Tocando a vida na escola
Banda marcial da Rotary do Alto do Pascoal tem a participação de uma família que usa a música e a dança como instrumentos de aprendizado
A Escola Rotary do Alto do Pascoal é como uma extensão da casa do músico Ricardo Moura, 40, e da costureira Valdelice Moraes, 35, moradores do bairro da Zona Norte do Recife. É mais fácil encontrá-los pelos corredores e salas da unidade de ensino do que na casa onde moram. Pais de uma aluna da escola onde também estudaram, Zé Gotinha e Val, como são chamados pelos estudantes da Rotary, são voluntários da banda escolar. É ali que ele e os filhos – mesmo os que não estudam lá – se realizam.
Ricardo é maestro da banda marcial da Rotary desde 2012. Ele foi aluno da escola entre 1989 e 1992, quando o grupo musical foi fundado. Formou-se, estudou no Conservatório Pernambucano de Música, conheceu Val, casou-se, teve quatro filhos e voltou para o lugar onde aprendeu os primeiros acordes. “Nossa relação com a escola é muito especial. Todos os meus filhos convivem com a direção e professores. Aqui é a nossa segunda casa”, diz o pai. Na escola, a dona de casa e costureira Val é coordenadora e estilista da banda. Ela é ex-aluna da escola na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Os filhos do casal seguiram os passos dos pais e, apesar das idades distintas, compartilham as mesmas paixões: música e dança. Todos os integrantes da família fazem parte do grupo musical da Rotary. Os meninos Diego (ex-aluno da escola), 19 anos, e Ryan, 9, tocam trompete. Ryan, que cursa o quarto ano do ensino fundamental na Escola Municipal Alto do Pascoal, tem um sonho que resume o amor da família pela escola. “Quero ser o diretor da Rotary e maestro da banda”, revela.
As meninas da família, Vanessa (única que estuda na Rotary atualmente) e Camilly, 16 e 5 anos, respectivamente, são balizas. Elas se apresentam em frente à banda mostrando passos de ginástica artística, rítmica, dança e arte circense. A mais velha foi campeã nacional da modalidade e ganhou uma bolsa da associação Rotary Internacional – que apoia a escola – para estudar durante um ano na cidade de Arequipa, no Peru, a mais de 5 mil quilômetros de onde a família vive. Durante o intercâmbio, a caçula substitui a irmã na baliza do grupo. “Aqui, a nossa família é mais completa. Posso dizer que a nossa história começou neste lugar”, afirma o maestro. “É na Rotary meus filhos estão virando gente grande. Eles se dedicam aos estudos, estão ganhando o mundo, inseridos na música, visando um futuro melhor, mesmo morando em uma comunidade onde o índice de violência e vulnerabilidade é muito grande. É um orgulho tê-los como músicos”, completou Val, que foi baliza na adolescência.
Ninguém tem direito a privilégios
Conviver diariamente com os estudantes da Escola Rotary do Alto do Pascoal é mais do que acompanhar a vida escolar dos próprios filhos. Ricardo e Val se consideram pais de todos os meninos e meninas da unidade de ensino. Alunos que apresentam dificuldades nas notas e no comportamento ouvem os conselhos dos dois. Os filhos também levam puxões de orelha nos momentos difíceis e de baixo desempenho. “Entre um ensaio e outro, também chamamos a atenção deles quando a nota cai. Dificilmente isso acontece, porque vigiamos os passos deles e ficamos na cola dos professores”, brinca Ricardo.
Segundo Diego Moraes, o primogênito, na hora de ensaiar, não existem privilégios por ser filho do maestro. “Ali, somos todos iguais. Ele me repreende, ensina e chama a atenção da mesma forma como faz com os outros”, conta. Atualmente, a banda tem cerca de 60 integrantes, entre membros da produção, músicos e linha de frente. Todos são “filhos e filhas” de Ricardo e Val.
O gestor da escola, Ranniery Pinheiro, diz que a família é o modelo ideal de base para o bom desenvolvimento educacional dos estudantes. “Em todo núcleo familiar há princípios que são passados de pai para filhos. Atrelando esses princípios a uma educação assistida, o jovem dificilmente desvia do caminho certo. A família do maestro é um exemplo de pais responsáveis, presentes. Se todos fossem assim facilitaria muito o processo de aprendizagem”, elogia.
[ Pensadores
“Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais e ao proporcionar reciprocamente aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades”
“A escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma criança; no entanto, ela necessita da família para concretizar o seu projeto educativo”
[ Família e escola: parceria e corresponsabilidade
Quando escola e família se aproximam,
os pais ou responsáveis se sentem valorizados e se tornam aliados dos professores.
Já os professores
passam a desenvolver mais formas de acompanhamento e auxílio sistemático ao aluno
A iniciativa de aproximação
deve partir da escola e dos professores. A instituição deve oferecer situações de diálogo e convivência
4. Troque informações
Você vai mal nos cálculos, mas um colega que é bom em matemática? Troque conhecimentos com alunos com outros potenciais. Ele pode ensinar a resolver os problemas matemáticos, enquanto você dá aula de redação, por exemplo.
As escolas não devem
adotar postura assimétrica na relação com os pais (quando a presença deles é exigida apenas para corroborar os encaminhamentos institucionais)
Comprometer
(e não responsabilizar) as famílias com o acompanhamento escolar dos filhos revela-se possibilidade de melhoria da qualidade do ensino público