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Foto: Rafael Martins/ Esp. DP

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Unidos na vida e na universidade

Os gêmeos Yuri e Ytalo dividiram os exercícios em escola pública e conseguiram o feito de garantir vagas em direito e medicina na disputada UFPE

Dez minutos separaram o nascimento dos irmãos Yuri e Ytalo Piauilino. Vinte anos depois, dois minutos separaram a notícia mais importante para a mãe deles, a dona de casa Clarice Piauilino, desde o dia que os gêmeos vieram ao mundo: os dois contaram que haviam passado no vestibular. Com apenas dois minutos de intervalo, Yuri descobriu que tinha passado em medicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Ytalo viu seu nome entre os aprovados do curso de direito da mesma instituição.

Entre a conclusão do ensino médio, em 2013, e a aprovação no vestibular, os irmãos passaram dois anos compartilhando materiais didáticos, trocando exercícios e escrevendo redações juntos. Yuri e Ytalo estudaram na Escola Estadual Alzira da Fonseca Breuel, em Cajueiro Seco, Jaboatão dos Guararapes, onde também moram, mas não conseguiram a aprovação assim que receberam a “ficha 19”.

Durante os dois anos dedicados à busca pelo esperado nome no “listão”, os irmãos tinham rotinas semelhantes. Acordavam cedo, tomavam o café da manhã preparado pela mãe e seguiam para o Centro do Recife. No trajeto do ônibus, escutavam áudios de aulas pelo fone do celular. Bateram em porta de cursinho caro para conseguir bolsa de estudo, participaram de aulões e simulados gratuitos.

“Nossos estudos se dividiam em dois momentos. Primeiro, a gente estudava sozinho, cada um em seu quarto. Depois, sentávamos juntos para trocar informações”, conta Yuri. “Ele me ensinava matemática e física. Eu ajudava em redação”, completa Ytalo.

Além das dificuldades financeiras, os irmãos enfrentaram palavras de desestímulo, inclusive de parentes. “Ouvimos pessoas nos desencorajando. Alguns diziam que precisávamos trabalhar para ajudar nossa mãe. Outros falaram que medicina e direito eram cursos muito difíceis, de gente rica, e que não passaríamos”, lembra Yuri.

A mãe, por outro lado, estimulava os filhos e, apesar da falta de dinheiro, insistia para que eles continuassem estudando. “Nunca pedi para trabalharem, mas pedia para não desistirem. Por isso, eu digo a todos os estudantes da rede pública: não desistam também”, afirma Clarice.

Ida à dentista despertou uma vocação

Durante a infância, o colega de classe dos gêmeos Yuri e Ytalo, George Lima, 21, prestava atenção a cada frase dita pela dentista do consultório odontológico que ele frequentava em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. De volta à casa onde mora, em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, pesquisava os termos mencionados pela odontóloga. Amálgama, ionômero, resina e oclusal foram algumas das palavras que o menino ouvia e decorava.

Anos depois, George descobriu que, em cinco anos, poderá ser colega de trabalho da dentista que ele não lembra o nome, mas que o inspirou. Aprovado em odontologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), George será o primeiro da casa onde mora – com o pai, a mãe e o irmão de 16 anos – a entrar no ensino superior.

Para a segunda entrada (manhã/tarde) de 2016 do curso, a UFPE disponibilizou 50 vagas. George passou em 16º lugar. Do total de vagas, 10 foram disponibilizadas para o grupo do sistema de cotas no qual ele concorreu. “Quando contei sobre a aprovação, meus pais ficaram muito felizes. Minha mãe disse que eu era muito sonhador. Ela lembrou que, desde pequeno, eu ia ao consultório e ficava curioso com os instrumentos”, recorda.

George já se orgulha da história que está escrevendo e do pioneirismo na família. “Tenho apenas duas primas no ensino superior. Meus pais (o guarda noturno José Luiz, 57, e a dona de casa Valdete Maria, 52) não tiveram muitos estudos. Partiu de mim querer uma vida melhor. Eles também me estimularam muito a buscar uma vida diferente da deles”, conta.

 

Dicas de Yuri, Ytalo e George para passar no vestibular

1. Confie no seu potencial

Segundo os universitários, palavras para desestimular quem quer passar numa universidade pública, principalmente nos cursos mais concorridos, serão ditas, mas é preciso manter o foco e não desistir do sonho.

2. Incentivo

Busque conversar com pessoas que dão asas ao sonho de passar no vestibular. Pode ser a mãe, o pai, um primo, colega de classe ou professor. Foque nos conselhos de quem o apoia.

3. Exercite muito

Além de ler sobre os assuntos, exercite os conteúdos fazendo questões de simulados e, principalmente, resolvendo as edições anteriores das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

4. Troque informações

Você vai mal nos cálculos, mas um colega que é bom em matemática? Troque conhecimentos com alunos com outros potenciais. Ele pode ensinar a resolver os problemas matemáticos, enquanto você dá aula de redação, por exemplo.

5. Descanso

A maior parte do tempo de um aluno que quer passar no vestibular deve ser estudando, principalmente se estiver no terceiro ano do ensino médio. Horários de descanso, porém, são fundamentais para relaxar e evitar a ansiedade.