre lojistas e, principalmente, entre prestadores de serviço. Profissionais como pintores, eletricistas, encanadores, vidraceiros, marceneiros e serralheiros eram considerados competentes, mas apresentavam problemas comportamentais. Entre as queixas, descumprimento de horário e de prazos e sujeira espalhada na casa do cliente. Tathiane precisava resolver o problema. E assim fez. A arquiteta nem imaginava, mas sua escolha tem mudado vidas. Inclusive a dela, que um dia pensou em jogar a carreira profissional para o alto após 14 anos de formada.
Havia obviamente outros “culpados” listados no levantamento feito pela arquiteta. Um total de 30% dos erros, por exemplo, estava no próprio escritório e 10% eram dos clientes. No universo pesquisado, as pessoas com menor acesso à formação eram, sem dúvida, os prestadores de serviço. Tathiane, então, elaborou um projeto de capacitação gratuito para essas pessoas, chamado Mais Casa Viva, uma alusão ao nome de seu escritório, o Casa Viva Arquitetos Associados. A iniciativa ganhou corpo e hoje é exemplo para outros escritórios. As capacitações dos prestadores começaram em abril. A última aconteceu no sábado passado na loja da Ferreira Costa, na Tamarineira, no Recife. Os consultores convidados são voluntários e falam de assuntos meramente comportamentais. Empatia, organização através de processos, qualidade no atendimento ao cliente, importância da comunicação, marketing pessoal e como criar sua fanpage foram os assuntos tratados até agora. “Alguns temas, como marketing pessoal, foram sugeridos pelos próprios prestadores. Entre as dicas, pedimos até para eles evitarem ir ao trabalho com camisas de times ou de orientação religiosa”, conta Tathiane. Os encontros aconteciam no Marco Pernambucano da Moda, um espaço acolhedor na Rua da Moeda, no Recife Antigo, mas migraram para a Ferreira Costa, a convite dos donos da loja. As palestras são abertas, gratuitas e acontecem uma vez por mês, das 9h ao meio-dia. A única condição para participar é a doação de um quilo de alimento não-perecível, que é entregue em instituições que cuidam de idosos ou crianças, por exemplo.
Paralelamente à ação voluntária, Tathiane entregou aos clientes formulários de avaliação dos prestadores. Aqueles que se saem bem nas avaliações ganham destaque em postagens no instagram da arquiteta, que tem cerca de 1.300 seguidores. Os bons resultados significam novos clientes para a rede de prestadores e para o escritório de Tathiane. Os frutos da iniciativa já começam a aparecer. A arquiteta tem sido convidada para consultorias sobre o tema. E os erros relacionados aos prestadores cairam para 11,55%.
Contando assim, o caminho trilhado pela profissional parece ter sido fácil. Não foi. Tathiane ganhou mais responsabilidades com o projeto social e chegou a por em dúvida suas escolhas. Fez coaching com Adriana Cavalcanti e aprendeu a explorar e valorizar suas potencialidades. Parou de sofrer por não ter domínio sobre tudo. “Por um tempo, via uma espécie de fumaça na minha carreira. Via o escritório, via os acontecimentos, mas me sentia cansada. Não entendia porque as coisas não davam certo. Comecei a entender os pilares da profissão e ganhei força para seguir no processo. Me sinto outra pessoa em todos os sentidos. Agora sou feliz.”
A experiência de Tathiane é um case de sucesso profissional e pessoal. Trata de reencontros com os próprios anseios e de coragem para encarar novos rumos. A arquiteta tem levantado a auto estima de uma rede de profissionais, é verdade. Mas a principal beneficiada nessa corrente de voluntariado e empatia é ela. Algo comprovado até pela ciência. Pesquisadores do Instituto Nacional do Envelhecimento, nos EUA, relataram que pessoas afáveis sentem menos estresse, algo que beneficia tanto os relacionamentos quanto a saúde. Ou seja, faz bem fazer o bem.