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Maestro, figurinista, músicos e baliza: a família Moura e Moraes ensina a conviver. Fotos: Roberto Ramos/DP

Maestro, figurinista, músicos e baliza: a família Moura e Moraes ensina a conviver. Fotos: Roberto Ramos/DP

Tocando a vida na escola

Banda marcial da Rotary do Alto do Pascoal tem a participação de uma família que usa a música e a dança como instrumentos de aprendizado

A Escola Rotary do Alto do Pascoal é como uma extensão da casa do músico Ricardo Moura, 40, e da costureira Valdelice Moraes, 35, moradores do bairro da Zona Norte do Recife. É mais fácil encontrá-los pelos corredores e salas da unidade de ensino do que na casa onde moram. Pais de uma aluna da escola onde também estudaram, Zé Gotinha e Val, como são chamados pelos estudantes da Rotary, são voluntários da banda escolar. É ali que ele e os filhos – mesmo os que não estudam lá – se realizam.

Ricardo é maestro da banda marcial da Rotary desde 2012. Ele foi aluno da escola entre 1989 e 1992, quando o grupo musical foi fundado. Formou-se, estudou no Conservatório Pernambucano de Música, conheceu Val, casou-se, teve quatro filhos e voltou para o lugar onde aprendeu os primeiros acordes. “Nossa relação com a escola é muito especial. Todos os meus filhos convivem com a direção e professores. Aqui é a nossa segunda casa”, diz o pai. Na escola, a dona de casa e costureira Val é coordenadora e estilista da banda. Ela é ex-aluna da escola na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Todos com suas funções definidas nas apresentações

Todos com suas funções definidas nas apresentações

Os filhos do casal seguiram os passos dos pais e, apesar das idades distintas, compartilham as mesmas paixões: música e dança. Todos os integrantes da família fazem parte do grupo musical da Rotary. Os meninos Diego (ex-aluno da escola), 19 anos, e Ryan, 9, tocam trompete. Ryan, que cursa o quarto ano do ensino fundamental na Escola Municipal Alto do Pascoal, tem um sonho que resume o amor da família pela escola. “Quero ser o diretor da Rotary e maestro da banda”, revela.

As meninas da família, Vanessa (única que estuda na Rotary atualmente) e Camilly, 16 e 5 anos, respectivamente, são balizas. Elas se apresentam em frente à banda mostrando passos de ginástica artística, rítmica, dança e arte circense. A mais velha foi campeã nacional da modalidade e ganhou uma bolsa da associação Rotary Internacional – que apoia a escola – para estudar durante um ano na cidade de Arequipa, no Peru, a mais de 5 mil quilômetros de onde a família vive. Durante o intercâmbio, a caçula substitui a irmã na baliza do grupo. “Aqui, a nossa família é mais completa. Posso dizer que a nossa história começou neste lugar”, afirma o maestro. “É na Rotary meus filhos estão virando gente grande. Eles se dedicam aos estudos, estão ganhando o mundo, inseridos na música, visando um futuro melhor, mesmo morando em uma comunidade onde o índice de violência e vulnerabilidade é muito grande. É um orgulho tê-los como músicos”, completou Val, que foi baliza na adolescência.

Ninguém tem direito a privilégios

Nos ensaios, a atenção é total para melhor harmonia

Nos ensaios, a atenção é total para melhor harmonia

Conviver diariamente com os estudantes da Escola Rotary do Alto do Pascoal é mais do que acompanhar a vida escolar dos próprios filhos. Ricardo e Val se consideram pais de todos os meninos e meninas da unidade de ensino. Alunos que apresentam dificuldades nas notas e no comportamento ouvem os conselhos dos dois. Os filhos também levam puxões de orelha nos momentos difíceis e de baixo desempenho. “Entre um ensaio e outro, também chamamos a atenção deles quando a nota cai. Dificilmente isso acontece, porque vigiamos os passos deles e ficamos na cola dos professores”, brinca Ricardo.

Segundo Diego Moraes, o primogênito, na hora de ensaiar, não existem privilégios por ser filho do maestro. “Ali, somos todos iguais. Ele me repreende, ensina e chama a atenção da mesma forma como faz com os outros”, conta. Atualmente, a banda tem cerca de 60 integrantes, entre membros da produção, músicos e linha de frente. Todos são “filhos e filhas” de Ricardo e Val.

O gestor da escola, Ranniery Pinheiro, diz que a família é o modelo ideal de base para o bom desenvolvimento educacional dos estudantes. “Em todo núcleo familiar há princípios que são passados de pai para filhos. Atrelando esses princípios a uma educação assistida, o jovem dificilmente desvia do caminho certo. A família do maestro é um exemplo de pais responsáveis, presentes. Se todos fossem assim facilitaria muito o processo de aprendizagem”, elogia.

[ Pensadores

“Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais e ao proporcionar reciprocamente aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades”

Jean Piaget

“A escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma criança; no entanto, ela necessita da família para concretizar o seu projeto educativo”

Isabel Parolin

[ Família e escola: parceria e corresponsabilidade

Quando escola e família se aproximam,

os pais ou responsáveis se sentem valorizados e se tornam aliados dos professores.

Já os professores

passam a desenvolver mais formas de acompanhamento e auxílio sistemático ao aluno

A iniciativa de aproximação

deve partir da escola e dos professores. A instituição deve oferecer situações de diálogo e convivência

4. Troque informações

Você vai mal nos cálculos, mas um colega que é bom em matemática? Troque conhecimentos com alunos com outros potenciais. Ele pode ensinar a resolver os problemas matemáticos, enquanto você dá aula de redação, por exemplo.

As escolas não devem

adotar postura assimétrica na relação com os pais (quando a presença deles é exigida apenas para corroborar os encaminhamentos institucionais)

Comprometer

(e não responsabilizar) as famílias com o acompanhamento escolar dos filhos revela-se possibilidade de melhoria da qualidade do ensino público