Aprendizes de um mundo melhor
Projeto Atitude Sustentável conscientiza sobre o descarte do lixo e muda a percepção das crianças sobre o impacto dos dejetos no meio ambiente
O lixo estava sempre lá, espalhado pelos corredores, debaixo das cadeiras e no pátio da Escola Estadual Carlos Gonçalves, no bairro de Salgadinho, Olinda. O hábito de descartar resíduos fora das coletoras estava enraizado no modo de viver dos alunos do 6º e 7º ano e chamou a atenção das professoras de ciência dos recém ingressos no ensino estadual. Se o costume de casa vai à praça, as educadoras apostaram que a consciência criada na escola pode extrapolar os muros do ensino regular e decidiram mudar aquela realidade. Assim começou o projeto “Atitude Sustentável”, que além de deixar a escola mais limpa, transformou a maneira com que crianças de 10 a 12 anos enxergam uma simples tampinha de garrafa ou um pedaço de papel.
O brasileiro produz por ano 80 milhões de toneladas de lixo e desse valor pelo menos 30% deveriam ser reaproveitados. Contudo, estudo publicado pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) mostrou neste ano que mais de 170 milhões de pessoas não são atendidas por coleta seletiva no país, ou seja, 85% da população. O problema se torna ainda maior quando a percepção das professoras de ciências Débora Ithamar e Rosimere Amaral vem à tona: há, desde a infância, a ausência de consciência ambiental.
“Após o lanche, as salas ficavam sujas. Havia uma ideia de que o governo tinha funcionários suficientes para limpar. Então decidimos de começo fazer um projeto sobre reciclagem, mas depois vimos que poderíamos ampliar para a comunidade”, explica Débora Ithamar. O primeiro passo foi trabalhar o assunto de forma interdisciplinar, a partir do conceito dos “quatro erres”: repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. Os estudantes aprenderam quais materiais poderiam ser reaproveitados e como. Descobriram a ingrata relação entre o descarte e o tempo, no qual uma garrafa d’água de plástico pode demorar mais de um século para se decompor. Discutiram o tema em paródias nas aulas de português e com gráficos, nas de matemática.
Em um segundo momento, criaram objetos a partir de artigos antes descartados. As tampas de margarina viraram porta objetos; as folhas de jornal se transformaram em cestos; e as tampinhas de refrigerante, porta pano de prato. A culminância do projeto aconteceu no início deste mês, com uma encenação teatral para levar o aprendizado, como as professoras queriam, para pais e comunidade. As crianças discutiram o impacto do descarte irregular de lixo em três biomas: o oceano, a floresta e o mangue.
Hugo Felix, 11 anos, transformou-se em mico leão dourado e aprendeu mais do que as artimanhas do primata. “Antes, não sabia que isso era tão importante. Costumava jogar o lixo no chão, da janela do ônibus. Jogava lixo por todo lado. Com o projeto, mudei um pouco. Se eu lancho na rua, pego, junto e aguardo chegar num lixeiro para jogar”, diz ele, explicando o motivo. “Todos temos que valorizar o nosso planeta, é o nosso lar.”
A consciência ambiental foi um dos resultados obtidos pelo projeto, que perdurou todo o segundo semestre. A ideia também impactou o rendimento pedagógico. “As notas aumentaram, a participação em aula também. A autoestima melhorou porque eles viram que são capazes de criar com talento”, analisa Rosimere Amaral. A próxima meta é ampliar as atividades para trabalhar o verde, com uma visita ao Horto Dois Irmãos. O Atitude Sustentável não tem intenção de acabar, sabe que cuidar do meio ambiente é uma ação permanente.
A compreensão do meio-ambiente
A cada tonelada de papel reciclado, são preservadas 17 árvores e economizados 26 mil litros de água, divulga o panfleto produzido pelo Atitude Sustentável e distribuído pelos alunos aos pais e vizinhos durante a culminância do projeto. A força dos números ajuda a fazer pensar e a racionalização da importância de cuidar do lixo nosso de cada dia cria a tal consciência ambiental. A habilidade de compreender o meio ambiente é uma das portas de acesso à proteção da natureza e uma das formas eficazes de mitigar os impactos já gerados pelos seres humanos.
A escola é um dos atores de mobilização pelo desenvolvimento sustentável. No Brasil, a lei 9.795 estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental em 1999, com diretrizes obrigatória. Segundo a política, educação ambiental são “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
Transformar esse conceito em ações prática segue sendo desafio para os educadores, 17 anos depois da publicação da lei. É preciso operacionalizá- lo de acordo com as realidades locais da comunidade escolar e também as diferentes modalidades de ensino. No artigo Educação Ambiental na Escola: tá na lei…, Eneida Lipai, Philippe Layrargues e Viviane Pedro evidenciam que na educação infantil e no início do ensino fundamental é importante enfatizar “a sensibilização com a percepção, interação, cuidado e respeito das crianças para com a natureza e cultura”. Já nos anos finais, convém “desenvolver o raciocínio crítico, prospectivo e interpretativo das questões socioambientais bem como a cidadania ambiental”.
1. Armazenar água de chuva
As crianças vão adorar armazenar a água da chuva. Coloque um balde ou recipiente fora da sala de aula,em uma área aberta da escola, com uma pedra ou tijolo dentro para evitar que ele tombe. Quando a chuva terminar, eles terão conhecido um bastecimento de água alternativo e poderão usar para molhar as plantas. A água, porém, não pode ficar acumulada por mais de um dia para não se tornar viveiro de larvas.
2. Passe a diante
Ensine aos alunos que roupas, casacos, sapatos e brinquedos que ela não use mais podem ser doados.Mostre que eles podem fazer bem a outras crianças que precisam de ajuda. Além de evitar que esses objetos parem no lixo, isso fará a criança se sentir bem. A escola pode promover um bazar, estimulando as crianças a trocarem objetos usados.
3. Reciclar e Reutilizar
Mostrar como colocar itens recicláveis na lixeira apropriada é uma importante forma de ajudar o meio ambiente. Encontrar formas criativas de reutilização dos resíduos é outra. Faça disso um desafio divertido para toda a turma. Os alunos estarão reduzindo os resíduos e brincando com novas ideias.
4. De gota em gota
Incentivar a criançada a verificar se as torneiras da escola estão apertadas é um mostra de que pequenas mudanças fazem a diferença. Um vazamento que derrame uma gota por segundo desperdiça cerca de 2,4 mil litros de água por ano. Explicar sobre os recursos hídricos e a importância deles.
5. Hora do lanche
O lanche que a criança leva para escola ou consome em casa pode gerar um lixo desnecessário. A maioria dos itens descartáveis pode ser substituída por reutilizáveis. Envolva as crianças na iniciativa de encontrar formas criativas de embalar o lanche sem deixar filmes plásticos, papel alumínio ou muitas embalagens para trás.