Escolha uma Página

Vitor Hugo Oliveira e Maria Eduarda Souza participam na elaboração do informativo que tem periodicidade mensal - Foto: Peu Ricardo/DP

Vitor Hugo Oliveira e Maria Eduarda Souza participam na elaboração do informativo que tem periodicidade mensal – Foto: Peu Ricardo/DP

A boa notícia que vem da educação

Em Casa Amarela, estudantes da Escola Estadual Dom Bosco produzem um jornal que é distribuído entre eles, os pais e a própria comunidade

Na sala de aula do professor de português Valfrido Araújo, na Escola Estadual Dom Bosco, era raro encontrar um estudante que tinha o hábito de ler jornal. Conectados em computadores e smartphones, o papel parecia pouco atrativo para os estudantes da escola localizada no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife. A relação dos alunos com o jornal mudou depois que eles próprios começaram a produzir matérias, colunas e fotografias para serem publicadas em um periódico.

Desde outubro de 2011, o jornal Novas Ideias, publicação mensal editada pelo professor de língua portuguesa, transforma o contato de meninos e meninas entre 14 e 18 anos com o universo das palavras. “Eu cobrava que os alunos escrevessem redações, mas nem sempre eles se sentiam estimulados. Foi quando surgiu a oportunidade de editar um jornal escolar. Hoje, eles escrevem mais de um texto, se esforçam, leem mais só para verem seus nomes publicados no jornal”, conta o professor.

Dentro da programação normal da disciplina, Valfrido discute temas com os alunos, que são transformados em pautas para a edição do mês seguinte. “Proponho assuntos, mas boa parte do que sai no jornal é definido pelos próprios alunos. Eles costumam escolher temas atuais e questões relacionadas ao cotidiano escolar”, explica o professor. Publicado há cinco anos, o Novas Ideias está na 42ª edição e conta com seções fixas, como o expediente, uma enquete – “fala povo” – e perfil (a cada edição, a história de um aluno é retratada).

A impressão do jornal escolar é feita pela Editora Universitária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que apoia o projeto. A tiragem mensal é de 200 exemplares, que são distribuídos para estudantes, pais e professores. “No começo do projeto muitos estudantes recebiam o jornal e jogavam fora. Agora, a procura é grande, e eles ficam ansiosos para a chegada do jornal do mês”, recorda Valfrido.

O estudante do segundo ano do ensino médio Vitor Hugo Oliveira, 17, lembra com emoção da primeira vez que viu uma matéria escrita por ele publicada no jornal escolar. “A gente se esforça para fazer as melhores redações e ter o texto escolhido para o Novas Ideias. Depois do projeto comecei a ler mais os jornais impressos do estado”, revela. Leitor do Diario de Pernambuco, Vitor conta que a primeira seção do jornal que lê é o editorial. “É um texto dissertativo argumentativo, como é cobrado no Enem, então leio como um bom exemplo para construir meus próprios textos. Além disso, quero cursar direito. Tenho que saber argumentar”, diz.

[ Entrevista Adriana Santana // professora do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco

“São infinitas as formas de usar jornais na escola”

Foto: Paulo Paiva/DP

Foto: Paulo Paiva/DP

 

Como o gênero jornalístico pode ser trabalhado em sala de aula, com estudantes dos ensinos fundamental e médio?

O gênero jornalístico, apesar de ter semelhanças na forma com o literário, é demarcado pela informação; uma informação bem apurada, de qualidade, equilibrada e que tenta encontrar diversos prismas de um mesmo fato. É um gênero que tem uma bagagem da literatura, uma vez que do ponto de vista estilístico tem que ser bem escrito, mas com a característica principal de informar. Em sala de aula, são infinitas as formas de usar os jornais. Eu diria que vai desde a busca pela informação pura e simples, atividade que pode ser associada ao assunto de uma determinada disciplina, até o uso como fonte de pesquisa, seja com edições atuais ou em publicações antigas, que podem ser encontradas nos arquivos públicos. Outra forma legal de usar o jornal em sala de aula é mostrando os gêneros de escrita, já que o jornal apresenta vários subgêneros. A materialidade do jornal, o fato de ele existir fisicamente, facilita muito o trabalho do professor. Ele pode recortar e distribuir facilmente entre os alunos. É uma fonte que não precisa de recursos tecnológicos para ser usado.

Como os professores podem transformar as crianças e os jovens em produtores e leitores de jornal?

Essa é uma tarefa difícil,pois, como toda tarefa educacional exige constância, ou seja, é preciso apresentar o jornal frequentemente como fonte de informação. Devemos mostrar que o jornal pode ser usado para atividades diversas; que ele (o estudante) pode usá-lo, inclusive, para a leitura como lazer. É necessário afastar a ideia de que o jornal impresso é apenas uma fonte documental, ou seja, dissociá-lo da ideia de sisudez, que pode afastar um futuro público leitor.

Diante das tecnologias interativas, como atrair crianças e adolescentes para atividades com jornal? 

É preciso demarcar o jornal impresso como algo ainda muitíssimo importante e que não deve nada a outras mídias. O papel do jornal, além de informar, é apresentar os temas de maneira aprofundada, plural e com um histórico de confiabilidade grande. O jornal não precisa ser mostrado como algo que compete com a internet, mas como um produto com características próprias.

[ Produzindo um jornal na escola…

Ilustração: Samuca/DP

Ilustração: Samuca/DP

 

1º PASSO

Forme os professores
Caso o projeto seja proposto pela gestão ou coordenação da escola, é preciso formar os professores como multiplicadores da ação. Em sala, os docentes devem trabalhar diretamente com os alunos na produção do jornal.

2º PASSO:

Apresente o projeto à comunidade escolar
Avisos nos murais ou reuniões podem ser úteis para noticiar o projeto. Convoque a comunidade escolar a participar sugerindo pauta, sendo fonte de informações aos alunos ou doando jornais à escola.

3º PASSO:

Crie um conselho editorial
Convide estudantes, pais e professores para fazer parte do conselho editorial. O grupo deve discutir cronograma, periodicidade, seções, divisão de tarefas, circulação e distribuição do jornal.

4º PASSO:

Promova oficinas de leitura e escrita
A partir do planejamento traçado, os professores devem realizar atividades de produção de textos. É importante, antes de começar a escrita, conhecer os jornais, lendo edições e discutindo o gênero

5º PASSO:

Redação
Depois de conhecer as caraterísticas de um jornal, a turma deve ser dividida para que cada grupo fique responsável por uma seção (esportes, artes, colunas, etc.). Após a divisão, os alunos devem discutir, apurar e escrever a pautas.

6º PASSO:

Edição
Os “editores” do jornal escolar devem dar títulos às matérias, escolher as fotos e elaborar as legendas para as imagens. Em conjunto, os estudantes devem discutir os espaços para cada texto e foto.

7º PASSO:

Finalização
O material elaborado pelos alunos deve passar por uma revisão. O objetivo é de orientar a escrita final dos estudantes e verificar se o produto corresponde à meta traçada pelo conselho editorial.

8º PASSO:

Impressão e distribuição
Feita a revisão, encaminhe os arquivos gerados digitalmente a uma gráfica. Antes de o projeto começar, a escola pode procurar uma gráfica parceira. Em seguida a escola deve fazer a distribuição dos exemplares.

Fonte: Portal do Jornal Escolar