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O carnaval é a festa do povo. Em parte alguma, como no Recife, essa afirmação é tão verdadeira. Festa legitimamente popular, com características próprias e mantendo uma tradição de muitos anos, o carnaval pernambucano, com os seus passistas, maracatus, caboclinhos, é comentado em todo o país e inúmeros estrangeiros aqui têm vindo para apreciá-lo. Agora mesmo, Leonide Massine, o maior coreógrafo vivo, astro do balet mundial, aqui esteve para estudar as danças e músicas de nossa terra, tão ligadas ao carnaval, para apresentá-las nos maiores teatros da Europa e da América. No dia em que as autoridades se dispuserem a executar um plano turístico para o Recife, o nosso carnaval será o ponto alto do calendário projetado, atraindo milhares de visitantes.

O texto acima foi publicado no Diario de Pernambuco há 59 anos. Em fevereiro de 1956, o jornal estampava em suas páginas uma preocupação legítima com os rumos que a festa ia tomando com a mudança de costumes. No dia 12 de fevereiro, o domingo da folia, o Diario anunciava a invasão das ruas e clubes, mas alertava para o “desaparecimento progressivo dos valores tradicionais de cor e ritmo”. “As bolas de cheiro cederam lugar ao lança-perfume e os carros alegóricos desapareceram por falta de estímulo do poder público às agremiações carnavalescas, caindo no arremedo dos carros de corso”.

Na mesma página, a foto de um jovem Capiba sorridente contrastava com a chamada logo abaixo: “Capiba: falta assistência ao frevo”. O compositor ressaltava que não era contra o samba, mas criticava a incorporação de ritmos estrangeiros às nossas festas. A sugestão dele era de que a prefeitura poderia tomar conta dos alto-falantes instalados nas ruas durante o carnaval, garantindo a veiculação apenas de ritmos locais.

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Em outra página da edição, a parte mais cultural da festa, com artigos assinados por intelectuais como Mário de Andrade e Aníbal Machado. Destaque para a ilustração de A. Albuquerque feita especialmente para o jornal, uma interpretação do frevo nas ruas do Recife.

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Não poderia faltar, também, o destaque para a cobertura de todos os dias da folia pelos veículos de comunicação dos Diários Associados. A vedete Sônia Mamede (com direito a foto de maiô), o humorista José Vasconcelos (caricatura) e Jackson do Pandeiro seriam atrações das revistas patrocinadas pelo grupo fundado por Assis Chateaubriand. Três caminhonetes equipadas com transmissores de rádio estariam circulando pela cidade para registrar os sons da festa, inclusive nos clubes. Vale lembrar que a TV só existia no Brasil há seis anos e um aparelho era ainda artigo de luxo. Festa boa mesmo era na rua. Ao vivo e a cores. Muitas.