A escola representada em lição de democracia
Estudante pernambucana apresenta nova proposta política no Parlamento Juvenil do Mercosul
A estudante que saiu das bancas do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (Cap-UFPE) para o plenário da Câmara Federal e para o Parlamento Juvenil do Mercosul sonha com uma educação em que os alunos e as alunas tenham mais voz. Para Gabriela Calábria, 17 anos, falta mais protagonismo estudantil nas escolas brasileiras. Ela, que representa Pernambuco em projetos nacionais e internacionais, pleiteia uma ensino público mais democrático e que valorize a igualdade e os direitos humanos.
Essa é a luta que a aluna do Colégio de Aplicação vai levar ao Parlamento Juvenil do Mercosul. Ela foi escolhida, após uma disputa com estudantes da rede pública de Pernambuco, por seu projeto sobre voluntariado nas escolas, que propõe fomentar a interação entre instituições de ensino e comunidades que as cercam. “O protagonismo juvenil é uma força que muitas vezes fica esquecida. Os jovens se afastam da política e acabam por não adquirir o devido protagonismo, talvez por causa do estigma criado pelos nossos representantes, que colocam o partidarismo à frente dos interesses públicos”, analisa.
Gabriela está no terceiro ano do ensino médio e quer cursar direito no próximo ano. Pretende se especializar em direito internacional e atuar como diplomata ou em causas humanitárias. Ela e outros 26 brasileiros foram selecionados em novembro do ano passado para um mandato de dois anos na quarta edição do Parlamento Juvenil do Mercosul, que tem representação em todos os países que compõem o bloco econômico. Em setembro, todos se reunirão em Montevidéu, no Uruguai, para discutir melhorias na educação da América do Sul.
Antes da experiência internacional, Gabriela já havia conquistado outro mandato. Foi escolhida, também em 2016, a parlamentar jovem que representou Pernambuco na Câmara Federal. Passou uma semana em Brasília, vivendo uma vida de deputada. “Com todas as regalias que os parlamentares têm, inclusive. A partir da experiência, pude perceber como elas são dispensáveis”, afirma. Durante os cinco dias que passou na capital federal, a estudante ajudou a criar leis que pudessem ser apreciadas pelos deputados posteriormente.
“Fiz parte da Comissão de Turismo, Esporte e Lazer. Lá, discutimos projetos, avaliamos a constitucionalidade deles e participamos de votações. As sessões passavam ao vivo pela TV Câmara”, conta. Parentes e amigos acompanharam orgulhosos pela televisão o desempenho da pernambucana, que foi eleita líder do Partido do Desenvolvimento Educacional. De longe, colegas, professores e familiares viam que, ao menos no que depender da representante pernambucana, o país pode ter um bom futuro.
Voluntariado foi a bandeira do projeto selecionado
Com o objetivo de estimular a prática de ações humanitárias que beneficiem comunidades localizadas nos arredores de escolas e para aumentar o envolvimento de estudantes em temas sociais, Gabriela Calábria criou o Projeto de Envolvimento e Ação Comunitária Estudantil (Peace, sigla que faz um trocadilho com a palavra paz em inglês). O plano de ação elaborado pela estudante do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (Cap-UFPE) foi o escolhido entre centenas de projetos enviados de todo o país. A ideia fez com que a aluna se tornasse a representante de Pernambuco no Parlamento Juvenil do Mercosul.
Para conquistar a vaga, Gabriela escreveu, em uma semana, o projeto que propõe a criação de um núcleo de voluntariado em escolas públicas para intervenção em comunidades. De acordo com o documento de sete páginas, a ação tem como objetivos criar grupos de voluntários nas escolas envolvidas; analisar as comunidades que cercam as unidades de ensino participantes e estabelecer um plano de metas de intervenções nas localidades observadas. “O projeto estará sempre interligado ao conteúdo programático lecionado em classe, estabelecendo uma forte e importante conexão entre as esferas teórica e prática, pois, além dos benefícios sociais, almeja proporcionar aos estudantes conhecimentos nas mais diversas áreas do ensino, relacionando estudos filosóficos, históricos e sociológicos à vida cotidiana”, pontua a estudante no plano de ação.
O primeiro passo para a implementação do projeto foi dado. Gabriela entrou em contato com estudantes de vários estados para divulgar a ideia, a fim de que mais escolas se envolvam na ação. Pela internet, estão sendo dadas as instruções aos coordenadores estaduais sobre o projeto. A próxima etapa será instruir os professores orientadores e supervisores responsáveis por cada núcleo. “A execução de fato deve acontecer apenas no próximo ano, quando serão realizados os estudos sobre os problemas comunitários onde vamos intervir e com o estabelecimento do plano de metas de cada núcleo escolar”, explica.
Parlamento Juvenil Mercosul
Quem pode participar:
Estudantes de escolas públicas que estejam matriculados (as) e frequentando regularmente o primeiro ou o segundo ano do ensino médio regular ou ensino técnico integrado ao ensino médio;
Ter boa atuação escolar (frequência, conduta e rendimento);
Adaptar-se facilmente à convivência com jovens de diferentes culturas e crenças religiosas;
Ter disponibilidade e autorização dos pais para realizar viagens nacionais e internacionais, todas acompanhadas pelo Ministério da Educação (MEC).
A próxima seleção acontece em 2018. Como funciona o programa:
1 - Escolha
Candidatos elaboram propostas que abordam as necessidades e anseios comuns no âmbito do Mercosul. A edição atual do Parlamento Juvenil teve como tema O ensino médio que queremos.
2 - Proposta
Quatro propostas de candidatos são selecionadas pelas secretarias estaduais ou instituições da rede federal de ensino profissional, científico e tecnológico.
3 - Seleção
Após a etapa estadual, 108 candidatos (quatro por unidade da federação) concorrem a uma vaga de parlamentar juvenil do Mercosul.
4 - Candidatos
Os perfis dos quatro candidatos por estado são publicados no site www.pjm.mec.gov.br. Os projetos de cada um deles ficam disponíveis para consulta pública.
5 - Votação
Depois de oito dias de votação (para votar era preciso fazer um cadastro no site), a consulta pública
foi encerrada em 7 de novembro do ano passado. O site registrou 32.310 votos de todo o país.
6 - Participação
Os jovens parlamentares escolhidos discutem sobre temas vinculados à educação, como inclusão, participação cidadã, direitos humanos, diversidade de raça, etnia e gênero, integração regional e trabalho.
7 - Reunião
Gabriela e outros 26 brasileiros foram selecionados para um mandato de dois anos. Eles se reunirão com representantes da Argentina, Uruguai e Paraguai em setembro.
Fonte: Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM)