Bicicleta inovadora de Camaragibe
Como faz todos os dias, o estudante Inoã Pereira da Silva, 17 anos, seguia para a escola, em Camaragibe, de bicicleta. O trajeto acabou saindo diferente do usual. No caminho, um carro bateu na parte traseira da bike enquanto ele pedalava. O motorista continuou acelerando sem prestar socorro ao adolescente, que, em vez de apenas reclamar da falta de segurança no trânsito, decidiu fazer algo para melhorar a mobilidade urbana.
Após sofrer o acidente, em 2015, Inoã se uniu com a colega de turma Kesse Teixeira, 17. Eles desenvolveram o projeto Bicicleta inteligente, premiado em exposições locais de tecnologias e selecionada para a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), que acontece em São Paulo no mês de março.
A dupla estuda na Escola Estadual Ministro Jarbas Passarinho e usou componentes eletrônicos, sensores, chips, tela de computador reciclada e lâmpadas led para desenvolver a bike que avisa quando obstáculos se aproximam.
Quando um veículo entra no raio de cinco metros da bicicleta, por exemplo, uma luz verde acende. Se a distância diminuir para três metros, pisca uma luz amarela para o ciclista.
Caso o condutor do veículo que segue atrás reduza ainda mais o espaço, o sensor faz ligar a luz vermelha e uma sequência de lâmpadas de led projeta um desenho em formato de mão na traseira da bike para alertar o motorista sobre a distância mínima que ele deve manter do ciclista. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, a separação deve ser de 1,5 metro.
Apesar da tecnologia inovadora, o custo dos materiais para “turbinar” a bicicleta não chega a R$ 20. “Priorizamos a utilização de materiais recicláveis para baratear o projeto e também por não poluir o meio ambiente”, ressalta Inoã.
Atualmente, apenas uma bicicleta conta com o equipamento: a que o próprio Inoã usa diariamente para ir do estágio, no Bairro do Recife, à escola. A ideia é ampliar o número de bicicletas inteligentes no estado, e os estudantes já estão trabalhando no segundo protótipo dos sensores.
A nova versão será apresentada em São Paulo com novos aparatos tecnológicos: sensor de temperatura, para indicar quando o ciclista deve reaplicar seu protetor solar e um carregador de celular sem fio, que funcionará na medida em que o ciclista pedala. “Inovamos nessa versão 2.0 da bicicleta sem precisar elevar os custos”, pontua o estudante.
Orientados pela professora de história Sandra Roberta, os estudantes participaram da Exposição de Tecnologia e Ciências de Camaragibe, em 2016, e receberam o prêmio Destaque de Incentivo à Pesquisa Científica (Abritec).
Os alunos também foram selecionados para participar da II Expoceti – Exposição de Ciências, Engenharia, Tecnologia e Inovação, que acontece em junho deste ano, em São Lourenço da Mata.
Proteger a criação não é tão difícil quanto parece
Projetos inovadores criados por estudantes surgem constantemente nas escolas. O que muitos professores e “alunos inventores” não sabem é que eles podem ser donos das invenções e patenteá-las a um custo acessível. O processo é mais simples e barato do que muitos imaginam. Apesar das facilidades, o Brasil está muito atrás de países considerados referência em inovação quando o assunto é patente. Foi o que mostrou o último relatório da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO). O levantamento apontou os Estados Unidos em primeiro lugar, com 2,2 milhões de patentes, seguido do Japão (1,6 milhão). O Brasil ficou na 19ª posição, com 41.453 registros.
De acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI), patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo estado aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. “Com este direito, o inventor ou o detentor da patente tem o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar a venda, vender ou importar produto objeto de sua patente e/ou processo ou produto obtido diretamente por processo por ele patenteado”, explica o órgão. Em contrapartida, o inventor deve revelar detalhadamente o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente. O valor para solicitar uma patente é R$ 70.
A Lei de Propriedade Industrial (LPI), que regula o assunto no Brasil, exclui de proteção ações, criações, ideias, atividades intelectuais, descobertas científicas, métodos ou inventos que não possam ser industrializados. Isto é, não podem ser patenteadas técnicas cirúrgicas ou terapêuticas aplicadas em humanos; planos, esquemas ou técnicas comerciais de cálculos, de financiamento, de crédito, de sorteio, de especulação e propaganda; planos de assistência médica, de seguros, esquema de descontos em lojas; métodos de ensino, plantas de arquitetura, obras de arte, músicas, livros e filmes além de ideias abstratas, descobertas científicas, métodos ou inventos que não possam ser industrializados.
[ Estimule os estudantes a patentearem ideias inovadoras:
1. Pesquise
Antes de depositar o pedido de patente, é recomendável que se faça primeiro uma busca para saber se não há nada igual ou semelhante já patenteado não somente no Brasil, mas no mundo.
2. Escreva
Escrever um pedido de patente pode ser mais fácil do que escrever um artigo para publicação numa revista técnica ou científica. A redação deve ser feita de maneira que um técnico no assunto possa reproduzir a sua criação.
3. Deposite
Desde 2013, o pedido de patente no Brasil pode ser feito pela internet, através da plataforma online e-Patentes (www.epatentes.inpi.gov.br).
4. Negocie
Após o depósito, o solicitante pode acessar uma aplicação para tratar do marketing e valorização do seu pedido. Esses processos podem otimizar negociações de licenças e outros contratos envolvendo patentes.
5. Acompanhe
Acompanhe de perto as principais datas e necessidades de decisões envolvendo o tramite de pedido de patente ou patente depositada. Deixar de pagar uma taxa pode levar, por exemplo, ao arquivamento do pedido ou patente.