Escolha uma Página

Produção cinematográfica dos estudantes é tão intensa que festival já na segunda edição premia melhores trabalhos - Foto: Anderson Freire/DP

Produção cinematográfica dos estudantes é tão intensa que festival já na segunda edição premia melhores trabalhos – Foto: Anderson Freire/DP

Mais luz, câmera e educação

Professor de história de escola de rede estadual incentiva alunos na produção de filmes que ajudam no desenvolvimento do senso crítico

A câmera que o professor Wilson Falcão exibe com orgulho está com o visor rachado. O cartão de memória já está cheio e falta um computador com recursos de edição para finalizar os vídeos. Nada disso parece desanimar o professor de história da Escola de Referência em Ensino Médio Jornalista Trajano Chacon. Como se não enfrentasse problemas típicos da educação pública com equipamentos quebrados e falta de estrutura física, ele chama os alunos para “viajarem” juntos. Os devaneios dos estudantes se materializam em filmes e é por meio do diálogo entre cinema e história que o professor faz os alunos se apaixonarem pela matéria que leciona.

“O cinema é como uma viagem. Podemos estar aqui fisicamente e nos transportar para outros lugares com a mente. É isso que fazemos”, diz o professor. Além de assistirem a obras cinematográficas, os estudantes produzem os próprios filmes curta-metragem. As películas dialogam com os conteúdos trabalhados em sala, mas os adolescentes têm total liberdade para executarem as filmagens. “A principal vantagem de trabalhar com cinema na escola é estimular o olhar crítico dos estudantes. Eles dialogam com outros saberes e desenvolvem uma visão mais analítica sobre as questões não só na escola, mas para a vida”, pontua Wilson.

O desejo de levar a sétima arte para o cotidiano escolar era uma vontade antiga do professor. Durante a infância, Wilson viu o pai comprar o cinema da cidade onde nasceu, Brejo da Madre de Deus, no Agreste do estado. Foi no Cinema Carlos Gomes que o pequeno Wilson aprendeu as primeiras lições ensinadas pelos filmes. “Cresci vendo as exibições. O cinema sempre esteve presente em minha vida e proporcionou o prazer do conhecimento”, conta.

Além de assistirem a obras cinematográficas selecionadas, os alunos têm liberdade para criar suas próprias histórias

A paixão pelo cinema que passou de pai para filho agora é passada de professor para alunos. “As aulas do professor Wilson são inesquecíveis, marcantes. Não dá para esquecer o que ele diz porque não precisamos decorar. A escola tem tantas regras, mas nas aulas com cinema, somos livres para criar e aprender brincando”, afirma a estudante do 2º ano do ensino médio, Débora Dantas, 16 anos.

A aprendizagem é tão divertida que faz o ex-aluno João Felipe Ferreira, 18, voltar à escola só para continuar aprendendo com o “mestre cineasta”. “Concluí o ensino médio no ano passado, mas me sinto muito bem aqui. Venho ajudar o professor e os alunos e fazerem os filmes. Já pensei até em fazer pedagogia só para trabalhar aqui com o professor Wilson e a equipe da escola, que é muito boa”, revela João, que está organizando com o professor a segunda edição do Festival de Mini Curtas EREM Jornalista Trajano Chacon.

No primeiro ano do festival, em 2015, o curta editado por João Felipe (Getulio contra Lampião) foi filme escolhido pelo juri popular – formado pelos alunos da escola – como grande vencedor.

 

Projeto leva a sétima arte para sala de aula

Transformar a realidade dos estudantes por meio do cinema é uma missão não só da Escola Jornalista Trajano Chacon, mas de toda a rede estadual de ensino. Para isso, o projeto cineCabeça, fruto de parceria entre a sociedade civil e o governo estadual, disponibiliza a sétima arte como instrumento de transformação através do tripé educação, cultura e sociabilização.

No campo da educação, o cineCabeça dá suporte ao trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula, estimulando a reflexão dos participantes e ampliando a maneira como os estudantes veem o mundo. “Ir ao cinema na hora da aula faz toda a diferença para esses alunos. Eles veem os filmes, e os professores trabalham os assuntos em sala de aula. Isso gera um aprofundamento da construção do conhecimento”, afirma a gestora do projeto, Andréa Mota. Atualmente, o cineCabeça é realizado com 90 escolas públicas da Região Metropolitana do Recife.

O projeto é dividido em três diferentes ações. A primeira delas, “Educativa”, recebe alunos do ensino fundamental 2 e do ensino médio e para sessões cinematográficas no Cinema São Luiz. A outra ação, “Cineclubista”, acolhe o público em geral em exibições semanais no Teatro Arraial seguidas de debates, além de realizar oficinas que ensinam professores e estudantes como montar e manter um cineclube na comunidade. Há ainda a “Iniciação Audiovisual”, que tem como objetivo inserir os estudantes no mercado de trabalho através de uma grade curricular que engloba as etapas da produção audiovisual.

“Concluí o ensino médio no ano passado, mas me sinto bem aqui. Ajudo o professor e os alunos e fazerem os filmes”

João Felipe Ferreira, 18,

ex-aluno e organizador de festival

“As aulas do professor Wilson são marcantes. Não dá para esquecer o que ele diz porque não precisamos decorar”

Débora Dantas, 16,

do 2º ano do ensino médio

“Ir ao cinema na hora da aula faz toda a diferença. Os professores trabalhamos assuntos em sala de aula. Isso gera um aprofundamento da construção do conhecimento”

Andréa Mota

coordenadora do cineCabeça

Pai deWilson Falcão foi dono de uma sala de cinema - Foto: Anderson Freire/DP

Pai deWilson Falcão foi dono de uma sala de cinema – Foto: Anderson Freire/DP

[ Cinema na escola

Veja como introduzir o tema nas aulas e como incluir a sétima arte em quatro disciplinas: língua portuguesa, história, arte e sociologia.

Introduzindo a temática

Explicar aos alunos que irão realizar uma pesquisa sobre as experiências com cinema na educação e dialogar sobre a sua utilização como ferramenta pedagógica e não somente como entretenimento. Podem participar deste projeto professores de português, história, sociologia e artes. Para motivar os alunos sobre a temática, apresente o filme Tapete vermelho (100 minutos).

Na sequência, trabalhe as preferências dos alunos sobre cinema. Peça que os alunos respondam individualmente as seguintes questões:

 

  1. Qual seu gênero favorito;
  2. Quais são os filmes favoritos;
  3. Com que frequência vai ao cinema;
  4. Qual livro gostaria que fosse transformado em filme.

Por disciplina…

Língua Portuguesa

Apresente um texto sobre a arte cinematográfica.A leitura deve ser feita em grupos de seis a oito alunos que irão dialogar enquanto fazem o exercício. Estimular a produção de textos e roteiros.

História

Apresente o texto sobre a história do cinema no Brasil. Os alunos, divididos em grupos, devem ler o texto por partes.Ao longo da leitura, acompanhe os alunos em suas dúvidas e comentários.

Sociologia

O professor pode trabalhar a sociedade brasileira, sua evolução e como o cinema tem representado o povo ao longo dos anos. Peça que os alunos prestem atenção ao retrato que o cinema faz da sociedade brasileira e seus problemas. Sugestões de filmes: Vidas secas (103min) e Central do Brasil (112min)