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Dona de mercadinho, Maria José dos Santos colaborou com projeto por acreditar na importância da educação - Foto: Peu Ricardo/DP

Dona de mercadinho, Maria José dos Santos colaborou com projeto por acreditar na importância da educação – Foto: Peu Ricardo/DP

Praticando o jogo da solidariedade

Alunos de escola estadual em Jaboatão dos Guararapes participaramde projeto onde o objetivo era arrecadar material e conhecer o lugar onde vivem

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas mudam o mundo.” A frase em um muro no bairro de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, resume o objetivo do projeto Festival das Nações, realizado pela Escola Estadual Pedro Barros Filho, localizada em Piedade. Tendo como mote os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, professores estimularam os alunos a desenvolverem o espírito esportivo e a solidariedade.

Para dar início ao projeto pedagógico, o professor de educação física Emerson Sobral encorajou os estudantes da escola – divididos em equipes – a percorrerem as ruas dos bairros de Jaboatão dos Guararapes com o propósito de arrecadar alimentos, materiais de limpeza e itens de higiene pessoal nas casas dos moradores dos bairros dos arredores da escola. Parte da estratégia era conversar com as pessoas que vivem na cidade e, assim, conhecer a realidade do local.

Depois de recolherem o material, os alunos tinham que, na segunda parte do projeto, entregá-los a instituições de caridade localizadas em Jaboatão. A escola funcionou, assim, como um elo entre a parcela da comunidade que podia doar e a que precisava receber os donativos. “O projeto uniu a comunidade escolar e os próprios alunos, mesmo com o clima de competição. A partir da Olimpíada, estimulamos a cooperação”, ressalta o professor de educação física.

Para os estudantes, a experiência foi marcante. “Pudemos conhecer as pessoas da vizinhança, por quem passamos todos dias nas ruas, mas com quem nunca havíamos conversado”, conta a estudante da turma que mais arrecadou itens, Maria Luiza Santos, 16. Uma das moradoras que os estudantes puderam conhecer melhor foi a dona de um mercadinho localizado nos arredores da escola, Maria José dos Santos, 51. “Eu não tive a oportunidade de estudar muito, mas meus filhos estudaram nessa escola. Formei uma filha recentemente e esse é o meu maior orgulho (a foto da formatura está exposta em uma das prateleiras do mercadinho). Faço questão de receber, conversar e ajudar os meninos”, diz.

Após as visitas às casas dos moradores da comunidade, os estudantes fizeram a entrega de mais de 3 mil itens recolhidos. A força-tarefa da escola conseguiu arrecadar 2.295 alimentos não perecíveis, 295 materiais de limpeza e 484 itens de higiene pessoal. Todas as doações foram entregues em cinco instituições do bairro. Os alunos da Pedro Barros Filho visitaram todas elas. Não apenas para entregar os donativos, mas para conhecer e se conectar com outras realidades do município. “Descobrimos um mundo até distante do nosso. Foi muito bom e gratificante participar desse contato com as pessoas da cidade, em situações tão distintas”, pontua Maria Luiza.

A comunidade dentro do ambiente escolar

A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, determinou que cada escola deve elaborar uma proposta pedagógica ouvindo todos os personagens que se interessam pelo sucesso da educação. A gestão democrática é uma prerrogativa garantida na lei, e estar presente na comunidade é um dos passos para isso acontecer. De acordo com especialistas ouvidos pelo Diario, trabalhar junto à comunidade não é fácil, porém indispensável. Vai além de sair dos muros da escola. É preciso também trazer a comunidade para dentro do ambiente escolar.

Para a socióloga e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Cibele Rodrigues, as comunidades devem ver a escola como um espaço democrático do bairro. “Muitas vezes, a comunidade não tem um cinema, uma praça ou um teatro. A escola acaba sendo a única área de fazer. Os moradores devem se apropriar desse espaço da melhor forma e com o incentivo da gestão escolar”, afirma.

Segundo a especialista, pesquisas indicam que quando as comunidades ocupam a escola – envolvendo-se em eventos, colaborando com projetos ou participando de oficinas, por exemplo -, a violência diminui no local. “Quando as escolas não dialogam com a comunidade, a incidência de roubos ou arrombamentos na unidade escolar é maior. Quando elas dialogam, há um sentimento de pertencimento e essas ocorrências diminuem”, pontua.

[ Raio X do Município:

“A partir da Olimpíada, o projeto uniu a comunidade escolar e os próprios alunos,mesmo com o clima de competição”
Emerson Sobral

professor de educação física

[ Participação

 

Gestão democrática na LDB:

Artigo 14:
“Os sistemas de ensino definirão as normas de estão do ensino público na educação básica. De acordo com as suas peculiaridades e de acordo com os seguintes princípios:

participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.”

escada

A LDB prevê…

… a participação dos profissionais da educação
(professores, especialistas e funcionários da escola) na elaboração do projeto pedagógico, de modo a que todos na comunidade escolar sintam-se co-autores da iniciativa e se comprometam e se empenhem em sua construção.

… a existência dos conselhos escolares.
Eles devem ser abertos à participação de todos os segmentos da comunidade: professores, direção, voluntários e lideranças comunitárias.Trata-se de assegurar a democracia no microcosmo da comunidade.

[ A escola e a cidade

RAIO X DA ESCOLA: