Ao acompanhar um enterro no cemitério de Santo Amaro, um militar de prestígio tem uma síncope cardíaca e morre de forma súbita. No dia seguinte, sua filha casa-se perante o seu cadáver e todos depois retornam ao cemitério para o sepultamento. A história parece aquelas criadas por Nelson Rodrigues, mas realmente ocorreu e foi registrada no Diario de Pernambuco no dia 1 de maio de 1904.
O defunto ilustre foi o coronel Pedro Antonio Nery, filho do capitão de fragata Izidoro Antonino Nery e da heroína Anna Nery, a patrona da enfermagem no Brasil, que durante a campanha do Paraguai (1864-1870) prestou serviços à pátria acompanhando os seus três filhos. Terminada a guerra, Dom Pedro II conferiu à precursora da Cruz Vermelha no país a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe.
O coronel Nery – que depois veio se estabelecer em Pernambuco – na época do conflito era um simples cadete. No dia 29 de abril de 1904, ele acompanhava um enterro no cemitério de Santo Amaro quando passou mal e sucumbiu. No tarde do dia seguinte, a filha Maria da Glória Nery casou-se com o capitão da Guarda Nacional Maximiniano Botelho, perante o cadáver do coronel. Após as cerimônias civil e religiosa marcadas com antecedência, todos os convidados foram ao cemitério de Santo Amaro, a última morada do militar.
Todo o drama foi relatado no Diario do dia 1º de maio. O texto revela que a cidade praticamente parou para acompanhar despedida do coronel, com o cortejo das autoridades ao som de duas bandas militares. O féretro saiu do número 119 da Rua da Aurora e até Santo Amaro “ouviam-se os gritos de senhoras acometida por ataques histéricos”. O jornal também destacou que a cerimônia de casamento diante do “extinto” foi “comoventíssima”.