14.11

Política nacional entrou na fase em que os fatos se aceleram, e o maior prejudicado é Michel Temer.

Vandeck Santiago (texto)
Miguel Schincariol/AFP (foto)

O pedido de demissão do ministro pernambucano Bruno Araújo (Cidades), do PSDB, é o principal indicativo de que a política saiu daquela fase que os líderes costumam cultivar enquanto as decisões não saem, a do chove-não-molha, e entrou na outra, em que a caneta age — ou seja, em que as decisões são tomadas. O maior prejudicado com esta fase é o governo Michel Temer, que é o principal beneficiário do chove-não-molha. A partida de Bruno antecipa a debandada tucana, e a base de apoio fica menor em termos quantitativos e de prestígio. O estágio em que as fatos se aceleram é momentâneo, porque política é como filme de George Lucas: cinco minutos de tiros e bombardeios intergalácticos, e em seguida meia hora de grunhidos e espaço para gente esquisita. Mas os danos ficam, e nada mais permanece como antes.
O estopim dessa nova fase deu-se semana passada, quando um fato político de três sequências coube numa única frase: Aécio destituiu Tasso Jereissati da presidência interina do PSDB, reassumiu o comando do partido e em seguida nomeou um interino para o lugar.
Este, vamos chamar assim, fato 1 ocorreu no dia 9 passado. Logo depois tivemos:
2) Luciano Huck antecipou o prazo para definir se é candidato (vai decidir até dezembro, e não em abril, como se especulava);
3) Aécio afirmou que a candidatura do apresentador significaria a “falência da política” (Huck foi um dos seus seguidores mais entusiasmados na campanha presidencial de 2014, mas creio que a essa altura isso não vem ao caso);
4) No fim de semana, na convenção do PSDB mineiro, Aécio admitiu a saída dos tucanos do governo federal, pela “porta da frente”, alimentando as conjecturas sobre reforma ministerial (percebam que, até aqui, quem está no papel de espalha-brasas no cenário é o próprio Aécio);
5) O pedido de demissão de Bruno Araújo; e, também ontem,
6) A afirmação de Dilma Rousseff de que “é preciso perdoar quem bateu panela” (o que já soa como tática para recuperar eleitores nas eleições de 2018).
A definição por enquanto não é de nomes; esta pode esperar para 2018. A definição é de blocos e posições — traça-se um risco no chão e começa a ficar claro quem é aliado e adversário; quem ainda não é, mas está com jeito de que vai ser; que palanques serão formados; quais os legados dos quais se quer afastar etc.
O PSDB, por exemplo, ou pelo menos uma fatia poderosa do PSDB, não quer levar para o palanque de 2018 a associação com o governo Michel Temer. A bem da verdade, diga-se que Bruno externou sua vontade de sair do governo desde maio passado, quando estourou a história da gravação do empresário Joesley Batista com o presidente. Foi demovido pelo partido, que resolveu esperar por mais esclarecimentos sobre o caso.
Nessa movimentação, estreita-se o campo de articulação e o poder de fogo do governo, além de tornar mais fértil o campo de quem considera que em 2018 ligações governistas não serão cabos eleitorais desejados.
O que está acontecendo agora é a precipitação de uma tendência que se esperava para o início de 2018. O ciclo não se fechou e ainda tem espaço para fatos novos. Ontem, em entrevista à rede alemã de jornalismo Deustche Welle, a ex-presidente Dilma Rousseff defendeu “perdoar aquela pessoa que bateu panela achando que estava salvando o Brasil, e que depois se deu conta que não estava”. A frase ecoou raciocínio defendido em 30 de outubro, em Minas Gerais, pelo ex-presidente Lula. “Estou perdoando os golpistas”, disse ele. Para Dilma, o “perdão” não se aplica ao partidos (embora admita que o PT pode aliar-se a alguns integrantes deles, que não defenderam o “golpe”), mas às pessoas.
Em relação ao tempo (o repórter pergunta se ela acha que a história lhe dará razão), Dilma afirmou: “A história no Brasil tem sido rápida. Ela já está me dando razão. Eduardo Cunha, que presidiu meu impeachment, foi afastado, suspenso, condenado a nove anos e está preso. Vários processos mostram que ele comprou deputados. Também foi comprovado que os motivos alegados para o impeachment eram ridículos, que não pratiquei nada ilegal”.
Se neste final de 2017 tivemos o acelerar da marcha, no próximo ano o tempo para as decisões será mais exíguo, tanto para as disputas estaduais quanto para a presidencial — nesta, o principal é a definição sobre a candidatura Lula, se ela será ou não impedida por condenações na 2ª instância. Desde 2015 o Brasil parece ter sido pego numa dobra do tempo, como se estivesse em um filme de ficção científica. Em algum momento vamos ter de parar, sob risco de acabarmos no passado.