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Jamilli Batista, aluna de sax, e Zaira Gonçalves, que aprende a tocar tuba, passaram a ter um rendimento melhor na escola com a música. Fotos: Rafael Martins/DP

Jamilli Batista, aluna de sax, e Zaira Gonçalves, que aprende a tocar tuba, passaram a ter um rendimento melhor na escola com a música. Fotos: Rafael Martins/DP

Em harmonia com o compasso

Projeto musical da Escola Estadual Maestro Nelson Ferreira, em Engenho Maranguape, Paulista, estimula a criatividade e o talento de adolescentes

Desde a infância, a estudante Zaira Gonçalves, 17, tinha vontade de estudar música. O alto valor dos instrumentos e a ausência de cursos no bairro onde mora a afastaram do sonho durante um tempo. Anos depois, quando ingressou no ensino médio na Escola Estadual Maestro Nelson Ferreira, em Engenho Maranguape, Paulista, a adolescente encontrou a oportunidade que faltou quando era criança. O projeto musical da unidade de ensino, Juventude Dourada, que ensina música a alunos de 15 a 19 anos, resgatou o sonho de menina. Hoje, ela é clarinetista.

Além de assistir às aulas de música na escola onde estuda, Zaira passou na disputada seleção da Escola Técnica Estadual de Criatividade Musical, onde aprende a tocar tuba. Para ingressar no curso técnico, ela enfrentou uma concorrência de 12 candidatos por vaga. “Sempre gostei de música e tinha muita vontade de fazer um curso, mas não tinha oportunidade”, conta.

Segundo o professor responsável pelo projeto, Josué Silva, histórias como a de Zaira se repetem ano após ano desde que as aulas de música começaram na escola, há cerca de cinco anos. “Temos alunos em bandas militares, na Orquestra Sinfônica do Recife e cursando música no ensino superior”, orgulha-se.

Entre os benefícios de promover educação musical na escola, o professor maestro destaca que as habilidades musicais fazem os estudantes melhorarem o desempenho também em outras disciplinas. “Não fazemos o projeto para formar músicos. Isso eles procuram em outros espaços depois de serem despertados. Aqui, nosso objetivo é torná-los mais sensíveis. Eles desenvolvem habilidades auditivas que os fazem escutar e assimilar melhor as aulas”, pontua.

As aulas de música, em uma sala com isolamento acústico e repleta de instrumentos de sopro, corda e percussivos, são também um momento de lazer para os estudantes. “Aprendemos, mas também estamos nos divertindo. Amo música e aprendi a ouvir outros gêneros além dos que eu já ouvia. Agora, gosto de música clássica e ópera”, afirma a estudante do terceiro ano do ensino médio Jamilli Batista, 17, que está aprendendo a tocar saxofone.

“Muitos de nossos alunos residem em localidades com altos índices de violência e utilizam a música como um recurso para aliviar suas tensões”, destaca Josué.

Apesar de a lei federal 11.769, de 2008, estabelecer a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica, nem todas as escolas públicas do estado ofecerem o conteúdo no currículo. “Não há professores suficientes para essa implementação. O MEC (Ministério da Educação) vem investindo em capacitação para professores da educação básica, para reverter o quadro geral e sofrível das estatísticas baixas em termo de desempenho, em todas as áreas”, opinou a professora da Universidade Estadual de Londrina, Magali Oliveira.

“O papel do poder público não é apenas normativo, mas deve criar programas para habilitar professores para o ensino de música na educação básica, como está previsto pela legislação educacional”, enfatizou o professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), João Cardoso Palma Filho.

Um instrumento para poder ganhar o mundo

Josué Silva é responsável pelo Juventude Dourada

Josué Silva é responsável pelo Juventude Dourada

Os estudantes da rede estadual com habilidades em instrumento musical e canto podem estudar no exterior. O Ganhe o Mundo Musical, versão voltada para estudantes com talento em música do programa de intercâmbio do governo do estado, leva adolescentes para aprimorarem a aptidão em escolas de ensino médio em países como Estados Unidos e Canadá.

Além das aulas regulares, os alunos pernambucanos passam por treinamento prático de instrumento e/ou canto, aperfeiçoando seus conhecimentos sobre o universo da música.

Para participar do processo seletivo o estudante precisa ter no mínimo 14 anos e, no máximo, 17 anos. As inscrições para o edital do primeiro semestre de 2017 já foram encerradas, mas os estudantes da rede estadual que se enquadram no perfil do programa já podem se preparar para a próxima chance.

O processo seletivo do Ganhe o Mundo Musical é dividido em três etapas. A primeira consiste na análise dos requisitos exigidos para fazer o intercâmbio, como idade, série e notas.

A segunda fase da seleção é uma análise das gravações dos estudantes. Os candidatos devem gravar um vídeo de até três minutos (formato AVI ou MP4), que deve ser postado no YouTube (com boa qualidade de imagem e som). O link deve ser informado no formulário de inscrição.

Na terceira e última etapa, o candidato se submete a uma prova escrita com 10 questões sobre conhecimentos musicais e a uma audição no Conservatório Pernambucano de Música (CPM), parceiro da Secretaria Estadual de Educação na execução do programa.

A avaliação escrita tem questões que versam sobre pentagrama, notação musical, claves, compassos e alterações.

[ Nota a nota

1. A lei federal 11.769, de 2008, determina que a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a educação básica

2. A música ajuda na concentração e no
relaxamento dos estudantes

3. É uma das linguagens universais, que se traduz em diferentes formas sonoras, capazes de expressar e comunicar sensações e pensamentos

4. Habilidades e sentimentos são aflorados por meio da música

5. Desenvolve nos estudantes habilidades que o ajudarão a conhecer diversas culturas e a criar possibilidades de ação em busca de um mundo melhor