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José Clóvis Medeiros faz questão de manter uma relação de proximidade com ambiente escolar da filha Bruna - Foto: RAFAEL MARTINS/ ESP. DP

José Clóvis Medeiros faz questão de manter uma relação de proximidade com ambiente escolar da filha Bruna – Foto: RAFAEL MARTINS/ ESP. DP

Quando os pais estão presentes

Participação familiar no acompanhamento escolar é a garantia de melhor aproveitamento dos alunos, principalmente na rede pública

Na reunião de pais realizada mensalmente pela Escola Técnica Estadual Cícero Dias, a presença do militar aposentado José Clovis Medeiros, 51, é certa. Pai da aluna do segundo ano do ensino médio Bruna Vander Medeiros, 15, ele faz questão de participar de todas as atividades relacionadas à vida escolar da filha. Checa a agenda, conversa sobre os assuntos abordados em sala de aula, conhece os professores e mantém relação de proximidade com a gestão escolar. Faz isso porque sabe que a participação dos pais é importante (se não decisiva) para o bom desempenho da filha na escola.

A mãe de Bruna, a dentista Cláudia Vander, 43, também participa ativamente do acompanhamento escolar. “Nossa participação é importante para a formação da personalidade, do caráter e da ética dos nossos filhos. Com a supervisão constante, o rendimento nas aulas também melhora”, pontua Clovis.

A própria Bruna reconhece que tem melhores resultados graças aos pais. “Se eu usar o celular na sala de aula, eles ficam sabendo. Se eu ficar conversando, eles ficam sabendo. Costumo dizer que meus pais são os mais CDFs. Eles vêm regularmente à escola, cobram resultados e conversam com os professores”, diz a adolescente.

Bruna deixou uma escola privada quando concluiu o ensino fundamental e passou a estudar, pela primeira vez, na rede pública ao ingressar no ensino médio. A mudança foi acompanhada de perto pelos pais. “Por questões financeiras e pela possibilidade de ela fazer um intercâmbio (pelo Programa Ganhe o Mundo), decidimos pela migração, mas ficamos sempre atentos à escola para cobrar quando é necessário”, afirma o pai.

A diretora da escola onde Bruna estuda, Aldineide de Queiroz, concorda. Para a gestora da unidade de ensino localizada em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a presença constante dos pais é um dos fatores que levam aos bons resultados da escola. “Eles participam diariamente e nos dão o suporte necessário para que possamos trabalhar melhor. Aqui, temos alunos de todas as classes sociais e pais com graus de escolaridade muito diferentes. Todos eles participam ativamente e isso é fundamental para alcance resultados positivos”, enfatiza.

BOM DESEMPENHO

A Escola Técnica Estadual Cícero Dias é a terceira escola de ensino médio com melhor desempenho no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (Idepe) de 2014; o último a ser divulgado pela Secretaria Estadual de Educação. A taxa de aprovação entre os alunos de ensino médio é de 98%, e a de abandono escolar é zero. “Esses resultados são mérito não só dos alunos, professores, funcionários e gestão, mas também dos pais. Quanto mais eles participam da vida escolar, melhor nosso desempenho”, destaca Aldineide.

O importante é saber qual é a sua tarefa

As tarefas dos pais não devem ser confundidas com as dos professores. E vice-versa. É o que alerta a professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Fátima Cruz. Segundo ela, o cotidiano atribulado da maioria dos pais e mães dos estudantes não permite que eles acompanhem diariamente os exercícios de casa, por exemplo. São papéis da família lembrar as crianças sobre a importância dos estudos, ensinar a valorizar os professores e conversar com os filhos sobre o dia a dia na escola.

Na hora de fazer a tarefa de casa, porém, é o momento de deixar a criança ou adolescente ter autonomia. “A criança precisa ter autonomia. Se ela não consegue fazer a tarefa sozinha, não estamos ensinando-a a ser independente. Os pais devem, por exemplo, ensiná-los a pesquisar nos livros e na internet, mas deixá-los fazer a pesquisa sozinhos”, diz Fátima.

O ideal é acompanhar a hora da tarefa e dos trabalhos escolares com maior “distanciamento”, deixando a criança ou adolescente se sentir segura para fazer as atividades sozinha. “A aprendizagem dos conteúdos deve ser garantida na escola. É preciso diferenciar o que é papel da escola e o que é papel dos pais. Não dá para jogar a culpa da dificuldade de aprendizagem totalmente em quem, no corre corre do dia a dia, não consegue ver diariamente as tarefas dos filhos”, pontua a especialista.

Ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atual presidente da Associação Brasileira de Educação (ABE), o professor Paulo Alcantara Gomes, destacou que o envolvimento dos pais é fundamental para garantir a qualidade da escola pública brasileira. “Não é possível ter uma boa educação sem avaliação permanente, e os pais são fundamentais nesse sentido. Ao acompanhar os filhos na escola, eles compreendem como podem ajudar em casa e percebem o que podem fazer no processo ensino/ aprendizagem”, ressalta.

Obstáculos herdados

Pesquisa qualitativa da Fundação Lemann, de 2015, mostra que pais no Brasil precisam superar barreiras
culturais e sistêmicas significativas para participar ativamente na educação de seus filhos. Confira os resultados: – Fonte: Fundação Lemann

1. Desvantagem desde o berço

Há uma forte relação entre o desempenho acadêmico de uma criança e o status socioeconômico e repertório cultural de seus pais.

2. Pais não se sentem qualificados

Pais menos escolarizados sentem-se despreparados para ajudar nos conteúdos escolares ou para inspirar boas atitudes em relação ao aprendizado.

3. Deixando para os especialistas

Os pais colocam nos professores a responsabilidade direta pela qualidade da educação de seus filhos e pelo desempenho escolar – e não querem interferir.