Escolha uma Página

Professor Jozeildo viu avanços em matemática. Abaixo, Lucas José Silva e Bruna Mesquita: química e biologia - Foto: Igo Bione/DP

Professor Jozeildo viu avanços em matemática. Abaixo, Lucas José Silva e Bruna Mesquita: química e biologia – Foto: Igo Bione/DP

Aprender é questão de monitorar

Projeto implantado em escola de Orobó, no Agreste pernambucano, ajudou unidade a figurar no topo do ranking estadual em 2015

Quando se depara com uma questão mais difícil de resolver, não é ao professor que Maria Joana da Silva, estudante de 14 anos da Escola de Referência em Ensino Médio Abílio de Souza Barbosa, recorre. As dúvidas que surgem após a aula ou ao fazer os exercícios são discutidas com o colega de classe Lucas Lins, 14. A interação entre os alunos acontece na unidade de ensino localizada em Orobó, Agreste do estado, graças ao projeto Aluno Monitor. Por meio dele, estudantes com maior facilidade em disciplinas como matemática, português, física e biologia se tornam orientadores dos que têm maior dificuldade.

É ao projeto de monitoria da escola que a gestão da Abílio de Souza atribui os bons resultados conquistados nos últimos anos. Em setembro, o governo do estado divulgou os nomes das escolas com os melhores desempenhos da rede. A escola de Orobó – que tem 58 anos de funcionamento e formou várias gerações de moradores da cidade – estava no topo da lista. Com a nota 7.98, a instituição ficou em primeiro entre as escolas de ensino médio e teve a maior nota geral do estado. “Um bom resultado nunca é fruto de ações a curto prazo. Para alcançarmos um desempenho como esse, foram anos de trabalho, e o projeto de monitoria mudou nossa realidade escolar”, pontuou a gestora da escola, Lúcia Duarte.

Hoje, as 13 turmas da escola contam com atividades de monitoria. Cerca de cinco alunos por sala são selecionados a partir do desempenho nas provas e pelo bom comportamento para serem monitores. “Temos a responsabilidade de acompanhar nossos colegas nas disciplinas que a turma tem mais dificuldade. Ao contrário do que se pensa, os monitores aprendem tanto quanto os outros alunos. Quando eles têm dúvidas e não sabemos responder, levamos ao professor”, contou o estudante José Lucas Lima, 16, monitor de química e biologia. “Fico mais à vontade de tirar dúvidas com os monitores do que com o professor. Nossa troca é muito boa. Todos aprendem”, disse Luana Silva, 16.

O professor de matemática Jozeildo Silva observou um salto no desempenho dos estudantes na disciplina que era vista como “bicho-papão” pelas turmas. “Os alunos não veem a monitoria como uma obrigação. Tornou-se algo muito natural para eles. Sozinho, o professor não consegue acompanhar de perto todos os alunos. Os monitores acabam sendo multiplicadores de conhecimento”, ressaltou.

De acordo com a professora do curso de pedagogia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Maria do Carmo Motta, a monitoria aluno-aluno é uma ferramenta pedagógica importante, mas ainda rara nas instituições de educação básica, para melhorar a aprendizagem. “A colaboração entre estudantes é muito importante porque o colega fala a linguagem dele, no nível dele. Os monitores conseguem apresentam situações e exemplos que são comuns e conhecidas por todos, uma vez que nem sempre o professor consegue contextualizar para o aluno da melhor forma”, destacou.

Mudança só vale se for para a escola toda

Lucas Lins ajuda a colega Maria Joana Silva em exercícios após as aulas - Foto: Igo Bione/DP

Lucas Lins ajuda a colega Maria Joana Silva em exercícios após as aulas – Foto: Igo Bione/DP

Grupos de estudo, clube de leitura, aulas de robótica e estímulo à participação no programa de intercâmbio Ganhe o Mundo. Para os alunos da Escola de Referência em Ensino Médio Abílio de Souza Barbosa, os motivos para o local onde eles passam a maior parte do dia ser um sucesso são muitos. O destaque da unidade de ensino no Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (Idepe) de 2015 ainda é comemorado na escola.

Segundo a gestora, Lúcia Duarte, a escola atingiu o melhor resultado da rede depois de uma longa avaliação interna. “Em 2013, não conseguimos atingir as metas que contam nesses índices. Percebemos que só estávamos preparando as turmas de terceiro ano (do ensino médio) e que esse caminho não era o melhor. Passamos, então, a preparar todos os alunos, desde o primeiro ano do ensino médio para as avaliações externas”, lembrou.

A escola começou a trabalhar com as competências necessárias para as avaliações de diagnóstico de larga escala aplicadas pelo Ministério da Educação (MEC). “Para essas provas, são exigidas competências como identificar a ideia central do texto; saber diferenciar fato de opinião e resolver problemas que envolvam porcentagem, por exemplo. Começamos a trabalhar todas as competências exigidas nessas avaliações externas com o apoio dos grupos de monitoria e obtivemos sucesso”, afirmou..

Monitoria aluno-aluno na escola

1. Planeje a ação

Elabore um planejamento da atividade, incluindo a monitoria no projeto político-pedagógico da escola. Priorize disciplinas com maiores taxas de reprovação ou que os estudantes apresentem maior dificuldade.

2. Convide professores

Caso a decisão de iniciar as atividades de monitoria na escola venha da gestão, é preciso conversar com os professores para que eles orientem os monitores.O docente precisa ver a ação de perto.

3. Divulgue o projeto

Vá às salas de aula explicando o que é o projeto e convidando os alunos. Eles devem entender que a monitoria ajudará a compreender melhor os conteúdos e a desenvolver competências.

4. Selecione participantes

Os monitores podem ser escolhidos pelo desempenho já apresentado em sala de aula ou selecionados por meio de uma prova específica. É importante levar em conta a capacidade de liderança.

5. Converse com os alunos

Antes de iniciar as atividades, converse com os alunos que foram escolhidos para serem monitores. Eles devem entender suas funções e saber que devem sempre se reportar ao professor responsável.

6. Forme os alunos

A capacitação dos monitores deve ser constante, e o professor orientador deve oferecer base teórica para eles multiplicarem o assunto com os colegas. Deve ser garantido espaço e horário adequados para a realização das atividades.

7. Inicie as atividades

Apresente os monitores às turmas e mostre que o projeto é uma ação colaborativa, em que todos aprendem em conjunto. Dê início às atividades no começo do ano letivo para avaliação dos resultados.s atividades.

8. Acompanhe os monitores

Observe se o aluno monitor está confortável na função e se ele está conseguindo acompanhar as demais atividades em sala de aula. Promova reuniões periódicas para ouvir as necessidades deles.

9. Avalie o projeto

Converse com pais, técnicos da escola e outros professores sobre possíveis mudança na aprendizagem dos estudantes. Compare dados do que foi observado antes e depois da implantação do projeto.

10. Dê retorno aosmonitores

Registre a experiência com os estudantes durante o ano letivo e promova uma culminância do projeto no encerramento do segundo semestre, mostrando como o trabalho deles foi importante.