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Professores Gustavo Henrique e Osvaldo Francisco elaboraram projeto pedagógico que fez dos estudantes agentes mirins de saúde - Foto: Paulo Paiva/DP

Professores Gustavo Henrique e Osvaldo Francisco elaboraram projeto pedagógico que fez dos estudantes agentes mirins de saúde – Foto: Paulo Paiva/DP

Contagiados pelo poder damudança

Alunos da Escola Estadual Álvaro Lins, de Nova Descoberta, engajaram-se em ideia de dois professores de biologia para reduzir epidemia de dengue

Há quatro anos, os professores de biologia da Escola de Referência em Ensino Médio Álvaro Lins, em Nova Descoberta, notaram o aumento no número de falta dos alunos motivadas pela epidemia da dengue. Decidiram, então, que não bastava aguardar os estudantes se recuperarem para voltar a frequentar as aulas. Era preciso realizar uma ação para frear a ocorrência de novos casos. Foi quando os professores Gustavo Henrique e Osvaldo Francisco elaboraram o projeto pedagógico Agentes de saúde mirins e fizeram a proposta aos alunos: “Que tal se tornarem agente de saúde comunitária?”, perguntaram.

Os estudantes aceitaram o desafio e o projeto, que duraria um ano, já acontece há quatro na escola. Semanalmente, 54 adolescentes percorrem as ruas de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife, caçando focos do mosquito Aedes aegypti, que transmite a doença, e orientando a comunidade sobre como evitar que ele se reproduza. A ideia foi reconhecida como um dos melhores de Pernambuco pela ONG Somos Professores, que ajuda a financiar projetos de professores da rede pública.

Além do conhecimento prático adquirido nas casas dos arredores da escola, os alunos aprendem conteúdos teóricos. “O início do projeto, no começo do ano letivo, são as aulas na escola. Eles aprendem sobre a doença, reprodução do Aedes e formas de prevenção. Depois, tornam-se multiplicadores das informações na comunidade”, esclarece o professor de biologia e enfermeiro Gustavo Henrique. “Antes de darem início à parte prática, eles fazem um levantamento dos casos e elaboram planilhas e projetos de intervenção”, completa Osvaldo Francisco.

Os alunos aprendem ainda a fazer armadilhas artesanais contra o mosquito. Feitas com garrafa PET, pó de arroz e água, as arapucas são produzidas para serem entregues aos moradores da comunidade. Depois de quatro meses, os alunos voltam às mesmas casas onde entregaram as armadilhas para verificar se o trabalho deu resultados positivos. “Como somos da comunidade, temos acesso a locais que, muitas vezes, os próprios agentes comunitários da prefeitura não têm”, conta a estudante Hanna Silva, 16.

Este ano, como estado continuando a registrar altos índices – não só de dengue, mas de chikungunya e zika vírus – eles intensificaram a pesquisa. Fardados, os estudantes já passaram em mais de 150 casas. A atividade tornou-se interdisciplinar e aplica conceitos matemáticos, biológicos e químicos. “Chegamos a visitar casas onde oito pessoas estavam doentes. Fizemos o trabalho de conscientização e os índices na rua melhoraram. Esta é a melhor parte:saber que estamos ajudando as pessoas”, diz Hanna.

De casa em casa, uma lição de vida

Visita a domicílios virou atividade interdisciplinar - Foto: Paulo Paiva/DP

Visita a domicílios virou atividade interdisciplinar – Foto: Paulo Paiva/DP

A escola precisa ir além dos muros que a cercam, mas o caminho inverso também precisa ser feito. É preciso levar as comunidades para dentro do ambiente escolar. O doutor em educação e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco Henrique Guimarães Coutinho ressaltou que o envolvimento das comunidades na educação pública não pode ser esperado espontaneamente. As gestões escolares precisam estimular isso, criando canais de interação com os moradores dos arredores da unidade de ensino. Isso pode ser feito por meio de projetos pedagógicos que incluam as comunidades.

Pais, lideranças comunitárias e pessoas interessadas no cotidiano escolar devem ser encorajados a entrar no ambiente educacional não só para conhecer a realidade intramuros, mas para efetivamente colaborar e fiscalizar os processos educacionais. “É difícil para a gestão escolar engajar as comunidade no dia a dia. Os conselhos escolares, por exemplo, têm lugares que deveriam ser ocupados pela sociedade civil, mas, na maioria das escolas, são ocupados da forma mais fácil, ou seja, por professores e servidores municipais”, observa o pesquisador.

De acordo com Henrique Guimarães Coutinho, esse engajamento é mais fácil nas redes municipais do que nas estaduais. “Quando a gestão escolar tem interesse em levar a comunidade para dentro da escola, esse processo fica mais fácil. A participação comunitária é fundamental para uma escola alcançar bons resultados nos índices de desempenho”, ressalta.

[ Seis passos para a construção de um projeto pedagógico

1ª FASE

Diagnóstico: como é a escola?

Nesta fase, levante informações sobre o trabalho que a escola vem realizando, ou seja, a prática pedagógica. A comunidade escolar vai analisar e debater esses dados, sugerindo medidas para as eventuais alterações.

O que fazer?

Coletar dados sobre a realidade escolar e analisá-los, dos pontos de vista qualitativo e quantitativo.

Como fazer?

A partir do trabalho que a escola realiza, fazer questionamentos, como:

■ Como é o contexto sóciopolítico-econômico da escola?
■ Qual tem sido a função da escola?
■ Como tem sido a participação dos pais na vida da escola?
■ Que resultado apresenta para a sociedade?

2ª FASE

Que identidade a escola quer construir?

Não basta apenas a escola realizar seu diagnóstico.Após avaliarse, ela precisa buscar uma fundamentação que oriente a ação conjunta dos seus segmentos. A prática precisa estar sustentada em uma teoria.

3ª FASE

Como executar as ações definidas pelo coletivo?

Uma vez estabelecidas as concepções do coletivo, é preciso definir:

■ as prioridades da escola;
■ as ações que a escola irá desenvolver;
■ as pessoas que irão realizá-las.

4ª FASE

Plano de ação

Documento que apresenta a forma de operacionalização e de implementação de todas as ações planejadas. Deve conter, no mínimo, as metas ou objetivos específicos, os responsáveis pelas ações, o período e os recursos materiais e humanos necessários.

5ª FASE

Envolvimento de todos

A construção e a implementação dos planos de ação devem ser compartilhadas pelos segmentos da escola. Nem todos farão tudo, mas é importante que tenham acesso às informações sobre o acompanhamento das ações, evitando-se que alguns pensem e outros façam, sem saber por que o fazem.

6ª FASE

Concluindo

A construção do projeto pedagógico é um processo que compreende três momentos distintos e interligados:

■ Diagnóstico da realidade da escola;
■ Identidade da escola, decorrente do levantamento das concepções do coletivo;
■ Programação das ações a serem desenvolvidas pelo coletivo.

Todos esses momentos passam por um processo de avaliação, o que permite ao grupo caminhar do real para o ideal, desenvolvendo as ações possíveis.

Fonte: Luiz Gonzaga de Oliveira – Sindicato de Especialistas de Educação de São Paulo.