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Saraus dos estudantes têm duração de duas horas onde o lúdico também ajuda a facilitar a compreensão. Fotos: Rafael Martins/Esp. DP

Saraus dos estudantes têm duração de duas horas onde o lúdico também ajuda a facilitar a compreensão. Fotos: Rafael Martins/Esp. DP

Descobrindo ser autores das suas próprias vidas

Estudantes da Escola José de Alencar, no Janga, aprendem recitando e compartilhando poesia

“Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião.” Em uma só voz, os estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Técnica Estadual José Alencar Gomes da Silva recitam o poema Convite, de José Paulo Paes. O ritmo, a entonação e os gestos foram minuciosamente ensaiados no ano anterior, quando o grupo passou a integrar o sarau poético Pasárgada, que acontece há quatro anos na escola localizada no Janga, Paulista, Região Metropolitana do Recife.

O projeto, orquestrado pela coordenadora da biblioteca Geninha da Rosa Borges, Fabrícia Gomes, tem como objetivo apresentar e aprofundar questões relacionadas à poesia aos adolescentes da escola. Mais do que ensinar o que é verso, estrofe e parágrafo aos meninos e meninas de 17 anos da turma, a ação acabou despertando a sensibilidade e o gosto pela leitura nos estudantes.

As aulas acontecem na biblioteca da escola. Os encontros têm duração de duas horas e os alunos são recebidos num clima acolhedor com poemas espalhados pelo ambiente e imagens de poetas.

A professora inicia a atividade recitando alguns poemas para a turma. Com slides, ela apresenta os conceitos de poesia e de poema. Aborda também o surgimento da poesia no Brasil até o Modernismo para situar o estudante quanto aos diversos estilos de escrita na produção de textos poéticos. Os poemas escolhidos aparecem em vestibulares e também estão presentes nos livros didáticos do ensino medio.

Oratória, desenvoltura e expressão corporal também são habilidades desenvolvidas nos encontros semanais. Além de trabalhar textos que são cobrados em avaliações externas, a professora busca explorar não só o lado pedagógico, mas divertido do projeto. “Tenho alunos que chegaram tímidos, sem conseguir se comunicar com os colegas, que agora conversam com todos, fazem parte de grupo. Tudo isso aconteceu por meio da poesia e da leitura de textos”, enfatiza Fabrícia.

“A gente não aprende só o gênero literário. Melhoramos a dicção e conseguimos interpretar melhor os textos”, completa o estudante do terceiro ano do ensino médio Kleyton William, 16 anos.

Além de já existir há quatro anos – mesmo tempo de existência da escola – na José Alencar Gomes da Silva, o projeto chama a atenção da comunidade externa. Com frequência, o grupo de alunos recebe convites para se apresentarem fora do ambiente escolar. Já participaram de eventos na Academia Pernambucana de Letras, Biblioteca Pública do Estado, Assembleia Legislativa além de feiras literárias e asilos. “Levamos nosso sarau para outras pessoas tomarem gosto pela poesia, mas os próprios alunos são beneficiados, uma vez que estão em contato com espaços que prestigiam a leitura”, diz a professora.

Da biblioteca de casa para os recitais com os colegas

Laísa e Larissa destacam o incentivo recebido dos pais

Laísa e Larissa destacam o incentivo recebido dos pais

Aos 7 anos, as gêmeas Larissa e Laísa Monteiro sabiam todos os versos do poema Pardalzinho, de Manuel Bandeira, de cor. “O pardalzinho nasceu. Livre. Quebraram-lhe a asa. Sacha lhe deu uma casa, água, comida e carinhos”, repetiam as meninas sempre que o pai, o agente de saúde Davison Monteiro, pedia.

O incentivo à leitura sempre esteve presente na vida das adolescentes, hoje com 17 anos, que chegaram ao projeto Pasárgada conhecendo todos os autores que seriam trabalhados no ano letivo pela professora Fabrícia Gomes. “Pela primeira vez na nossa vida escolar, pudemos nos expressar como sempre fizemos em casa”, conta Larissa.

As prateleiras altas do quarto dos pais eram como um “portal para um novo mundo” para as meninas. Lá, elas encontravam obras de Manoel Bandeira, José de Alencar, Jorge Amado e Machado de Assis.

“Meu pai sempre amou poesia e aprendemos a recitar desde cedo. Quando descobrimos que tinha um projeto assim na escola, nos encontramos”, diz Laísa, cujo poema preferido é O drama do circo, de Solano Trindade.

O amor do pai pelos livros o fez voltar a estudar enquanto as meninas ingressaram no ensino médio. Aos 50 anos, o agente de saúde está prestes a concluir o curso de letras na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Apesar de terem herdado o amor aos livros do pai, Laísa e Larissa não sonham com a mesma profissão dele. As duas querem ser médicas. “Nossos pais sempre nos incentivaram a sonhar e a ler. Nossa mãe, por exemplo, nos acompanhou em todas as excursões que fizemos com o projeto para recitar em eventos. Eles têm muito orgulho”, afirma Larissa, fã de Manuel Bandeira.

[ Poesia na escola

O que o aluno pode aprender com este projeto

Conhecer o cancioneiro de poemas da literatura brasileira; desenvolver a habilidade da oratória; memorizar o texto poético, interpretando-o; desenvolver o hábito da leitura e o gosto pela poesia.

Duração das atividades

O projeto deve acontecer durante todo o ano letivo, uma vez por semana, na biblioteca da escola.

Conhecimentos prévios trabalhados com o aluno

Gêneros literários; gênero lírico; conceito de poesia e poema; breve abordagem sobre a poesia na literatura brasileira.

Material indicado

Antologias poéticas da literatura brasileira e livros de autores da poesia brasileira, como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Vinícius de Moraes e outros.

Estratégias e recursos das aulas

1. Os alunos devem ser recebidos em um clima leve, com música, poesia, imagens de poetas. Em seguida, apresentar um panorama da poesia no Brasil e no mundo.

2. Apresentar um poema a cada encontro e, após uma leitura silênciosa, fazer uma interpretação quanto ao entendimento da turma sobre o poema, uma breve discussão e confrontos na compreensão.

3. Distribuir os versos do poema escolhido pelo professor para o primeiro encontro com os estudantes e numerar cada verso. Fazer leitura dinâmica em que cada estudante lê um verso e, assim, segue a leitura coletiva do poema.

4. O estudante deve ler o mesmo verso várias vezes de diversas maneiras: o professor pede para ser lido em tom exclamativo, interrogativo, triste, alegre, etc. Esta estratégia possibilita a leitura sutil do poema de forma a quebrar a timidez.

5. Com o exercício de leituras compartilhada, a memorização acontece facilmente. A partir daí, surge a montagem performática do poema, feita em forma de jogral, com os versos memorizados pelos estudantes e apresentados para o grande grupo.

6. A cada aula um poema novo deve ser trabalhado. Desta forma, aos poucos, todos terão participado do jogral, formando um grande sarau, que deverá ser apresentado para as comunidades interna e externa.

Avaliação

A avaliação é contínua por meio da observação quanto ao desenvolvimento do estudante. Será possível perceber um crescimento na sua literacia, conhecimento intelectual, habilidades de fala e expressão, segurança ao encarar o público e domínio da oralidade.

Fonte: Projeto Sarau Poético (ETE José Alencar Gomes da Silva)