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Grupo da escola estadual 10 de Agosto, de São Lourenco da Mata, participou de aula passeio no Paço do Frevo. Fotos: Shilton Araujo/Esp. DP

Grupo da escola estadual 10 de Agosto, de São Lourenco da Mata, participou de aula passeio no Paço do Frevo. Fotos: Shilton Araujo/Esp. DP

Ritmo de aprendizado feito passo a passo

A inclusão do frevo na grade curricular das escolas pernambucanas leva em consideração as características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos estudantes

Frevo não é só música que se ouve e compasso que se dança. Em muitas escolas públicas de Pernambuco, frevo é assunto que se aprende brincando e se torna sério ao ser cobrado em exercícios de casa e em provas. A partir do principal ritmo do carnaval pernambucano, reconhecido em 2012 pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade, professores trabalham conceitos de várias disciplinas. Em sociologia, as transformações sociais são estudadas analisando cenas dos carnavais de antigamente. O frevo pensado a partir das relações com a comunidade afrodescendente, desde as origens até a atualidade, aparece nas aulas de história. Por meio do vocabulário carnavalesco, com palavras como “evoé”, “abafo” e “abre-alas”, peculiaridades da língua portuguesa são trabalhadas.

A inclusão do frevo na grade curricular das escolas pernambucanas revela uma preocupação de professores e gestores com o que prevê a legislação educacional do país. O artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) exige que o currículo do ensino básico brasileiro leve em consideração características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos estudantes. Assim, o ensino de expressões artísticas regionais constitui um componente curricular obrigatório em todas as etapas escolares, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

Uma solução encontrada por professores das redes públicas para trabalhar o assunto junto aos estudantes é a partir de visitas ao Paço do Frevo, espaço localizado no Bairro do Recife e dedicado à difusão, pesquisa, lazer e formação nas áreas da dança e música do frevo. Para escolas públicas, a visita a gratuita e pode ser feita para grupos de até 50 pessoas mediante um agendamento pelo e-mail agendamento@frevo.org.br. “Todas as atividades e vivências oferecidas envolvem processos lúdicos e foram pensadas coletivamente por uma equipe de historiadores, pedagogos e turismólogos”, explica a coordenadora do núcleo educativo do Paço do Frevo, Vanessa Marinho.

Foi a partir da história do frevo que a professora de português Paula Mendes, da Escola Estadual 10 de Agosto, em São Lourenço da Mata, trabalhou a valorização do patrimônio. “Estamos desenvolvendo um projeto de cuidado com a escola chamado ‘Minha escola é dez’, onde combatemos a depredação no ambiente escolar. Fomos ao Paço do Frevo para que eles aprendam que, quando conhecemos e valorizamos algo, não acabamos com ele. É assim com o frevo e pode ser assim com a escola”, afirma. “Poder passear pelos diferentes espaços do museu, ver de perto a evolução do carnaval e brincar com as palavras foi muito empolgante. Aprendemos a valorizar nossa história e nossa cultura”, conta a estudante do terceiro ano do ensino médio Vitória Pereira, 16.

MUSEU NAS ESCOLAS | Se as escolas não forem ao Paço do Frevo, o Paço do Frevo vai até as escolas. Ainda este ano, o espaço cultural deve ganhar uma versão móvel e “sair” do Bairro do Recife para visitar unidades de ensino. O projeto Frevo itinerante: o museu vai às comunidades foi um dos aprovados no último edital do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE). O aporte financeiro de R$ 51 mil já foi garantido, mas a liberação da verba é aguardada para a ação sair do papel. “A ideia é levar as atividades que já desenvolvemos aqui diretamente para as escolas. As unidades que vão receber o projeto, porém, ainda não foram mapeadas”, adianta Vanessa Marinho.

Quando o lúdico ensina a viver

Museu é lugar onde se aprende brincando. Para a professora de psicologia da educação e coordenadora geral do programa de extensão universitária Quem quer brincar?, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Tânia Fortuna, um espaço cultural em que o silêncio e um determinado tipo de caminhar são impostos não é ideal para promover a aprendizagem. A aquisição de conhecimento de forma significativa acontece quando o visitante pode tocar, interagir, viver o local. “O visitante tem que viver de forma lúdica esse espaço. A experiência tem potência muito maior em um lugar que promove o brincar do que em um museu mais tradicional, onde não se pode tocar em nada”, pontua.

A especialista em ludicidade e educação destaca ainda que a aprendizagem por meio da bricadeira não é (nem deve ser) exclusividade das crianças. “Por meio da brincadeira ou jogo, aprendemos a respeitar o limite do outro, a ficar mais tempo concentrados além de entender melhor sobre força física e resistência. Digo isso desde o bebê que chacoalha seu brinquedo até o adulto que participa de jogos”, pontua.

Paula Karina Mendes, 29, professora

Jemerson Raul Borba Leal, 15, aluno do 2º ano

Vitoria Stephany, 16, estudante do 3º ano

Além de gerar aprendizagem significativa por meio do brincar, visitar um museu, para muitos estudantes de escolas públicas, quer dizer elevar a autoestima. “Na rede pública, percebemos que eles não têm muito acesso aos equipamentos culturais da cidade, então, visitar esses espaços traz essa oportunidade para eles”, ressalta a professora de português Paula Mendes. “Já tinha visto o museu pela televisão, mas não sabia que podia visitar. Uma vez, passei na frente de um, mas achava que não podia entrar. Foi muito bom conhecer, pois eu tinha esse desejo”, conta o estudante do segundo ano do ensino médio Jemerson Leal, 15 anos.

[ Repertório

Cardápio educativo do Paço do Frevo:

Ensino fundamental 1

Caça ao Tesouro
Jogo com imagens do Paço do Frevo e do carnaval
Ênfase disciplinar: artes e história

Baú das Fantasias
Baú com objetos e adereços servindo como pistas e investigação para a exposição fotográfico
Ênfase disciplinar: artes

Criação de histórias
Livro escrito e ilustrado de forma coletiva pelas crianças
Ênfase disciplinar: português e artes

Contação de histórias
Leitura dos livros infantis do acervo do museu
Ênfase disciplinar: português

Faça sua troça
Confecção de estandartes com papel e pintura
Ênfase disciplinar: artes e história

Ensino fundamental 2

Jogo de palavras
Vocabulário do carnaval
Ênfase disciplinar: português

Caminhos da folia
Os estandartes e flabelos como se fossem um grande jogo de tabuleiro
Ênfase disciplinar: artes e história

Paço ou repasso
Jogo com imagens e descrição de cenários no Paço do Frevo
Ênfase disciplinar: artes

Ensino médio

Patrimônio e museus
Abordagem sobre noções de patrimônio e museus em percurso pelo espaço
Ênfase disciplinar: história e artes

Frevo e cidade
A partir da visita ao Paço, a história da cidade do Recife e de suas manifestações culturais é enfatizada
Ênfase disciplinar: história, geografia, artes e sociologia

Frevo e consciência negra
A história do frevo pensada a partir das relações com a comunidade afrodescendente, desde as origens até a atualidade.
Ênfase disciplinar: história, geografia, artes e sociologia

Fonte: Paço do Frevo