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Adson Tavares, Lucas Silva, Victor Morais e Mateus Matos apresentam telescópio robotizado desenvolvido por eles - Foto: Rafael Martins/DP

Adson Tavares, Lucas Silva, Victor Morais e Mateus Matos apresentam telescópio robotizado desenvolvido por eles – Foto: Rafael Martins/DP

A fórmula da ciência como diversão

Graças à introdução da robótica no currículo, alunos de escola pública desenvolveram protótipo que faz coleta seletiva e telescópio de grande precisão

As aulas do professor de química, biologia e robótica da Escola de Referência em Ensino Médio Senador Paulo Pessoa Guerra, Fernando Quadros, são as mais esperadas por um grupo de adolescentes que se tornam montadores de robôs enquanto aprendem noções de ecologia, evolução, força e potência. A inserção da robótica como ferramenta pedagógica na escola localizada no bairro de Tejipió, Zona Oeste do Recife, transformou a relação dos alunos com cálculos matemáticos e fórmulas de física. Agora, tudo é diversão.

Os frutos da aposta na robótica como aliada à educação já apareceram. Na manhã de hoje, três alunos e o professor embarcam para o Rio de Janeiro, onde vão participar da Jornada de Foguetes de Barra do Piraí. “A robótica tem dado muitas oportunidades a esses meninos. As vantagens vão desde a aprendizagem de conteúdos teóricos e práticos até a melhoria na autoestima e a chance de conviver com outras pessoas, outros contextos, como acontecerá nesta viagem”, destaca o professor.

Além da presença em eventos nacionais de robótica, a escola acumula conquistas na área. “De 2007 a 2015, garantimos 120 medalhas em olimpíadas estaduais, regionais e nacionais. Nossa próxima meta é participar de competições internacionais”, afirma Fernando.

Até ser apresentado à robótica na escola, o estudante Carlos Henrique Alves, 17 anos, não sabia como um robô funcionava. Via as máquinas em filmes, mas jamais havia imaginado construir uma. Depois do contato com as noções apresentadas em sala de aula, o aluno do terceiro ano do ensino médio idealizou a construção de um robô que faz coleta seletiva e compostagem. “Construímos o protótipo em equipe e pretendemos fazer uma versão maior para colocar o robô a serviço da nossa horta escolar”, revela.

Adson Braga, Estevão Santos, Joao Leão e Carlos Silva - Foto: Rafael Martins/DP

Adson Braga, Estevão Santos, Joao Leão e Carlos Silva – Foto: Rafael Martins/DP

Além do autômato ecológico, os estudantes da Paulo Guerra desenvolveram um robô telescópio. A máquina é capaz de, a partir dos comandos dos alunos, identificar corpos celestes. “O telescópio robotizado é de grande precisão. O controle automatizado dá a ele um rigor maior do que se fosse manipulado por humanos. Basta colocar no Google Sky Map (aplicativo onde o usuário pode explorar o cosmo) o dado sobre o planeta, a constelação ou outro objeto celeste para visualizá-lo”, explica o estudante Adson Tavares, 19 anos.

Tanto o telescópio como o robô coletor funcionam como protótipos e aguardam financiamento para serem desenvolvidos em versões ampliadas. “Se conseguirmos desenvolver os projetos, o robô ecológico, por exemplo, terá capacidade para coletar objetos maiores e não só resíduos pequenos, como acontece hoje”, diz o professor.

[ Entrevista Patricia Smith // pedagoga e professora do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da UFPE

 

“Inserção no cotidiano escolar precisa ser consolidada”

Por que investir em robótica como ferramenta educativa?
A robótica pode ter várias aplicações no campo da educação e da aprendizagem do aluno. Por um lado, ela se encontra dentro do campo da tecnologia educacional. Isto é, a robótica opera com ferramentas tecnológicas e/ou procedimentos de desenvolvimento e uso de tecnologias, que podem ser concebidos, aplicados e avaliados dentro da escola, a fim de promover a aprendizagem. Dessa forma, ela pode ser usada para aprender processos de construção de produtos robóticos simples, habilidades, atitudes e valores relacionados ao planejamento e execução de tarefas em grupo, pesquisa e investigação de soluções simples para os problemas encontrados nos robôs criados. Por outro lado, a robótica é uma ciência que envolve diversas áreas do conhecimento, como a mecânica, a eletrônica, a computação, a física e a matemática. Assim, é possível aprender conceitos dessas áreas de forma contextualizada através da compreensão do funcionamento de equipamentos elétricos e eletrônicos. Ou seja, a interação entre as disciplinas regulares do currículo da escola e as aulas de robótica pode proporcionar uma aprendizagem onde se aplique os conceitos na prática.

Em que a educação pernambucana ainda precisa avançar quando o assunto é robótica?
Ainda precisamos melhorar nos quesitos acesso, formação docente e integração da robótica com o plano de aula dos professores. Quanto ao acesso, é possível perceber que nem todas as escolas participam de programas de robótica, especialmente as estaduais. Com relação à formação docente, apesar de haver algumas iniciativas nesse sentido, a maioria dos professores ainda não tem segurança em usar a robótica em sala de aula. Precisamos de mais formações. Sobre a integração da robótica ao plano de aulas regulares dos docentes, é preciso que a inserção da robótica no cotidiano da escola, articulando com as disciplinas curriculares, ainda precisa ser consolidada.

Qual a idade indicada para começar a trabalhar as noções de robótica?
No campo educacional existem basicamente dois tipos de kits robóticos: os kits onde os protótipos são pré-determinados, como os da Lego, e outros em que podem ser criados diversos protótipos a partir do interesse do aluno, como os da plataforma Robô Livre. Existem kits da Lego, por exemplo, a a partir da educação infantil. O professor deve adequar os projetos à idade e à possibilidade cognitiva dos alunos, prestando atenção à segurança no uso dos kits, às estratégias didáticas de inserção nas aulas e ao apoio necessário do professor.

[ Fique ligado

10 motivos para usar a robótica em sala de aula:

1. Demonstração prática de conceitos científicos

Vários conteúdos podem ser detalhados com a robótica. O aluno manuseia, constrói, vê as ocorrências. Se o aluno estiver aprendendo noções de força,movimento e aceleração, poderá ver o que isso realmente significa.

2. Desenvolvimento das habilidades mentais

O aluno é incentivado a usar o raciocínio lógico, a atenção, o poder de concentração e a observação, uma vez que é exigida atitude sobre a construção.Questões para chegar a um objetivo estimulam raciocínio.

3. Desafio de criar e ser flexível

O estudante é desafiado a criar. Ele terá de encontrar soluções para os problemas que surgem a aula, desde aqueles de ordem prática aos mais complexos, como qual é a estrutura adequada para suportar o balanço de uma gangorra, por exemplo.

4. Aprimoramento da coordenação motora e manual

O aluno trabalha com as mãos e os olhos o tempo inteiro. São dezenas de peças separadas por tamanho, cor e função. Para chegar a essa classificação, ele tem de desenvolver um método de organização.

5. Incentivo às capacidades de projetar e planejar

Antes de realizar um projeto, é preciso definir o que se pretende alcançar, selecionar o material necessário e pensar nas condições para a realização, levando em conta tempo, espaço e recursos disponíveis.

6. Interesse pela imaginação

Os projetos da aula de robótica podem ser criados a partir das ideias e histórias dos alunos. Se um aluno montou algo parecido com uma montanha russa, por exemplo, pode ser o suficiente para o grupo criar um parque de diversões.

7. Aprendizagem em trabalhar em equipe

Com a robótica, o aluno é incentivado a trocar experiências.Os projetos são quase sempre realizados em pequenos grupos, fortalecendo as relações interpessoais, o respeito ao trabalho e às ideias do outro, bem como a cooperação.

8. Entendimento dos próprios limites

O aluno aprende a testar os próprios limites, a conviver com as diferenças e a aprender com elas. Ao transmitir confiança em si mesmo, o professor ajuda o aluno a lidar com os desafios inerentes ao processo de construção dos projetos.

9. O valor da paciência e da disciplina

O projeto de robótica é normalmente pensado em fases que exigem tarefas resolvidas uma após a outra. Faz-se necessário ter, portanto, ter disciplina e entender que não se deve pular etapas na construção dos projetos.

10. Desenvolvimento dameta cognição

O aluno ganha a percepção do próprio processo de aprendizagem (metacognição). Orientado, ele consegue perceber os grandes desafios, assim como caminhos e recursos que tem à disposição para ter êxito nas tarefas.