A força educadora do colete laranja
Parentes de alunos de escola estadual em Petrolina se mobilizam para melhorar rendimento de quem vê na família um exemplo de aprendizado de vida
Quando precisam de ajuda, os estudantes da Escola Estadual Eneide Coelho Cavalcanti, em Petrolina, Sertão do estado, sabem que podem contar não só com os professores e as diretoras. Para auxiliar os alunos na hora da merenda, em relação à disciplina e na hora de fazer atividades, pais e parentes de estudantes se colocam à disposição da comunidade escolar. São voluntários que ajudam os professores no processo de educação não só dos filhos, mas de todos que frequentam a escola. Enquanto usam o colete laranja com a pergunta “posso ajudar?”, deixam de ser pai, mãe, tio e madrinha de um aluno específico para ser o responsável por meninos e meninas que nunca viram.
O objetivo do recrutamento de pais e responsáveis como voluntários, de acordo com a gestora da escola, Jussiclécia Alencar, é unir forças na hora de colaborar na disciplina e melhoria do rendimento escolar dos filhos. “A parceria escola-família tem tudo para dar certo. Com esse projeto, pretendemos aumentar a interação entre esses agentes, buscando a transformação dos educandos na disciplina, rendimento escolar, valores e afetividade”, ressaltou.
A ação, que teve início em julho de 2016, conta com nove voluntários. O auxiliar de pedreiro Allinson Silva, 25, é um deles. Tio do aluno do sexto ano (antiga quinta série) Henrique Cássio, 13 anos, decidiu se voluntariar no projeto para mudar a relação do sobrinho com a escola. O pai do menino mora em Goiás. A mãe foi assassinada. Sem acompanhamento escolar dos pais, Henrique não se concentrava nas aulas, e os professores se queixavam do mau comportamento dele. “Senti que precisava fazer algo. Vim motivado a ajudar meu sobrinho, mas estou à disposição de todos os alunos”, conta.
Na avaliação da gestora escolar, a mudança de comportamento dos alunos que veem um parente na escola é imediata. “Eles se sentem importantes e valorizados quando percebem que a família se importa e está aqui conosco”, ressalta Jussiclécia. Foi o que aconteceu com Anderson Gabriel, 13 anos. Com frequência, os professores chamavam a família para informar sobre a falta de disciplina do aluno. O boletim era repleto de notas vermelhas.
“Decidi ajudar porque a mãe dele passa o dia trabalhando. Eu colocava ele para dentro da sala de aula. Passava um turno duas vezes por semana na escola e foi o suficiente para as notas melhorarem e o bom comportamento aparecer”, diz a madrinha do aluno, a trabalhadora rural Rita de Cássia Souza, 36. Agora, Anderson exibe com orgulho o boletim com notas acima de sete.
[ Cinco atitudes para se envolver mais na educação dos seus filhos
1. Valorizar os professores, a aprendizagem e o conhecimento
Pais e familiares devem demonstrar que valorizam e respeitam o trabalho dos professores e de toda a equipe escolar, perguntando o que está aprendendo e observando se a criança ou jovem está estimulado pelas propostas pedagógicas
2. Promover as habilidades importantes para a vida e para a escola
Em casa, deve ser estimulada a disciplina com horários e a promoção de atividades que exijam concentração, como jogos, contação de história ou atividades que possam ampliar o universo linguístico, como conversar e perguntar, ouvir e cantar músicas junto
3. Colocar a educação escolar no dia a dia
A ideia é que as famílias, independentemente da sua escolaridade, e a comunidade consigam ajudar as crianças ou os jovens a entenderem a educação como um bem necessário para o seu desenvolvimento integral
4. Apoiar o projeto de vida e o protagonismo dos alunos
É importante que pais e familiares acreditem no potencial das crianças e dos jovens – pois a confiança e a motivação são os motores do sucesso -, demonstrem interesse pelas aptidões e tendências das crianças e dos jovens, por exemplo, valorizando suas ideias e feitos
5. Ampliar o repertório cultural e esportivo das crianças e dos jovens
Famílias e comunidades devem buscar e aproveitar atividades e espaços que possam ampliar o repertório cultural e esportivo das crianças e jovens e contribuir para a ampliação da sua formação cidadã
Fonte: Todos pela Educação
[ Família e escola
Em 2014, o Todos Pela Educação – um movimento da sociedade brasileira que tem como objetivo engajar o poder público e a sociedade no compromisso pela efetivação do direito a uma educação básica de qualidade – mapeou tipos de envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos. O levantamento mostrou que quanto mais participativos são os pais, melhor é o desempenho da criança. Confira os perfis:
1. Pais ativistas
São os pais ou responsáveis que adotam a educação como uma causa. São mais envolvidos com a vida dos filhos em vários aspectos e não só na questão escolar. Muitos pararam de trabalhar para acompanhar de perto a vida dos filhos. Convidam os colegas do filho para estudar em casa, vão diariamente à escola, não perdem uma reunião e participam de projetos voluntários.
2. Pais envolvidos
Estão bastante ligados à vida escolar do filho e veem os professores como cúmplices. Cumprem com todos os papéis que lhes são atribuídos, como acompanhar os bilhetes, frequentar as reuniões, conferir as lições de casa, conversar com os professores. Sabem que a relação de proximidade com a escola ajudam o filho a ter melhor desempenho.
3. Pais vinculados
São aqueles que mantêm vínculo com a escola, mas o elo é fraco. Só aparecem na escola quando são chamados individualmente, não têm noção do acompanhamento escolar de perto e não conversam sobre o dia a dia na escola com os filhos. Não sentam junto para estudar e só perguntam eventualmente sobre as lições de casa. Em linhas gerais, são ausentes.
4. Pais distantes
Geralmente, trabalham muito e não fazem questão de acompanhar de perto a vida escolar do filho. Passam pouco tempo em casa e não conversam com as crianças e/ou adolescentes. O vínculo afetivo com os filhos é baixo, pois não há diálogo, carinho ou sentimento de proteção. A presença na escola é rara. Muitas vezes, quando vão a uma reunião, dormem ou saem mais cedo.