As lições do professor de brigadeiro
Agosto de 2012. Arizona, Estados Unidos. Em uma casa onde moravam nove norte-americanos, um pernambucano da rede pública de Belém de Maria, Agreste do estado, ensinava a fazer brigadeiro. A receita era um dos segredos de Ladson Gomes, então com 16 anos, para conquistar a família que o acolheria pelos próximos seis meses. Quando o Diario o entrevistou pela primeira vez, o estudante, tímido, queria ser engenheiro e realizava o sonho de fazer o ensino médio no exterior.
Um dos primeiros alunos da rede estadual a embarcar para os Estados Unidos do Programa Ganhe o Mundo, Ladson vive, hoje, aos 19 anos, tudo o que sonhou durante o intercâmbio. Mudou-se para o Recife. Estuda na melhor universidade do Norte e Nordeste do país.
Reencontramos o menino de Belém de Maria exatos quatro anos depois. Prestes a iniciar o sexto período de engenharia da computação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), está menos tímido. O que aumentou foi a vontade de alçar novos voos. Quando concluir a graduação, quer fazer mestrado e doutorado no exterior. “No momento, minha prioridade é focar no curso. Quero explorar as diversas áreas (da engenharia da computação) para decidir o que vou fazer na pós graduação”, disse.
O intercâmbio permitiu que Ladson enxergasse os avanços e as deficiências da educação pública brasileira. “Vejo que um dos principais desafio da rede pública do país é a valorização do professor. Nos Estados Unidos, os professores se dedicavam exclusivamente a uma escola e, por isso, tinham tempo de se preparar para as aulas. Aqui, com os salários baixos, os professores dão aulas em várias escolas, não tendo tempo para um planejamento melhor das aulas e chegando exaustos para trabalhar”, comparou.
O ex-aluno da Escola de Referência em Ensino Médio Presidente Tancredo Neves mantém contato com a escola onde estudou no ensino médio. “Assim que voltei do intercâmbio, dei aulas de inglês para as crianças da cidade. Acho que a gente precisa retribuir o que recebeu de alguma forma. Também dei palestras sobre o Ganhe o Mundo na escola”, contou.
A empolgação de Ladson ao falar sobre a experiência nos EUA fez com que a prima Maria Nicoly, 16, melhorasse o desempenho para também fazer o intercâmbio. Ao saber do interesse da prima, Ladson deu aulas, fez traduções e ajudou a exercitar o idioma. Como resultado, recebeu a notícia de que Nicoly também viveria a experiência. Em 2015, ela embarcou para Stephenville, Newfoundland and Labrador, no Canadá, de onde retornou em fevereiro.
A chance de se tornar um Jovem Embaixador
Não é só pelo Programa Ganhe o Mundo que os estudantes da rede pública de ensino têm a oportunidade de fazer um intercâmbio para o exterior. Alunos de escolas públicas – de todo o país e não só do estado, como acontece no Ganhe o Mundo – podem participar do Programa Jovens Embaixadores, oferecido pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil.
A ação permite aos participantes aprimorar as habilidades em liderança, conhecer uma nova cultura, interagir com jovens norte- americanos e buscar oportunidades de crescimento pessoal e profissional. “Mais de 460 alunos já participaram do Jovens Embaixadores durante 15 anos. Adoro esse programa e mal posso esperar para conhecer os próximos participantes”, disse a embaixadora dos EUA no Brasil, Liliana Ayalde.
Para participar, é preciso ser aluno do ensino médio de escola da rede pública, ter entre 15 e 18 anos e nunca ter viajado aos Estados Unidos. Ainda são exigidos perfil de liderança, fluência em língua inglesa e comprovação de baixa renda. A pré-inscrição para o Jovens Embaixadores 2017 está aberta e pode ser feita pelo site www.jovensembaixadores.org/2017.
O programa, financiado pelo governo dos Estados Unidos com o apoio de empresas dos setores público e privado, foi criado pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil em 2003. A partir de 2012, passou a ser reproduzido em todos os países do continente americano. Desde a criação, 467 estudantes brasileiros já fizeram o intercâmbio.
4.459 alunos já viajaram para fazer o intercâmbio desde 2012
3.826 para países de língua inglesa
633 para países de língua espanhola
11 estudantes embarcaram para o Canadá em 2015 pelo Ganhe o Mundo Esportivo (modalidades: judô e atletismo)
Mil vagas já foram oferecidas para o Programa Ganhe o Mundo
20 vagas para o Programa Ganhe o Mundo Esportivo
10 vagas para o Programa Ganhe o Mundo Musical
O primeiro embarque deste ano aconteceu no último dia 21, quando 48 estudantes seguiram para a Argentina
O último embarque aconteceu no último dia 26, quando 23 estudantes foram para a Argentina
Outros 900 estudantes devem viajar para EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Chile ainda este ano
PARA ONDE OS ESTUDANTES FORAM:
1º passo:
matricule-se no curso de idiomas (inglês ou espanhol) oferecido na sua escola da rede pública
2º passo:
informe-se sobre horários e locais das aulas na instituição de ensino. Apenas alunos matriculados participam
3º passo:
tenha nota final mínima de 7 em português e matemática na escola e média mínima também de 7 no idioma
4º passo:
frequente as aulas do curso intensivo.A frequência mínima deve ser de 85% nas aulas do ensino médio e no curso de idioma
5º passo:
a outra etapa da seleção é a realização de provas de inglês ou espanhol. Depois, entrevistas individuais
6º passo: Ao passar por todas essas fases, o aluno que chegar ao sexto passo já pode fazer as malas e embarcar para o intercâmbio
Interessados devem ter no mínimo 14 anos até a data de embarque e o máximo de 17 anos e 11 meses na volta do intercâmbio. É exigido o CPF em seu nome.
Erros a serem evitados pelo intercambista digital
1. Acreditar que basta consultar informações na internet
A internet ajuda, mas a pesquisa não deve parar por aí. Recomenda-se conversar com pessoas que já viveram a experiência.
2. Pensar que planejar não é mais necessário na era digital
Documentos e vistos precisam ser checados com antecedência, a fim de garantir maior tranquilidade durante todo o processo.
3. Tirar conclusões precipitadas baseadas empesquisa online
Checar o endereço no Google Street View e/ou ver perfis da família hospedeira no Facebook podem ajudar a diminuir a ansiedade.
4. Ficar 100% conectado coma família/amigos durante o intercâmbio
A imersão é fundamental para o aprendizado de um novo idioma e pode ficar comprometida com contato com o Brasil o tempo todo.
Fonte: Livro Intercâmbio na era digital (Marina Motta)