A dor e a delícia de uma sala de aula
Quando recebeu a notícia de que a Escola Costa Azevedo tinha alcançado o melhor resultado de 2014 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de Pernambuco (Idepe) entre as unidades de ensino médio do estado, a gestora do colégio, Lourdinha Dourado, soube imediatamente a quem agradecer. Foi à equipe de professores que ela dedicou a vitória. Para melhorar os resultados da escola nos índices de desempenho, o corpo docente investiu pesado em projetos pedagógicos interdisciplinares e na aproximação da escola com as famílias e os alunos.
Os estudantes da escola também fizeram questão de homenagear os “mestres” quando souberam da notícia. Para o professor de matemática Jaime Alvarez, 45, o reconhecimento da gestão e dos alunos é fundamental para continuar ensinando. “A dor está fora da sala de aula, com os problemas típicos da educação pública, mas a delícia está dentro dela”, enfatiza. Criado em Peixinhos, Olinda, bairro onde a Costa Azevedo está localizada, Jaime tem orgulho de fazer parte do êxito da escola. “É a minha segunda casa. Sempre que começo a dar aulas em uma turma peço licença para entrar. No fim do ano letivo, peço licença para sair, sabendo que fiz o meu melhor por eles”, conta.
Também integrante do time vitorioso da escola, a professora de língua portuguesa Lúcia Morais, 51, disse que ver o nome da Costa Azevedo no topo da lista de 2014 do Idepe foi a realização de um trabalho desenvolvido há muitos anos. “Saio de casa muitas vezes cansada, mas vivo para os meus alunos. Não importa o que esteja acontecendo do lado de fora, entro em sala de aula sempre com um sorriso no rosto. Isso já é meio caminho andado para uma boa aula”, diz a professora que chegou aos 27 anos de docência este ano.
Já a professora de matemática Jossely Pessoa, 36, atribuiu ao papel social da profissão a vontade de continuar em sala de aula. “Ser professor é instigar o aluno. É fazê-lo perceber que o mundo é grande e que eles podem sempre mais”, afirma. “Eles são muito divertidos e, mesmo quando estão cansados, o que infelizmente é comum na escola pública, sempre dão um jeito de nos motivar. No fim das contas, são os professores que fazem a diferença na educação”, destacou a estudante do terceiro ano do ensino médio Stephane Lira, 18, sobre o trio de professores que representou os 14 docentes da Costa Azevedo.
ENTENDA O IDEPE
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de Pernambuco considera a proficiência, ou seja, a aptidão dos estudantes em língua portuguesa e matemática, e o fluxo escolar dos três últimos anos no ensino fundamental e no último ano do ensino médio. O último índice de fluxo escolar da Costa Azevedo foi 0,79. Isso significa que a cada 100 alunos, 21 foram reprovados.
O risco da falta de renovação
Um levantamento feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), confirmou um dado preocupante e que influencia diretamente o desenvolvimento educacional do estado: o corpo docente das escolas municipais e estaduais de Pernambuco está envelhecendo.
O estudo Trabalho na Educação Básica em Pernambuco, do Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado), é de 2014. A pesquisa inédita revelou que 46% dos professores das redes municipais e estadual têm mais de 20 anos de carreira. Apenas 15% dos entrevistados tinham menos de 10 anos dentro na rede pública. Entre os funcionários de escolas, 51% dos entrevistados apresentaram tempo de atuação na educação acima de 20 anos.
O perfil sociodemográfico traçado pelos pesquisadores mostrou ainda que a categoria de trabalhadores em educação é composta em sua maioria por mulheres, sendo 82% entre os docentes e 75% funcionários. O estudo revelou também que a idade média dos docentes é de 40 anos e dos funcionários de escola 41 anos e seis meses.
Com relação à realidade socioeconômica dos docentes, 78% das mulheres entrevistadas informaram ser as principais provedoras de renda da família. No caso dos homens ouvidos pela pesquisa, a porcentagem chegou a 87%. Em relação à formação profissional dos docentes, a pesquisa apontou que 94% dos professores ouvidos informaram ser habilitados em pedagogia e/ou cursos de licenciatura. Além disso, 56% dos docentes disseram ter pós-graduação.
O perfil do trabalhador (características demográficas e socioeconômicas) foi o primeiro resultado apresentado pelo levantamento que avaliou 60 unidades educacionais em 17 municípios do estado, incluindo o Recife. O estudo foi realizado em escolas estaduais, municipais e creches. Foram ouvidas 1.591 pessoas, entre professores e funcionários das escolas.
A visão dos professores sobre a educação do Brasil
Em 2015, o Instituto Paulo Montenegro entrevistou professores do ensino fundamental e médio de escolas públicas de áreas urbanas do Brasil, incluindo cidades de Pernambuco. Veja os resultados:
Fonte: Fundação Lemann
Depois de entender o perfil dos professores, conheça a opinião deles sobre três temas:
em cada 10 professores ouvidos PARTICIPARAM DE FORMAÇÕES EM 2014
ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO
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acham que a secretaria de educação deveria dar apoio (psicológico e pedagógico) a mestres e alunos
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acham que a secretaria deveria dar apoio psicológico também às famílias
“Eu acho que deveria fazer parte da equipe gestora: um psicólogo, um assistente social e um psicopedagogo”
DEFASAGEM NA APRENDIZAGEM
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dos professores apontaram a defasagem de aprendizagem dos alunos em relação à série como o fator urgente
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dos professores citaram a dificuldade de fazer todos os alunos chegarem ao mesmo nível como o fator urgente
“Na mesma classe tem alunos avançados e alunos abaixo do básico. Então, como preparar uma aula? Como lidar com isso em sala de aula?”
FORMAÇÃO CONTINUADA
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dos professores afirmaram que o curso não contava pontos para progredir na carreira
“Eu fiz capacitação sem nenhuma remuneração todos os sábados por seis meses. É aí que entra a questão da valorização profissional. Como pessoa estou crescendo, mas para o estado eu sou um grão de arroz”