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Professores da Escola Municipal Professor Florestan Fernandes se uniram para dar aulas de reforço e revisões. Fotos: Thalyta Tavares/Esp.DP

Professores da Escola Municipal Professor Florestan Fernandes se uniram para dar aulas de reforço e revisões. Fotos: Thalyta Tavares/Esp.DP

O importante é aprender que o sonho é possível

Projeto incentiva alunos do Ibura a continuarem os estudos para mudar a própria realidade

Quando perguntavam o que os estudantes iam fazer quando terminassem o ensino fundamental, os professores da Escola Municipal Professor Florestan Fernandes, localizada no Ibura, Zona Sul do Recife, ouviam respostas angustiantes. Sem perspectiva de futuro, os alunos não pensavam no ensino médio quando deixavam a escola, que oferece até o 9º ano (antiga 8ª série) do ensino fundamental. Muitos começavam a trabalhar e não concluíam os estudos. Outros acabavam entrando para o crime. Para mudar a visão dos alunos sobre os anos que viriam, gestores e docentes da unidade de ensino decidiram intervir diretamente no problema, criando um projeto que já colocou 53 alunos em escolas técnicas federais e estaduais.

Localizado em uma região marcada geograficamente por morros e ladeiras, o Ibura é uma das localidades mais violentas do Recife. De acordo com o Censo 2010, do IBGE, o bairro tem 50.617 habitantes em um território de 1.125,3 hectares, e o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da capital pernambucana: 0,732. O índice de Boa Viagem, também na Zona Sul, por exemplo, é de 0,974, numa escala que vai de zero, quando não há nenhum desenvolvimento humano, a um, que é o total de desenvolvimento.

Foco principal nas aulas de português e matemática

Foco principal nas aulas de português e matemática

Os números se refletiam na realidade encontrada pelos dirigentes e professores da escola. “Quando chegamos à escola, perguntamos aos alunos o que eles esperavam do futuro quando terminassem o ensino fundamental, já que só oferecemos turmas até o 9º ano. Percebemos que eles não se viam estudando em uma boa escola, que não sonhavam e não estavam motivados para o ensino médio e para o ensino superior. O nível de aprendizagem deles era baixíssimo e faltava perspectiva de mudança”, conta o gestor da unidade de ensino, Rinaldo Beltrão.

Os professores deram início, então, a um projeto de aulas de reforço focadas nos conteúdos de língua portuguesa (base para que eles compreendessem outras disciplinas). A iniciativa, que começou em 2013, fez o índice de aprendizagem em português saltar de 11% (2013) para 30% (2015) na Prova Brasil. Agora, os professores focam também em matemática, disciplina cujo índice de aprendizagem na escola é de 1%, também na Prova Brasil. “Para aprender, o aluno tem que estar motivado e esse projeto faz com que eles desejem estudar”, afirma a vice-gestora da escola, Karla Pereira.

Questões de avaliações nacionais são aplicadas

Questões de avaliações nacionais são aplicadas

No contraturno das aulas, os professores de português e matemática se colocam à disposição, voluntariamente, para tirar dúvidas dos estudantes. Questões de avaliações nacionais são aplicadas, simulados são respondidos pelos alunos, que são estimulados a participarem de processos seletivos de escolas técnicas, como o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). Desde que o projeto começou, 53 estudantes, sendo 21 só no ano passado, passaram em seleções de cursos profissionalizantes.

“Os professores são guias em todo o processo e não só dando as aulas de reforço. Eles ajudam a fazer a inscrição, levam de carro para as provas, acompanham até a matrícula no novo colégio”, diz Maykon da Silva, 17, ex-aluno da Florestan Fernandes, que está cursando mecânica no IFPE. “Também quero isso para mim e venho a todos os encontros do reforço”, revela Emellyn Andrade, 15, do 9º ano.

Escolas federais, técnicas e militares como objetivo

Maykon da Silva é exemplo do sucesso do projeto

Maykon da Silva é exemplo do sucesso do projeto

Na educação pública do país, as escolas federais, técnicas e militares são as que apresentam os melhores índices de aprendizagem entre os alunos. Pelo menos em avaliações oficiais. Isso explica o fato de os professores e gestores da Escola Municipal Professor Florestan Fernandes estimularem os estudantes da unidade de ensino a passarem em um processo seletivo de uma dessas modalidades.

Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgados em 2016 sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015 mostram que as escolas públicas com melhores desempenhos na prova que dá acesso às principais universidades do país formam estudantes desde o primeiro ano do ensino médio e têm maior parte dos professores formada na área que lecionam.

Nove das dez escolas públicas que encabeçam o tiveram melhor desempenho no Enem tinham 80% dos estudantes matriculados na instituição desde o primeiro ano do ensino médio e mais de 70% dos professores formados na disciplina que lecionavam. Sete das dez escolas com as maiores médias gerais eram federais.

Também ficaram bem classificadas escolas militares e técnicas estaduais. Os dados divulgados pelo Inep são referentes aos resultados de 14.998 escolas, isto é, aquelas nas quais pelo menos 50% dos alunos do terceiro ano participaram no Enem e que esse número equivalesse a pelo menos dez estudantes.

Raio x do aprendizado na Escola Municipal Professor Florestan Fernandes:

Média de aprendizado

Prova Brasil:

Português

Proporção de alunos que aprenderam o adequado na competência de leitura e interpretação de textos até o 9º ano

2011 – 14%
2013 – 11%
2015 – 30%

Dos 91 alunos, 27 demonstraram o aprendizado adequado

Matemática

Proporção de alunos que aprenderam o adequado na competência de resolução de problemas até o 9º ano

2011 – 2%
2013 – 0%
2015 – 1%

Dos 91 alunos, um demonstrou o aprendizado adequado

Entenda:

%

É a proporção de alunos que deve aprender o adequado até 2022, segundo o movimento Todos Pela Educação

Indicador de fluxo da escola (significa que a cada 100 alunos, sete não foram aprovados)

Ideb 2015:

Média de aprendizado 4,63 x indicador de fluxo 0,93 = Ideb 4,3

O Ideb 2015 nos anos finais cresceu, mas não atingiu a meta (4,7) e não alcançou 6,0 (valor referência). Tem o desafio de garantir mais alunos aprendendo e com um fluxo escolar adequado.

Fonte: Prova Brasil 2015, Inep