Geraldo Alckmin (PSDB) – governador de São Paulo

“Fica o grande legado para todos nós”

 

Rosália Rangel

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), conheceu Eduardo Campos quando o socialista comandava o Ministério da Ciência e Tecnologia, no primeiro mandato do ex-presidente Lula (PT). Um primeiro contato que não chegou a estreitar a relação de amizade entre os dois. A aproximação aconteceu mesmo no exercício do cargo de governador de seus respectivos estados. “Participamos vários eventos juntos. Aprendi muito com Eduardo Campos. Sua capacidade de trabalho. Era um gestor criativo, dedicado e com grande espírito público”, definiu Alckmin.

Em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o governador recebeu a reportagem do Diario. Na conversa falou do convívio com Eduardo Campos, das histórias bem-humoradas, do gestor, do político e das ideias do socialista para o país.

Geraldo Alckmin também falou do acidente aéreo que vitimou o ex-governador pernambucano, no dia 13 de agosto, em Santos, no litoral paulista. “Foi muito triste. Uma tragédia. Uma vida que estava se iniciando, que era muito promissora e que seria muito importante para o país. Fica o grande legado para todos nós”. Abaixo tópicos da entrevista com Geraldo Alckmin.

O primeiro contato
Eu o conheci como ministro, mas nos aproximamos como governador. Fomos colegas. Tinha grande apreço pelo Eduardo Campos. Depois nos aproximamos mais ainda através do Márcio França (vice-governador de São Paulo e presidente estadual do PSB/SP) quando ele saiu candidato a presidente da República. Eduardo Campos foi uma das grandes lideranças do Brasil. A gente sente muita saudade, muita falta dele nesse momento conturbado da política brasileira. Falta da sua sensatez, do seu espírito público e da sua grande capacidade de trabalho.

As ideias para o país
Tive uma grande identidade com Eduardo Campos porque ele sempre defendeu a justiça social, os mais pobres, o desenvolvimento, o crescimento do país para gerar empregos e oportunidades para a juventude. Acho que foi um exemplo e nós teremos os seus bons exemplos cotidianamente para nos orientar.

O legado
Ele deixa como legado a sua sensatez, a sua liderança, que não era imposta, era conquistada. A sua jovialidade. A capacidade de agregar. A capacidade de unir pessoas e o seu espírito público. Hoje nós vemos um grande corporativismo e o interesse coletivo órfão diariamente. Essa visão do coletivo. O espírito público dele faz muita falta.

A lembrança
Lembro de mil histórias que contava Eduardo Campos. Histórias de Pernambuco. Histórias do seu avô (Miguel Arraes). Histórias da política. Histórias do Brasil. Ele sempre tinha uma boa história para tornar mais leve a atividade política e para mostrar bons caminhos. O Eduardo Campos teve uma grande vida, embora curta e vai fazer muita falta ao Brasil.

Véspera do acidente
Este evento a que estava indo Eduardo Campos, eu tinha ido na véspera na abertura do encontro chamado Santos Export. Participei da abertura com o vice-presidente da República, Michel Temer. Aliás, o tempo estava bom na noite anterior. Mas no outro dia pela manhã, o tempo já estava muito encoberto na região, diferentemente do dia anterior.

O acidente
Estava no Anhembi em uma convenção, pela manhã, quando a Casa Militar me passou um bilhete de que havia ocorrido um acidente aéreo lá em Santos, na Baixada Santista. Depois passaram outro bilhete dizendo que havia a suspeita de que poderia ser da comitiva de Eduardo Campos. Eu saí imediatamente do Anhembi e fui para Santos. Conversei por telefone com Márcio França, que estava no local para esperá-lo (Eduardo Campos). Havia muitas dúvidas do que havia acontecido. Me lembro até que liguei para minha casa e falei com meu filho (piloto falecido Thomaz) sobre a tragédia e o que poderia ter ocorrido. E o meu filho falou: ‘olha papai, eu acho que não é (a aeronave de Eduardo) porque pela imagem que vi na televisão é um helicóptero e não um avião’. Na verdade, ele havia visto uma imagem errada mostrada na televisão que foi corrigida. E depois a notícia foi se confirmando.

O trabalho no IML
Ficamos vários dias nesse trabalho. Quero destacar o trabalho de uma equipe, 14 mulheres do Instituto Médico Legal e Medicina Científica na identificação dos corpos dos pilotos, de todos que participavam da comitiva e de Eduardo Campos. E me lembro que Geraldo Julio, prefeito do Recife, disse: ‘olha, Renata, esposa de Eduardo, disse que ele carregava algumas imagens junto com um cordão. Aí pedi ao prefeito de Santos (Alexandre Barbosa, do PSB) que vasculhasse o local e ele achou essas pequenas imagens. Levei no dia do enterro para Renata e ela me disse: ‘vou dar uma para cada filho de lembrança de Eduardo’.
Durante esses dias que levaram para fazer a identificação, eu acompanhava permanentemente. Toda noite ia ao IML para dar uma força para o pessoal da medicina científica do Instituto de Criminalística. Me lembro bem de estar sempre lá: João Lyra, que naquele momento era o governador de Pernambuco, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, Paulo Câmara, atual governador.

Último contato
A última vez que estive com ele, já como candidato, foi em um encontro em São Paulo, na casa de um amigo comum, o encontro já de campanha e a gente via o entusiasmo dele, o seu amor pelo Brasil, pelas pessoas, a capacidade de cativar as pessoas, pelas suas ideias, pelas suas propostas. Foi uma perda enorme para a política brasileira e de uma família extraordinária. Renata, seus filhos, a família maravilhosas a quem nós sempre dedicamos uma grande carinho.

Um ano sem Eduardo
Faz muita falta porque o Eduardo Campos representava liderança, liderança forjada no trabalho, forjada em princípios que é o que faz falta hoje no Brasil. Uma pessoa sensata, agregadora, que não abria mão de valores, mas que agregava, somava, sabia ouvir. Tinha experiência. Foi um grande governador de Pernambuco por duas legislaturas. Nós até conversamos muito sobre administração pública. Fez um grande trabalho na área educacional, para modelar Pernambuco na área da segurança pública. Pernambuco se destacou no Nordeste na redução de homicídios. Eduardo era um homem do investimento, do crescimento, emprego, preocupado com as gerações. É tudo isso que o Brasil precisa. O Brasil é um país vocacionado para crescer, um país de oportunidades e esse é o caminho melhorar a vida das pessoas. O papa João XXIII dizia que o desenvolvimento é o novo nome da paz. Não tem paz verdadeira se as pessoas não têm emprego, não tem oportunidade, não tem qualidade de vida. Eu sentia no Eduardo Campos esse compromisso, que a obra prima do estado é a felicidade das pessoas. Faz muita falta, mas fica para todos nós os seus exemplos de dedicação, de trabalho e de espírito público.