Em junho de 1992, o Rio de Janeiro tornou-se a capital mundial do meio ambiente. Para fazer a cobertura da Rio 92 e confirmar – ou não – que o mundo iria se acabar se o buraco de ozônio aumentasse cada vez mais, o Diario enviou uma grande equipe à cidade maravilhosa. Quatro repórteres [Catarina Lucrécia, Paulo Goethe, Ricardo Japiassu e Verônica Falcão] e um fotógrafo [Carlos Teixeira] tinham a tarefa de preencher diariamente duas páginas do jornal com as discussões e os bastidores do evento. Se no Riocentro era difícil ter acesso às autoridades, no Aterro do Flamengo a tarefa era até prazerosa. Podia-se esbarrar com a atriz Cássia Kiss em uma palestra sobre os benefícios da alimentação natural ou seguir o batuque de hare krishnas entusiasmados com a visita confirmada do Dalai Lama. Paiakan era acusado de estupro, mas defendido ardorosamente pelos ecologistas, e apetrechos enormes eram vendidos como a solução para a produção de energia caseira. O país, ainda governado por Fernando Collor  – que em plena semana de Rio 92 teve o irnão Pedro Collor jogando lama no ventilador –  não havia se rendido às garrafas pet e nem às sacolas plásticas do consumo desenfreado dos dias de hoje. Sustentabilidade não era um termo utilizado por políticos, muito menos pelos ativistas da área. A ordem geral era salvar a Amazônia. Entre os cientistas estrangeiros, poucos conheciam o Nordeste. Como jornalistas de Pernambuco, como se fazer notar na multidão de correspondentes internacionais, que depois de alertar os seus países da degradação ambiental, deleitavam-se no rodízio de carnes?

A estratégia foi dividir as equipes e buscar histórias interessantes. A participação dos representantes pernambucanos tinha divulgação garantida. Afinal de contas, falavam a nossa língua. Depois, a busca por experiências de outros países que pudessem ser aplicadas no estado. No mais, valia a busca de acordo com as preferências de cada repórter. No geral, foram dias de muita correria, disputa por táxi, textos digitados em máquinas de escrever  e enviados por fax do hotel à redação no Recife. Alguém teria que reescrever todo o material até ele ser impresso e chegar aos leitores. Uma verdadeira mão de obra. Sem internet, tínhamos que esperar  jornal chegar nas bancas do Rio para conferir o resultado. Era uma época em que editar uma página de jornal era ocupar espaços. Muitos textos e algumas imagens. Nada podia ficar em branco. Vendo aos olhos de hoje, a diagramação era bem poluída [trocadilho inevitável]. Mas para quem estava no front era a garantia de que o trabalho foi feito. Vinte anos depois, com menos cabelos e mais quilos [pelo menos a maioria da equipe], vemos novos correspondentes do Diario partindo para o Rio, para a cobertura da Rio+20. Saiu o buraco de ozônio, entrou a sustentabilidade. Saíram os Bush (pai e filho), entrou Obama, mas a perspectiva continua a mesma: os ricos não querem comprometimento e os emergentes não abrem mão do crescimento. Pelo menos os textos serão enviados por e-mail. Só não poderão mandar relatos longos porque a página precisará “respirar” [outro trocadilho inevitavelmente infame] e muito menos alguém culpar alguém da redação pelos erros que saírem. Boa sorte a Jailson da Paz e Ana Cláudia Dolores, os enviados 20 anos depois.