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Ruth gostou de discutir temas como cyberbullying e segurança na internet, tão presentes no meio estudantil. Fotos: Rafael Martins/DP

Ruth gostou de discutir temas como cyberbullying e segurança na internet, tão presentes no meio estudantil. Fotos: Rafael Martins/DP

Internet sem risco de reprovação

Campanha promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil (Seccional Pernambuco) busca orientar estudantes sobre o bom uso do universo online

Depois de passar a manhã e a tarde na Escola de Referência em Ensino Médio Dom Vital, a estudante do segundo ano Ruth Andrade, 15, fica boa parte da noite navegando por diferentes páginas da internet. Pelo celular, ela checa mensagens no WhatsApp, comenta publicações no Facebook, assiste a vídeos no Snapchat e posta fotos no Instagram. Por dia, passa cerca de três horas com o smartphone na mão. Procura se policiar para estudar, mas, muitas vezes, a tela brilhosa chama mais a atenção do que os livros.

Na internet, além de se distraírem, os adolescentes ficam expostos a perigos invisíveis. Para alertar os estudantes da rede estadual de ensino sobre os riscos online e para orientá-los sobre como estar no mundo digital de forma saudável, a Comissão de Direito da Tecnologia e da Informação (CDTI), da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Pernambuco (OAB-PE), está visitando as escolas do estado promovendo palestras com linguagem acessível e conteúdo educativo.

O primeiro evento do “tour” que a OAB vai fazer pelas escolas aconteceu este mês na Escola de Referência em Ensino Médio Dom Vital, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. A ideia é visitar as escolas localizadas no Recife e, depois, expandir o projeto para a Região Metropolitana e, em seguida, para o interior do estado. “Esses estudantes vivem o ambiente da internet. É onde eles constroem identidades e produzem conteúdo.

Muitas vezes, o ambiente escolar se transporta para o virtual e, no mundo digital, eles podem fazer amizades, mas também praticar o bullying online, fenômeno que chamamos de cyberbullying”, pontua o presidente da comissão. A ação é realizada em parceria com a associação Safernet; o grupo de Direito, Tecnologia e Efetivação da Tutela Jurisdicional (DTE), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e o Observatório da Juventude.

Protagonismo, nudes, cyberbullying, segurança digital, stalking (perseguição persistente) e governança são alguns dos temas abordados pela OAB nas escolas. “Gostei de poder debater esses temas, já que não temos tanta abertura para falar sobre esses assuntos em sala de aula. Tenho cuidados na internet, como não divulgar meu endereço ou rotina, mas é sempre bom aprender mais”, afirma Ruth.

Uma pesquisa da consultoria britânica GlobalWebIndex, que reúne dados do mundo digital, mostrou que o tempo que os brasileiros passam conectados à internet via smartphone triplicou entre 2012 e 2015.

De acordo com o levantamento, os internautas do Brasil passam cerca de três horas e 40 minutos diárias navegando por meio de dispositivos móveis. Em 2012, o estudo mostrou que esse tempo era de uma hora e 18 minutos.

O resultado coloca o Brasil em terceiro lugar mundial no ranking dos países com usuários que mais ficam online no celular. Tailândia (quatro horas) e Arábia Saudita (três horas e 48 minutos) ocupam o primeiro e segundo lugar, respectivamente.

A impressão digital de um aluno da rede pública

Matheus Oliveira usa celular para registrar vida escolar

Matheus Oliveira usa celular para registrar vida escolar

O dia a dia da Escola de Referência em Ensino Médio Dom Vital e as reflexões pessoais de um dos alunos, o estudante do segundo ano do ensino médio Matheus Oliveira, 18 anos, podem ser acompanhados pela internet. Com a ajuda de um amigo e usando um celular para captar as imagens, Matheus coloca a vida acadêmica e pessoal no YouTube, no canal Theus da Hora. Com cerca de 4 mil visualizações, os vídeos do adolescentes são assunto entre os alunos nos corredores da escola.

Em uma das postagens que mais receberam comentários e curtidas, Matheus fala sobre o preconceito que estudantes de escolas estaduais sofrem nas ruas do bairro de Casa Amarela.

“Certa vez, uns colegas foram até uma loja depois que largaram e foram tratados como criminosos só porque estavam com a farda do estado. Aquilo me chocou e decidi fazer o vídeo”, conta Matheus.

No vídeo, o estudante fala sobre a discriminação sofrida pelos jovens da rede estadual. “Meus colegas gostaram muito de ver nossos problemas e nosso dia a dia no canal”, diz.

O desfile da banda marcial da Escola Dom Vital, uma homenagem a uma professora de inglês e outros assuntos que estão na boca dos estudantes também apareceram nos vídeos do Theus da Hora.

“Os professores me apoiam e orientam sobre como posso melhorar. Evito temas muito polêmicos para não perder os espectadores. Além do mais, é o meu nome e a minha imagem em jogo”, afirma.

No evento sobre segurança na internet promovido pela OAB, Matheus foi um dos alunos mais participativos e que mais tirou dúvidas. Descobriu que pode ganhar dinheiro com o que faz na internet.

“São assuntos que nornalmente não conseguimos discutir em sala de aula, apesar de serem tão presentes em nossas vidas. Quero saber como posso fazer para lucrar com o que faço”, falou o estudante que deseja cursar jornalismo antes de descobrir como monetizar as visualizações de vídeos no YouTube.

Como instruir adolescentes a usarem a internet com segurança

A ONG Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR listou sete dicas para pais e professores orientarem filhos ou alunos sobre como usar a internet de forma segura.

1. Escolher senhas seguras para proteger o perfil. Não usar senhas fáceis, como nome ou data de nascimento e lembrar que ela é pessoal e não deve ser repassada para terceiros.

2. Ter os programas (softwares e antivírus) dos dispositivos (computador, tablet, smartphone ou notebook) sempre atualizados. Não usar programas piratas, pois a maior parte deles já vem com algum vírus.

3. Salvar em outro local ou deletar todas as fotos e arquivos pessoais quando enviar o celular para o conserto.

4. Limitar o acesso de pessoas desconhecidas ao que é postado na internet. Para isso, basta modificar as configurações de privacidade das redes sociais e aplicativos.

5. Não espalhar na rede o que não é verdade ou o que expõe os outros ao ridículo. Pensar bem antes de postar um comentário maldoso ou compartilhar algo que possa humilhar alguém.

6. Não postar informações pessoais, como endereço de casa e da escola, como também hábitos de passeios e viagens da família ou amigos.

7. Não criar perfis falsos. O que o adolescente pensa que pode ser uma simples brincadeira pode ser crime com punição prevista em lei.