Era de novos estádios no Recife em 1971 (projeto), 1980 (ampliação) e 2007 (arena)

Em três períodos distintos, os grandes clubes pernambucanos apresentaram projetos para a construção e ampliação de estádios no Recife. Seja pelo aporte do governo do estado, por empréstimos bancários de uma estatal ou pela oportunidade de obter investimento público-privado em uma modernização, o fato é que Náutico, Santa Cruz e Sport disputaram o mercado, direta ou indiretamente, em 1971, 1980-1982 e 2007-2011. O funil sempre foi estreito, com apenas um projeto de cada vez, com soluções corretas ou surpresas de última hora. Vamos lá, num passeio estrutural com imagens originais dos nove projetos. Depois, comente sobre os melhores projetos de cada época…

1971, a oportunidade de colocar o estado na Copa da Independência

Na época, a Ilha do Retiro era o maior estádio da capital, mas já considerado obsoleto, sobretudo com o Castelão e a Fonte Nova em evolução, chegando a 80 mil pessoas. A realização de um torneio internacional no país, o maior desde 1950, acabou gerando uma onda de investimentos estatais.

Arruda (conclusão)
Lançamento: 30/08/1964
Capacidade: 64.000
Custo: US$ 850 mil
Prazo original de conclusão: 7 anos (1972), cumprido
Presidentes do Santa Cruz: José do Rêgo Maciel (1964) e James Thorp (1971) 

O Arruda vinha sendo erguido aos poucos desde a década de 1960, com sucessivas ampliações. Em 1971, já recebia até 20 mil espectadores. Foi quando o então governador do estado, Eraldo Gueiros, quis transformar o Recife em subsede da Copa da Independência de 1972, a Minicopa, com a participação de 20 seleções. Com três projetos na mesa, acabou optando pelo Arruda, já no meio do caminho. Assim, liberou um empréstimo através do Bandepe, junto ao grupo Campina Grande S/A, para a conclusão do projeto criado por Reginaldo Esteves. Pelé, o rei, assinou o documento como testemunha. Finalizado em um ano pela construtora Corrêa Loyo Engenharia, o estádio recebeu sete jogos do torneio.

Maquete do Arruda. Foto: Acervo/dp

Presidente Médici (construção)
Lançamento: 06/08/1971
Capacidade: 140.000
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 3 anos (1974), abortado
Presidente do Sport: Ivan Ruy de Andrade Oliveira 

Apontado como a “mais bela praça de desportos”, no primeiro projeto de Oscar Niemeyer para o Nordeste, o estádio seria o segundo maior do mundo, só abaixo do Maracanã. O projeto – cujo nome foi autorizado pelo então general-presidente – ficaria a menos de 1 km da Ilha do Retiro, na Joana Bezerra, cujo terreno de 26 hectares pertencia ao clube. Coberto, o estádio seria dividido por arquibancada (90 mil lugares), popular (25 mil), cadeiras (24 mil) e camarotes (1 mil), além de um estacionamento para cinco mil carros. Três mil cadeiras chegaram a ser vendidas, mas o sonho parou na terraplanagem da Hofmann Bosworth S/A. O motivo? Dívidas. “O Sport estava devendo dinheiro a Deus e ao mundo. Até o terreno, cedido pela família Brennand, foi negociado para amortizar o débito”, lembra Sílvio Pessoa, presidente em 1974.

Maquete do estádio Presidente Médici. Foto: Acervo/DP

Guararapes (construção)
Lançamento: 01/12/1971
Capacidade: 60.000
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 3 anos (1974), abortado
Presidente do Náutico: Luiz Carneiro de Albuquerque 

Hoje em dia, o terreno de 40 hectares na Guabiraba abriga o centro de treinamento do Náutico. A área foi comprada em 20 de julho de 1971 por Cr$ 800 milhões. Para adquirir a propriedade, o clube sorteou 28 carros e 300 prêmios em dinheiro, arrecadando Cr$ 500 milhões (62,5% do total). A ideia, porém, não era fazer um CT, mas sim um moderno estádio, com traços inspirados no Olímpico de Munique, que receberia os Jogos no ano seguinte. O estádio timbu seria erguido pela Ribeiro Franco Engenharia nos moldes da Fonte Nova, utilizando os morros como suporte da arquibancada, diminuindo o custo. Segundo Salomão, ex-coordenador do CT e ex-jogador nos anos 60, o lançamento visava mesmo arrecadar fundos. “Conhecendo a estrutura do futebol, acho que o projeto foi para arrumar dinheiro para pagar dívidas. No final, foi melhor mesmo construir um CT”.

Maquete do estádio Guararapes. Foto: Acervo/DP

1980-1982, a era dos empréstimos do Bandepe

Numa era de gigantismo, com a melhora de infraestrutura sendo sinônimo de estádios maiores, os grandes clubes resolveram investir na ampliação. Se caixa, recorreram ao Bandepe, com influência política para a obtenção de empréstimos Apenas o Santa concluiu a obra, com o Sport parando na primeira parte e investindo o resto em calçamento

Arruda (ampliação)
Lançamento: 20/01/1980
Capacidade: +46 mil lugares (até 110.000)
Custo: Cr$ 282 milhões
Prazo de conclusão: 2 anos (1982), cumprido
Presidente do Santa Cruz: Rodolfo Aguiar

No início de 1980, o projeto de ampliação foi apresentado no Palácio do Campo das Princesas ao então governador Marco Maciel – o filho do nome oficial do Mundão. Ao contrário do estádio coral conhecido hoje em dia, a maquete trazia o anel inferior prolongado a um tamanho gigantesco. A visita visava o financiamento da obra no Bandepe. Além do recurso, era preciso legalizá-la. Numa articulação de um ano junto à Prefeitura do Recife, por causa das residências próximas, o projeto acabou adaptado à forma definitiva, com dois anéis e um lance menor na Rua das Moças. Entre janeiro de 80 e 81, a inflação e novos custo saltaram a previsão de gasto de 70 mi para 282 milhões de cruzeiros. Após a confirmação, o clube divulgou informes publicitários no Diario de Pernambuco com a chamada ““Valeu a pena modificar – Aprovado novo aprovado”.

Maquete original da ampliação do Arruda (1980). Foto: Acervo/DP

Aflitos (ampliação)
Lançamento: 28/11/1981
Capacidade: +25 mil lugares (até 50.000)
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: não divulgado
Presidente do Náutico: Hélio Dias de Assis

O Arruda já estava em obras quando a direção alvirrubra apresentou o “plano de expansão” dos Aflitos. Contaria com novas gerais, fosso, camarotes, cabines de imprensa e um novo lance de arquibancada onde funcionava o velho placar (balança mas não cai). “Não faremos dos Aflitos o maior estádio, mas o mais aconchegante”, frisou o mandatário.” Lendo assim, até parecia algo pequeno, mas seria um dos maiores estádios particulares do país. Na reportagem do Diario de Pernambuco, o custo foi tratado da seguinte forma: “estimativa dentro da realidade do nosso futebol, ou seja, o Náutico está se preparando para o presente e futuro”. A obra não saiu, com o clube usando parte do recurso obtido no Bandepe para a reforma do calçamento de todo o clube. Ps. A ampliação realizada nos Aflitos entre 1996 e 2002 ficou bem parecida.

Maquete da ampliação dos Aflitos (1981). Foto: Arquivo/DP

Ilha do Retiro (ampliação)
Lançamento:25/04/1982
Capacidade: +55 mil lugares (até 90.000)
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 2 anos (1984) na 1ª etapa e 4 anos (1986) na 2ª
Presidente do Sport: José Antônio Alves de Melo

A ideia era aumentar em 157% a capacidade da Ilha, em duas etapas, como registra o texto original do Diario: “a obra foi dividida em forma de blocos, ou seja, o estádio seria ampliado em quatro etapas (…). Entretanto, com as alterações feitas no projeto, os trabalhos ficaram divididos em apenas duas etapas: a primeira compreende 80% das obras e os 20% restantes representam a segunda”. Só a primeira saiu do papel. Imaginava-se 70 mil, mas a lotação máxima (com os tobogãs e as novas cadeiras centrais) seria de 52 mil pessoas. O ex-presidente Jarbas Guimarães ainda foi profético na época: “O futebol pernambucano tinha que manter a sua célula-mater viva, ou seja, nunca construir um estádio estadual, e sim, reformar e ampliar os três estádios particulares”. Como o Náutico, usou parte do dinheiro no calçamento.

Maquete da ampliação da Ilha do Retiro (1982). Foto: Arquivo/DP

2007-2011, a onda das arenas para a Copa do Mundo

Com o Brasil confirmado como sede do Mundial de 2014, em 2004, inúmeros governos estaduais e/ou clubes começaram a articular projetos de arenas, seguindo o pesado caderno de encargos da Fifa. Na época, o discurso era de investimento privado, o que pouco depois se mostraria longe da verdade, com inúmeros financiamentos federais. Ah, os três projetos abaixo ficaram no 3D, com o governo do estado bancando a Arena Pernambuco, criada em 2009, a 19 quilômetros do Marco Zero.

Arena Coral (ampliação e modernização)
Lançamento: 28/06/2007
Capacidade: 68.500
Custo: R$ 190 milhões
Prazo original de conclusão: 7 anos (2014)
Presidente do Santa Cruz: Édson Nogueira

A Arena Recife-Olinda, em Salgadinho, foi o primeiro projeto de arena no estado. Surgiu em 29 de maio de 2007, orçada em R$ 335 milhões. No mês seguinte, o Santa Cruz apresentou uma alternativa, com o plano de mordernização do Arruda, 43% mais barato. Com a capacidade estipular (68,5 mil), o palco poderia receber qualquer jogo da Copa. O custo da obra seria dividido entre reforma (R$ 150 mi) e a construção de um prédio de serviço, sede e estacionamento (R$ 40 mi). “O melhor é que o clube não vai precisar gastar nada. Todo o dinheiro virá da iniciativa privada. Hoje já temos contatos com quatro investidores interessados no projeto”, garantiu David Fratel, diretor da Engipar, a empresa paulista que firmou a parceria com o Tricolor, responsável pela captação de recursos. Os recursos jamais foram captados.

Arena Coral. Imagem: divulgação

Arena Timbu (construção)
Lançamento: 18/11/2009
Capacidade: 30.000
Custo: R$ 300 milhões
Prazo original de conclusão: 5 anos (2014), abortado
Presidente do Náutico: Maurício Cardoso

A direção do Náutico anunciou a ideia de construir uma arena em 2007. Na época, dois projetos já tinham sido lançados, a Arena Coral e a Arena Recife-Olinda. Dois anos depois, refinou a ideia e a apresentou ao então prefeito, João da Costa. Com capacidade para 30 mil pessoas, o projeto seguia os traços modernos dos novos estádios, já contendo um capítulo de ampliação para 42 mil lugares – visando a Copa. Localizado entre a BR-101 e a Avenida Recife, no Engenho Uchôa, o estádio seria operado durante 30 anos pelo consórcio envolvendo Camargo Corrêa, Conic Souza e Patrimonial Investimentos. O estádio, que não chegou a conseguir a autorização da prefeitura, foi deixado de lado quando o timbu começou a negociar o contrato para mandar seus jogos na Arena Pernambuco, o que acabou ocorrendo em 17 de outubro de 2011.

Arena do Náutico. Crédito: divulgação

Arena Sport (construção)
Lançamento: 17/03/2011
Capacidade: 45.000
Custo: R$ 400 milhões (ou R$ 750 milhões pelo complexo)
Prazo original de conclusão: 4 anos (2015)
Presidente do Sport: Gustavo Dubeux 

Aproveitando a onda de investimentos, o Sport articulou a sua própria arena, à parte do empreendimento em construção em São Lourenço. O plano era demolir o clube e erguer um estádio multiuso, um shopping center, dois empresariais e um hotel. No entanto, a direção leonina não esperava tantas barreiras burocráticas junto à Prefeitura do Recife. A principal autorização, dada pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU), só viria em dezembro de 2013 – essa demora resultou numa mudança completa na arena, saindo da DDB/Aedas para o escritório Pontual Arquitetos, cujo projeto foi revelado em março de 2012. Ainda assim, era preciso regularizar outros documentos. Quando tudo para iniciar a obra ficou ok, o investidor anunciado, a Engevix, não entrou mais em contato – e posteriormente seria investigada na Lava-Jato.

Arena do Sport. Crédito: divulgação

Licença de clubes da CBF vale a partir de 2018, com Sport, Santa e Náutico na mira

A licença de clubes por parte da CBF. Crédito: CBF/site oficial

A CBF apresentou aos 40 clubes das duas principais divisões de 2017, entre eles Sport, Santa e Náutico, as diretrizes mínimas para a licença de clubes da entidade, que será implantada em 2018 na Série A e em 2019 na Série B. Esse tipo de regulamentação para a confirmação em torneios começou em 2008, com a Fifa. Sob a chancela brasileira, então, Séries A, B, C e D, e Copas do Brasil, do Nordeste e Verde. Hoje, existem 766 clubes profissionais no país.

Segundo a assessoria da confederação, a licença deve seguir os critérios da Conmebol, cujo regulamento de 63 páginas foi divulgado em 29 de setembro de 2016. Ao todo, são 41 exigências, com prazo de execução de quatro temporadas, entre 2018 e 2021. Na primeira, de acordo com a norma sul-americana, já são 24 itens. Um deles, por exemplo, demanda a participação de um time feminino na categoria principal. A partir de 2019, quem não tiver um departamento feminino não poderá disputar nem a Libertadores nem a Sula. Não por acaso, o Sport, após dois anos inativo, recriou a sua equipe. Hoje, o Trio de Ferro está ok. A futura licença da CBF é fundamentada em cinco pilares.

1) Questões esportivas (desenvolvimento da base e do futebol feminino)
2) Infraestrutura (adequação dos estádios e centros/locais de treinamentos)
3) Administrativas e relações pessoais (profissionalização dos treinadores)
4) Questões legais (pagamento em dia de salários e tributos)
5) Questões econômicas (despesas limitadas às receitas reais)

As divisões interiores e as fases preliminares da Copa do Brasil deverão ter uma maior flexibilidade. Hoje, a restrição é apenas na capacidade de público e no sistema de iluminação, mas gramado e estrutura para imprensa entram na pauta. Uma mudança já em vigor no país é a padronização dos campos, com dimensões 105m x 68m. Tanto a Ilha (109,95m x 72,2 m) quanto o Arruda (105m x 70m) foram readaptados. As punições devem ir de multa à exclusão.

Podcast – A análise das estreias de Náutico, Sport e Santa no Nordestão

Os grandes clubes pernambucanos estrearam oficialmente em 2017, com jogos pela Copa do Nordeste. Saldo positivo, com duas vitórias no Recife e um empate em Campina Grande, com o tricolor buscando o mesmo resultado da última decisão regional. Hora de analisar as novas formações, as estreias dos reforços, com destaques e críticas através do podcast 45 minutos. Ao todo, foram 73 minutos em três gravações exclusivas com muito futebol.

Estou nessa com Cabral Neto, Celso Ishigami, Fred Figueiroa, João de Andrade Neto e Rafael Brasileiro. Ouça agora ou quando quiser!

Náutico 4 x 0 Uniclinic (31 min)

Sport 1 x 0 Sampaio Corrêa (23 min)

Campinense 1 x 1 Santa Cruz (19 min)