Espetáculo “Tereza – uma luz chamada resistência” faz homenagem a personagens históricos da Zona Norte.
Marcionila Teixeira (texto)
Ricardo Fernandes (foto)
Se você acredita na capacidade da arte em resgatar vidas, uma forma de contribuir com esse processo é assistir à peça Tereza – uma luz chamada resistência. Dirigido e encenado por moradores ou frequentadores do Alto Santa Terezinha e comunidades vizinhas da Zona Norte, o espetáculo é uma homenagem a pessoas e instituições culturais com um grande legado histórico na região. Gente como a falecida Maria do Peixe, uma comerciante centenária de peixe assado e passarinha, por exemplo, é uma das pessoas celebradas na apresentação. Desembolsando R$ 10 (meia entrada) ou R$ 20 (inteira), é possível prestigiar a arte e promover novas oportunidades para os moradores desses bairros. A encenação acontece no próximo domingo, às 17h, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem.
A apresentação é costurada pela personagem Tereza e dividida em três tempos: décadas de 1980, 1990 e dias atuais. A ideia é mostrar que, já naquela época, muitas expressões culturais e personagens – todos com atuação até hoje, com exceção de Maria do Peixe – resistiam e abrilhantavam as ruas da Zona Norte. A entrada de uma grande troça no palco, onde estarão representados os dez homenageados, dá o pontapé inicial da peça. Além de Maria do Peixe, serão lembrados os maracatus nação Raízes de Pai Adão, Estrela Brilhante, o Clube Bela Vista, as troças Abanadores do Arruda, Reisado Imperial, Boneco Seu Malaquias, Caboclinho 7 Flechas, o mestre de capoeira Morcego e a Escola de Samba Gigantes do Samba.
Diretor-geral do espetáculo junto com a bailarina Liliane Freitas, Gilblênio Saadh, mais conhecido como Roxinho, conta ter encontrado na arte a oportunidade de sair do círculo vicioso da violência em sua comunidade de origem, Peixinhos, em Olinda. “Cresci vendo crimes e drogas e esse poderia ter sido meu caminho. Aos nove anos, conheci a arte, através da dança e do teatro ofertados em projetos sociais. Me envolvi com isso e terminou que hoje muitos amigos meus estão mortos, presos ou são pais de muitos filhos, mas sem a menor estrutura financeira para isso. No Alto Santa Terezinha a gente vê muito isso. É um ambiente de alta vulnerabilidade”, pontua.
Os ensaios para a peça aconteceram no Compaz Governador Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha. Os 60 participantes integram os núcleos de dança do Compaz de balé clássico, dança contemporânea, Studio 8 de dança (que usa o espaço do governo municipal para aulas), hip hop e capoeira. “O acesso a essas linguagens, como o teatro e a dança, resgata vidas. Claro que é muito melhor estar dançando que estar na rua, vulnerável, usando drogas. Pensar que uma menina ainda pequena está fazendo dança, se empenhando e, em dez anos, pode ser reconhecida, é incrível”, completa Roxinho.
A diretora-geral Liliane Freitas, além de bailarina, é professora de dança e moradora do Alto Santa Terezinha. Roxinho é arte educador da Biblioteca Afrânio Godoy (Compaz), ator e bailarino. Além deles, Marcelo Aguied bailarino, coreógrafo e graduando em Educação Física, também foi convidado para dirigir as coreografias. O espetáculo começa pontualmente e tem apresentação única. Prestigiar os moradores da Zona Norte em cena representa um belo exercício de cidadania para um final de tarde de domingo.