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Estudantes desenvolvem projeto que culmina no fim do ano letivo, com dramatizações e produções próprias - Foto: Shilton Araujo/DP

Estudantes desenvolvem projeto que culmina no fim do ano letivo, com dramatizações e produções próprias – Foto: Shilton Araujo/DP

Rompendo barreiras com ajuda do livro

Professora de língua portuguesa colocou a leitura no cotidiano de alunos de escola do Janga, em Paulista, através de rodas de conversa e tardes literárias

Quando a mãe decidiu voltar para o estado onde nasceu, Jhenefer Correia, então com 11 anos, resistiu. Sair de São Paulo para Pernambuco significava deixar todos os amigos de infância para trás. Ela sentia que acabaria perdendo os laços que criou desde os primeiros anos. A chegada ao estado da mãe foi traumática. Matriculada na Escola Professor José da Brasileiro Vilanova, no bairro do Janga, em Paulista, ela ficava isolada. A dificuldade para fazer novos amigos se intensificava a cada mês que passava e só foi solucionada quando a professora de língua portuguesa Cícera da Silva a apresentou ao projeto Ler Rompe Barreiras.

Autora do projeto de incentivo à leitura, Cícera convida anualmente os alunos das escolas onde ensina a participarem de rodas de conversa sobre livros indicados por ela e de tardes literárias com obras escolhidas pelos estudantes. Foi assim que Jhenefer começou não só a ler mais, mas a conversar com outros alunos. “Eu tinha muita dificuldade de interagir com os colegas e tenho que agradecer a professora pelo projeto. Hoje, tenho amigos na escola”, conta a estudante do 8º ano, de 14 anos.

“O objetivo principal do projeto é estimular o gosto pela leitura em alunos que, muitas vezes, não leem por prazer. No entanto, os resultados ultrapassam a meta principal. Como o próprio nome da ação revela, ler rompe barreiras. Rompe obstáculos relacionados à aprendizagem, à socialização e à autoestima”, pontua a professora.

A primeira fase do projeto acontece com a apresentação dele. Os alunos são convocados a participar da ação. Inicialmente, a professora indica um livro, de acordo com a faixa etária da turma. “Nesse primeiro momento, faço uma sugestão de leitura necessária, uma vez que existe uma série de livros indicados para que eles se deem bem em exames, como o Enem”, explica Cícera. Depois, os estudantes – do ensino fundamental ao médio – são estimulados a frequentarem um espaço que nem todos usam da escola: a Biblioteca Ariano Suassuna. “Nesse segundo momento, eles podem ler o que quiserem”, esclarece a professora.

A culminância do Ler Rompe Barreiras acontece no fim do ano letivo, com dramatizações e produções literárias relacionadas ao que os estudantes leram durante os meses de aula. “Eu lia no máximo um livro por ano, quando era obrigada pela escola. Agora, leio muito mais e, graças ao que a professora ensinou, sei identificar a ideia central e outras exigências da interpretação”, afirma Jhenefer, segurando Contos de amor, de Rubem Fonseca.

Ler ainda é um desafio no Brasil

Mestre mostra a alunos o valor da literatura para a vida - Foto: Shilton Araujo/DP

Mestre mostra a alunos o valor da literatura para a vida – Foto: Shilton Araujo/DP

Metade dos estudantes brasileiros (50,99%) está abaixo do nível de aprendizagem considerado adequado em leitura, de acordo com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgados em dezembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Esses alunos obtiveram uma pontuação que os coloca abaixo do nível 2, considerado adequado nas três áreas avaliadas pelo Pisa. Em habilidades relacionadas à leitura, apenas 0,14% alcançaram o nível máximo.

De acordo com a secretária executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, o nível 2 é considerado o “mínimo para a pessoa exercer a cidadania”. Na prática, o resultado do Brasil em leitura significa que metade dos estudantes não consegue reconhecer a ideia principal em um texto, interpretar dados ou identificar a questão principal em um projeto simples.

Os dados são relativos à prova aplicada em 2015. Ao todo, participaram da edição do ano passado 540 mil estudantes que, por amostragem, representam 29 milhões de alunos dos países participantes. No Brasil, participaram do exame internacional 23.141 estudantes de 841 escolas. O perfil da maior parte é de alunos matriculados no ensino médio (77%), na rede estadual (73,8%) e em escolas urbanas (95,4%).

[ Dicas para incentivar leitura

ANTES DA ALFABETIZAÇÃO

  1. É fundamental possibilitar à criança entrar em contato com os livros desde cedo. A criança pequena precisa brincar, manusear, tocar o livro. Hoje, as editoras oferecem uma infinidade de livros diferenciados com material apropriado para essa idade, como livros de plástico, com texturas diferentes, maleáveis e coloridos. É importante que os pais levem as crianças a bibliotecas, feiras de livros, bancas de jornais, espaços onde a criança possa ter contato com os livros.
  2. Perceber o interesse dos adultos em relação à leitura favorece o interesse da criança. Se os pais gostam de ler e têm esse hábito, o comportamento influencia a criança e contribui para que ela também desenvolva o gosto pela leitura.
  3. É essencial ler para as crianças. O interesse pela leitura começa nesse vínculo, nessa troca. A criança entra no universo das histórias, se envolve, se encanta e começa a desenvolver o desejo de se apropriar da leitura, de se tornar um leitor.
  4. Além de ler, é muito importante conversar com a criança sobre a história. Perguntar sobre o que ela entendeu, sobre qual personagem gostaria de ser, se ela daria um final diferente. Ler é muito mais do que decodificar, dar um som para letras, ler é construir sentido, é encontrar significado. Ao conversar sobre o que leu, a criança pensa, reflete, e desenvolve a sua capacidade de compreensão.

DURANTE A ALFABETIZAÇÃO

  1. Incentivar a leitura em conjunto: a criança lê uma parte e os pais, outra, até que ela tenha fluência para ler um livro inteiro sozinha.
  2. No início do aprendizado da leitura, oferecer livros com muitas imagens e pouca escrita e, aos poucos, ir aumentando a quantidade de escrita conforme o desenvolvimento da criança. Quando a criança tem um desafio para além do que está preparada, pode ficar desestimulada. É importante oferecer livros de acordo com a faixa etária da criança e com seu nível de leitura.
  3. Incentivar a criança a ler nos jornais temas do seu interesse. Existem cadernos especiais para as crianças.
  4. Estimular a leitura além dos livros, jornais e revistas. Chamar a atenção para placas e outdoors.

DEPOIS DA ALFABETIZAÇÃO

  1. Mesmo depois de a criança aprender a ler, os pais devem continuar lendo para ela, pois a troca afetiva no contato com os livros favorece o envolvimento com a leitura.
  2. É interessante estimular a criança a inventar histórias e criar os próprios livros.
  3. Incentivar a troca de livros entre amiguinhos, primos, vizinhos da criança para favorecer o contato com a diversidade de títulos.
  4. Familiarizar a criança com diferentes gêneros literários.
  5. Dosar o tempo de leitura para não sobrecarregar a criança e deixar sempre um gostinho de quero mais.

Fonte: Observatório Educacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI)