Em Foco 0204

O tempo na política é diferente do cronológico: nele tudo pode envelhecer rapidamente, não existe o futuro distante e “o antes e o depois” estão sempre juntos. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta quinta-feira, por Vandeck Santiago. A imagem que ilustra a página é do repórter fotográfico Ricardo Fernandes.

Se 2018 fosse hoje

Vandeck Santiago  (texto)
Ricardo Fernandes  (foto)

Se 2018 fosse hoje, estariam criadas todas as condições para o surgimento de um candidato que simbolizasse a reação “contra tudo que está aí” – o que equivale a dizer: contra governo e oposição. Com uma desaprovação de inacreditáveis 64%, o governo Dilma Rousseff enfrenta uma situação desfavorável e sua eventual recuperação é uma incógnita. “É um erro dar como favas contadas que ela não terá como se recuperar”, diz o cientista político Marco Aurélio Nogueira. “Ficou mais difícil, mas não impossível”. Do outro lado, é ingenuidade supor que essa desaprovação toda esteja desaguando nos riachos da oposição – até porque não há apenas uma oposição, tem o Aécio Neves e o Geraldo Alckmin mas tem também o Ronaldo Caiado, para ficar em apenas uma comparação.
Se 2018 fosse hoje, a análise sobre a situação exigiria saber antes o que acontecera em 2016, nas eleições municipais. Costuma-se falar que as eleições para prefeito não interferem de forma decisiva na presidencial, mas esta sentença comporta nuances. Quando você olha para o resultado das eleições municipais e a presidencial, vê-se uma certa constante: partidos que saem fortes das primeiras se credenciam a nutrir aspirações otimistas na segunda.
Peguemos o exemplo de 2012: O PT e o PSB foram os partidos que mais ampliaram o número de prefeituras conquistadas. Os petistas passaram de 550 para 635, um crescimento de 14%, e ainda abocanharam cerca de 30% do eleitorado dos 83 municípios com mais de 200 mil eleitores (que têm segundo turno), incluindo a maior cidade do país, São Paulo. Já o PSB passou de 308 para 436, incluindo as capitais Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Cuiabá e Porto Velho, num aumento de 42%. O palanque presidencial do PSB começou a construir-se ali; e o do PT manteve-se sólido para a dura disputa que aconteceria dois anos depois. A eleição municipal pode até não ser decisiva para a presidencial (tem a variável do candidato a presidente, da situação econômica do país no momento do pleito etc.), mas não há dúvidas que ela é decisiva “para definir o tamanho das bancadas partidárias na Câmara de Deputados”, como mostra o ensaio Articulações intrapartidárias e desempenho eleitoral no Brasil, de George Avelino, Ciro Biderman e Leonardo Barone (aos interessados, o texto está disponível na internet).
Se 2018 fosse hoje, estaríamos conhecendo as condições da economia do país – em termos mais pragmáticos: como estaria o bolso do eleitor, a carteira profissional dele, a escola e os hospitais que ele e seus familiares utilizam, o otimismo dele em relação ao futuro, itens importantes na definição do seu voto. Saberíamos também se a insatisfação demonstrada nas ruas e nas panelas teria tomado corpo e virado um sentimento majoritário entre os brasileiros.
2018 não é hoje. 2016 também não. Mas sementes do que serão um e outro já estão sendo plantadas agora.