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Participantes do projeto de escola em Brasília Teimosa, voluntários e estudantes querem apoio financeiro para retomar ações neste semestre - Foto: BRENDA ALCANTARA/ESP DP

Participantes do projeto de escola em Brasília Teimosa, voluntários e estudantes querem apoio financeiro para retomar ações neste semestre – Foto: BRENDA ALCANTARA/ESP DP

Quando os alunos percebem que não estão sozinhos

Rendimento escolar em unidade da rede pública na Zona Sul do Recife melhorou depois que a comunidade entrou no circuito

A falta de disciplina de alunos da Escola de Referência em Ensino Médio João Bezerra, em Brasília Teimosa, chamou a atenção não só dos professores e da gestão da unidade. Quando ficaram sabendo da desmotivação dos estudantes, moradores do bairro da Zona Sul do Recife decidiram entrar na escola para levar estímulo aos adolescentes. De forma secreta, um grupo de 85 pessoas do entorno do colégio preparava surpresas para os alunos. Bilhetes anônimos eram deixados nas bancas. Os moradores ainda organizavam as salas de aula e espalhavam frases pelos corredores a fim de despertar a curiosidade dos estudantes.

Com as mensagens, os alunos começaram a prestar mais atenção às aulas e a respeitarem mais os colegas. Durante as férias de julho de 2014, os voluntários entraram na escola para capinar a área externa, organizar o jardim e deixar balões de festa nas salas de aula. Quando retomaram o ano letivo, os adolescentes encostraram uma “nova escola”. Durante os dias de aula, uma vez por semana, o grupo de moradores enviava um bolo – de chocolate, de baunilha ou de trigo – para uma sala de aula. “Eles ficavam instigados e, por causa das mensagens de estímulo, melhoraram o comportamento”, contou a pedagoga Socorro Andrade, 53, idealizadora do projeto que mora no bairro.

Quando a moradora apresentou o projeto à gestão da escola, a ideia foi prontamente aceita. Segundo a diretora da unidade de ensino, Viviane Gomes, os funcionários da João Bezerra abriram os portões para os moradores porque faz parte da filosofia da unidade integrar o espaço escolar ao comunitário. “A escola é também um espaço da comunidade. Os moradores investiram tempo e dinheiro para estimular nossos alunos. Não podíamos fechar as portas”, disse.

Há cerca de um ano, o projeto foi suspenso por falta de verba. Todos os materiais – bolos, bombons, balões, fitas – eram comprados pelos moradores. Sem dinheiro, eles deixaram de fazer as intervenções. “A escola é o berçário do amanhã. Fizemos tudo com muito prazer e gostaríamos de voltar, mas precisamos de incentivo financeiro”, lamentou a voluntária Luciliane Marques, 57. Para retomar o projeto, os moradores precisam de materiais como cola, cartolina, fita, além de caixas de chocolate e balões.

Os alunos da escola estão ansiosos pelo retorno do projeto. “Nossa rotina era chata. Quando acabava o fim de semana, eu ficava desanimado, pensando que teria que ir para a aula. Com o projeto, tudo mudou. Foi impactante. A gente tinha curiosidade e queria saber quem estava mandando aquelas mensagens”, lembrou o estudante Anderson Luiz, 17. Os autores dos bilhetes só foram apresentados às turmas numa confraternização de fim de ano, com um jantar promovido pela escola. “Saber que tinham pessoas, mesmo sem ganhar nada, preocupadas com nossa aprendizagem nos fez melhorar”, reconhece Mariana Crespo, 17 anos.

Cada carta anônima era esperada com ansiedade e os alunos agradeciam em conjunto enviando respostas

Cada carta anônima era esperada com ansiedade e os alunos agradeciam em conjunto enviando respostas

 

O incentivo em forma de palavras

“Passei um pouco da noite pensando no que falar para hoje. Aí pensei em falar de amor. Penso que amar é se doar sem ter uma finalidade lucrativa ou um retorno.” O trecho é de uma das cartas enviadas pelos moradores de Brasília Teimosa aos alunos da Escola João Bezerra. No rodapé do papel ofício, não aparecem os nomes dos que estavam por trás da iniciativa. A carta foi assinada apenas por “Fazer feliz”; nome que o grupo de voluntários recebeu dos alunos.

A chegada de um envelope na escola era motivo de alegria e emoção para os estudantes. “As cartas eram a melhor parte do projeto. Quando recebíamos o envelope, eu ficava ansioso querendo ler as mensagens”, conta o aluno Anderson Luiz, 17. Empolgados, os alunos da turma que que havia recebido a carta se juntavam para elaborar a resposta. “Queríamos agradecer todo aquele carinho gratuito. Como eles disseram na carta, era amor porque eles não recebiam dinheiro em troca. O que eles ganhavam era nosso amor de volta”, completa a estudante Mariana Crespo.

Viviane Gomes, gestora da escola, disse que a iniciativa teve um impacto positivo sobre a autoestima dos estudantes. “Eles se sentiram queridos e, ao perceberem que os moradores estavam ‘monitorando’ eles, mudaram as posturas diante de si, dos professores e da comunidade”, afirma. Trabalhar a autoestima dos estudantes ajudou os alunos a se sentirem mais seguros e confiantes para tomar decisões e para planejar o futuro profissional.

Integração

A comunidade contribui com a educação quando…

Compreende seu território

como uma grande sala de aula, na qual a educação acontece a toda hora e em todo lugar, como resultado de um esforço compartilhado por toda a comunidade

Participa da construção

e gestão do projeto político pedagógico de suas escolas

Integra as instâncias

de participação das escolas, como comitês escola comunidade, conselhos escolares e comissões de trabalho

Atua como protagonista

de processos educativos, compartilhando seus saberes, apoiando os professores na condução de atividades, relacionando os conteúdos acadêmicos com a cultura local

A escola promove a participação de todos quando…

Cria canais de escuta

para ouvir a comunidade sobre o que ela espera da escola e como pode agregar ideias ao processo de educação

Comunica-se frequentemente

com a comunidade, difundindo ações e convidando-a a participar, por meio de canais adequados

Investe na formação

dos gestores, coordenadores pedagógico e professores para que reconheçam a importância e saibam como promover a participação da comunidade na escola

Cria e/ou fortalece instâncias de participação

que envolvem a comunidade, como comitês de articulação escola-comunidade

Mapeia e participa dos movimentos sociais

em prol de melhorias para a própria comunidade

Promove espaços e ações

que favorecem a interação com a população local, inclusive abrindo a escola para atividades comunitárias

Fonte: Associação Cidade Escola Aprendiz