Cláudio Marinho acaba de ganhar diploma que lhe confere o título de Construtor da Internet no Brasil.
Silvia Bessa (texto)
Thalyta Tavares/Esp.DP (foto)
Se o nobre leitor estiver lendo este artigo pelo computador, saiba que o feito não seria possível sem o pioneirismo de Cláudio. Se acha-se diante de uma folha do jornal impresso, lembre da celeridade com a qual a notícia pode chegar a qualquer amigo de outro país com a ajuda da Web. Cláudio levantou muito tijolo para que comunicações assim se estabelecessem e o esqueleto digital fosse erguido lá pelos idos de 1992 e 1993. Foram alicerces para a revolução dos e-mails, páginas de busca, redes sociais, como Facebook e Instagram, e aplicativos de sucesso ao estilo Whatsapp.
Cláudio estava por trás daquele som da internet discada lembrado pelos usuários mais românticos. Dos caracteres da tela verde pré-web, do Gopher, o precursor do Google na busca de palavras. Foi coordenador da implantação da Rede Cidadão, nada menos que a primeira freenet da América Latina de acesso gratuito. Tinha como base a Emprel, empresa de informática do Recife. Quando começou a empreitada, eram 9.8 kbps ligando a Emprel ao Itep (Instituto de Tecnologia do Recife). “Hoje, para você fazer uma comparação, é difícil imaginar uma casa com menos de 30 megas de velocidade”, explica tecnicamente.
A história de Cláudio é a do paraibano que nasceu no interior de Coremas (15 mil habitantes), foi criado em Patos; que alfabetizou-se lendo notícias filando o jornal do pai, um dentista; que se apaixonou por Pernambuco; estudou muito para se tornar especialista com formação internacional nas áreas de economia, urbanismo e tecnologia. Atuou, por certo tempo, como gestor público e manteve-se visionário. Cláudio Marinho, fazedor de boas ideias, acaba de receber um valioso e simbólico diploma e pode agora se dizer um Construtor da Internet no Brasil, com o título concedido pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), como “gratidão após 25 anos da primeira rede nacional brasileira”.
Ele comemora a honraria enquanto ouve relatos vindos do bairro vizinho ou do exterior dos primeiros usuários da então rede estruturada com professores, técnicos e estudiosos do Brasil, que sonhavam em ver o progresso via computador. “Mestre, sou muito grato pelas suas iniciativas de políticas públicas. De fato, marcou a minha alfabetização digital”, escreveu dia desses Renato Lima, doutor em ciências políticas, hoje morando em Kuala Lumpur, Malásia. “Esse Recife do final dos anos 90 vivia o paradoxo de ter sido chamada a pior cidade do mundo e, ao mesmo tempo, explodia em novas iniciativas culturais, mangue beat e negócios digitais”, completou. Este foi um dos depoimentos entre tantos.
“É o maior orgulho em linha reta do mundo”, resumiu o novo diplomado. Ao ler cada um, Cláudio foi mergulhando nas memórias, em um aprofundamento do exercício que ele gosta de fazer quando sai para tomar um café no entorno da Rua da Guia, no Recife Antigo, nas proximidades do Porto Digital, o maior parque tecnológico de empresas de Tecnologia de Informação do Brasil. Um oásis de inovação que ele ajudou a fundar e pelo qual é tão admirado por milhares de jovens empreendedores.
Dá para olhar para trás e fazer uma retrospectiva?, perguntei a ele. “Ainda não é possível avaliar o que foi esta evolução. Mas, às vezes, tenho a sensação que foi como a eletricidade. Hoje lembro que, nos restaurantes, a senha da internet é o prato mais servido”, brinca com a história que passou acelerada, durante uma entrevista que é a prova da teoria. A conversa se deu via ligação transmitida por Whastapp, plugado em rede Wi-Fi. Isso porque, no escritório dele, o sinal da operadora de telefonia é precário.
De Pernambuco, além de Cláudio (hoje consultor de empresas para cenários e estratégias), o diploma de Construtor da Internet no Brasil foi concedido aos professores Silvio Meira, José Augusto Suruagy Monteiro, e a quatro integrantes da RNP (Ariana Martins, Clarice Castro, José Arivaldo Frazão Jr., Maria Teresa Silva de Moura e Tânia Saraiva de Melo Pinheiro). Mas perfilar Cláudio tem sua razão: justifica-se pela capacidade dele de inovação como gestor público e pelo entusiasmo que ele exibe ainda hoje. Parece igual àquele de entrevistas feitas décadas atrás.
O melhor de conversar com Cláudio Marinho é perceber, sobretudo, a disposição diante do que ele desconhece. Pedi para ele falar de futuro e tecnologia e ele saiu-se com a seguinte frase: “Gosto de futuro porque nele a surpresa é a única certeza. E a surpresa é inevitável. Isto que é bom no futuro”. Avante, Cláudio e a legião de inovadores que nos darão notícia daqui a 25 anos.