Quase sem água, os precários campos da primeira fase do Pernambucano de 2017 estão ameaçados de veto no hexagonal

Estádio Pereirão em 13/12/2016. Foto: Serra Talhada/twitter (@Serra_TalhadaFC)

A crise hídrica, com o Nordeste vivendo a maior seca em um século, age diretamente na qualidade dos gramados dos times intermediários, da região metropolitana ao sertão. Com receitas modestas e pouca ajuda das prefeituras para bancar seguidos caminhões-pipa (de uma forma geral), o quadro é dos piores já vistos no futebol pernambucano. Tanto que a fase principal, o hexagonal do título, pode não contar com os palcos hoje autorizados. É o que diz primeira circular do ano, publicada pela FPF, chamando a atenção dos nove intermediários sobre o estado dos gramados. Todos foram alertados sobre a possibilidade de veto. Ainda que não haja tal regra no regulamento do Estadual 2017 (que exige, apenas, uma capacidade mínima de 10 mil espectadores a partir do mata-mata), no regulamento geral de competições da FPF há um artigo que dá à entidade o poder de veto, independentemente dos laudos técnicos.

Em caráter preventivo, a federação lembrou um artigo presente no RGC (abaixo, em itálico) e também a diretriz operacional quando os locais são utilizados por equipes das Séries A e B, caso do Trio de Ferro. Uma nova vistoria (já surpreende a primeira) será feita entre os dias 21 e 24 de janeiro.

Artigo 5º – Incumbe à diretoria de competições da FPF, na qualidade de órgão gestor técnico das competições:
VI – “Validar os estádios ao termino de cada fase/turno das competições, independentemente da vigência dos Laudos Técnicos estabelecidos em Lei, objetivando a qualificação do evento, exigida em face dos contratos de televisionamento e da premissa do programa de Projetos de Gramado, implantado pela CBF, em 2016.”

Dos nove times, oito estão no interior. Um deles já não joga em seu município, o Belo Jardim. Com o Sec-Mendonção castigado (imagine a situação!), o Calango acabou acertando com a liga caruaruense o aluguel do Antônio Inácio. Abaixo, imagens recentes dos campos de cada clube, todas registradas em janeiro.

América – Estádio Ademir Cunha (Paulista, a 17 km do Recife)
Foto em 17/01, no treino do América

O Mequinha toma conta do estádio municipal desde 2010. No último ano, o local acabou sendo bastante usado por categorias de base de outros clubes, além de peladas de fim de ano e ações sociais. Devolvido em péssimo estado, o campo vem recebendo placas de grama, compradas pelo próprio alviverde.

Estádio Ademir Cunha em 17/01/2017. Foto: América/twitter (@america_pe)

Atlético Pernambucano – Estádio Paulo Petribú (Carpina, 45 km)
Foto em 15/01, Atlético 0 x 2 América

O acanhado estádio, que começou sendo utilizado sem torcida, por falta de laudos técnicos de segurança e bombeiros, tem inúmeros buracos, com um piso duro. Ao menos, tem uma grama verdinha acima da média.

Estádio Paulo Petribú em 15/01/2017. Foto: América/facebook (@americafcpe)

Acadêmica Vitória – Estádio Carneirão (Vitória de Santo Antão, 50 km) 
Foto em 04/01, Vitória 3 x 0 América

O campo do Severino Cândido Carneiro foi o primeiro a chamar atenção negativamente, por causa da inédita transmissão via internet, com o globo.com exibindo Vitória x América. A quantidade de buracos nas laterias gerou críticas da FPF. Apesar da capacidade de público apta ao hexagonal, está ameaçado.

Estádio Carneirão em 04/01/2017. Foto: Márcio Souza/A Voz da Vitória (avozdavitoria.com)

Central – Estádio Luiz Lacerda (Caruaru, 130 km) 
Foto em 15/01, Central 2 x 0 Belo Jardim

Vale lembrar que em 2016 a Patativa firmou um acordo para a reutilização da água da Compesa. Em um mês, na ocasião, a reutilização gerou 120 caminhões com 12 mil litros cada. Ou seja, 1,44 milhão de litros sem uso aparente deixaram o campo verde. Neste ano, nem esse tipo de água foi suficiente. Além de caminhões-pipa, o clube vem usando água do poluído Rio Ipojuca.

Estádio Lacerdão em 15/01/2017. Foto: Belo Jardim/facebook (@CalangolBJFC)

Belo Jardim – Estádio Antônio Inácio (Caruaru, 130 km)
Foto em 08/01, Belo Jardim 3 x 0 Vitória

O estádio, também conhecido como Vera Cruz, apresenta remendos, mas conta com um campo melhor que o do outro estádio da cidade. Tende a receber o Central caso o Lacerdão seja vetado ou não seja melhorado a tempo. Quanto ao Belo Jardim, o time é mandante a 49 km de distância. Às moscas. Em Belo Jardim, já treinou no estádio do rival local, o campo sintético da “Gameleira”.

Estádio Antônio Inácio em 08/01/2017. Foto: Belo Jardim/facebook (@CalangolBJFC)

Flamengo – Estádio Áureo Bradley (Arcoverde, 256 km) 
Foto em 04/01, Flamengo 2 x 1 Belo Jardim

Apontado pela FPF como o melhor campo no interior, neste ano, o gramado de Arcoverde é o único que vinha sendo cuidado pela prefeitura de maneira prévia, com acordo para fornecimento de água em níveis satisfatórios. O Fla só deixaria o local em caso de mata-mata (por falta de arquibancadas maiores).

Estádio Áureo Bradley em 04/01/2017. Crédito: Dárcio Rabêlo (darciorabelo.com.br) / Youtube (reprodução)

Afogados – Estádio Vianão (Afogados da Ingazeira, 386 km) 
Foto em 11/01, Afogados 1 x 3 Salgueiro

Utilizado pela primeira vez na primeira divisão estadual, o local tem um tom mais uniforme de grama, ainda que a irrigação também sofra com a estiagem.

Estádio Vianão, em Afogados, no dia 11/01/2017. Foto: Salgueiro/twitter (@CarcaraNet)

Serra Talhada – Estádio Nildo Pereira (Serra Talhada, 415 km) 
Foto em 08/01, Serra Talhada 3 x 3 Atlético

Uma calamidade o cenário no Pereirão. Sem grama em diversos pontos, com o Cangaceiro precisando implantar, desde dezembro, placas de grama – ainda insuficientes para todo o campo, como a grande área, de areia.

Estádio Pereirão em 08/01/2017. Foto: Geovani / Serra Talhada (ascom)

Salgueiro – Estádio Cornélio de Barros (Salgueiro, 518 km) 
Foto em 02/01, treino do Salgueiro

A casa do Salgueiro seria a única, hoje, a atender tanto a capacidade mínima na semifinal quanto o gramado. Ainda assim, vem tentando melhorar desde dezembro, uma vez que o piso estava completamento seco. Alega-se à falta d’água e de manutenção a disputa eleitoral. O prefeito eleito acabou sendo Clebel Cordeiro, ex-mandatário do Carcará.

Estádio Cornélio de Barros em 02/01/2017. Foto: Salgueiro/twitter (@CarcaraNet)

A capacidade máxima dos 12 estádios do Campeonato Pernambucano de 2017

Estádios do Campeonato Pernambucano de 2017

Para a liberação dos doze estádios inscritos no Campeonato Pernambucano de 2017, a FPF exigiu laudos técnicos de engenharia, segurança, bombeiros e vigilância sanitária. Ainda que alguns gramados, como o do Carneirão – exibido na primeira transmissão via internet -, sigam em péssimas condições, onze palcos foram confirmados antes da abertura da competição – exceção feita ao Paulo Petribú, em Carpina, na primeira rodada. Sobre a capacidade máxima (quadro abaixo), os dois palcos da capital seguem reduzidos em relação à versão mais recente do Cadastro Nacional de Estádios, da CBF.

pedido do Ministério Público em novembro de 2015, Arruda e Ilha do Retiro perderam 9,4 mil e 5,5 mil lugares, respectivamente. Ou seja, no máximo 50 mil torcedores no Mundão (que já recebeu 96 mil) e 27 mil na casa leonina (que já acomodou 56 mil) – para retomar a capacidade original, Sport e Santa se comprometeram a cumprir as exigências até 2018. Já a Arena tem a maior diferença a favor, com 1,5 mil lugares a mais que o cadastro. Ao todo, existem 37.852 cadeiras à disposição do público geral, descontando camarotes, cadeiras vips e área de imprensa, o que corresponde a 83% da carga. Outras quatro praças esportivas também receberam pequenas ampliações (segundo os laudos), com destaque para o Luiz Lacerda. O estádio do Central, cujo gramado é um dos mais preocupantes em 2017, tem 518 lugares a mais.

Ao contrário da edição anterior, que exigia pelo menos três mil lugares até o hexagonal e dez mil nos mata-matas, desta vez a FPF estipula uma capacidade mínima somente a partir da semifinal, com “dez mil espectadores sentados”. Assim, o Vianão, em Afogados, com dois mil lugares, poderia receber o Trio de Ferro num hipotético confronto no hexagonal. Já numa possível fase decisiva, apenas três cidades estão aptas no interior: Vitória, Caruaru e Salgueiro.

A capacidade máxima de público dos estádios do Pernambucano 2017. Arte: Cassio Zirpoli/DP

No último jogo profissional de 2016, o Flamengo de Arcoverde é bi da Série A2

Flamengo de Arcoverde campeão pernambucano da 2ª divisão em 2016. Foto: FPF/site oficial

No sertão pernambucano, no acanhado e lotado estádio Vianão, com dois mil espectadores, Afogados da Ingazeira e Flamengo de Arcoverde fizeram o último jogo profissional do Brasil em 2016. O confronto só aconteceu na tarde deste 18 de dezembro por causa do atraso da competição, com ações judiciais entre os participantes, alegando escalações irregulares nos adversários. Passado (e julgado) o imbróglio, a segunda divisão estadual avançou no mata-mata, até o acesso dos dois clubes. E em jogo único ambos decidiram o título.

Com a melhor campanha, a Coruja, como é conhecido o Afogados, tentava ser o 28º campeão do futebol pernambucano. Já o Fla, outrora rubro-negro e agora com escudo corintiano, buscava o bi na Série A2. Em 1996, fora de casa, levou a melhor diante do 1º de Maio. Vinte anos depois, também como visitante, o Tigre recebeu a segunda taça após a vitória por 2 x 1, com gols de Williams aos 43 e 46 do primeiro tempo. Após o intervalo, administrou a vantagem, tornando-se o quarto multicampeão da segundona. Está a um título do Vera Cruz. Contudo, com a primeira divisão pela frente, essa meta não tem pressa alguma…

Falando em elite, Fla e Afogados só vão ter 17 dias para descansar. A 1ª divisão de 2017 começa em 4 de janeiro, com o campeão da A2 jogando em casa, no Áureo Bradley, contra o Belo Jardim, e o vice indo a Carpina enfrentar o Atlético.

Os multicampeões da segunda divisão estadual
3 – Vera Cruz (2006, 2009, 2014)
2 – Petrolina (2001, 2010), Vitória (2008, 2013) e Flamengo (1996, 2016) 

1 – Maguari, Sete de Setembro, Ferroviário, Central, Unibol, Itacuruba, Porto, Ypiranga, Estudantes, Salgueiro, Serra Talhada, Chã Grande e Belo Jardim

Flamengo de Arcoverde campeão pernambucano da 2ª divisão em 2016. Foto: FPF/facebook

Sertão emplaca quatro dos doze clubes do Campeonato Pernambucano de 2017

Os 12 clubes do Campeonato Pernambucano de 2017. Arte: Cassio Zirpoli/DP

O Campeonato Pernambucano de 2017 começa em 4 de janeiro, mas só agora, faltando 21 dias, todos os doze participantes foram definidos. Após o atraso judicial na segunda divisão local, com vários clubes alegando escalações irregulares em adversários, saíram os dois classificados à elite. E a festa foi toda no Sertão, que torceu de longe por seus representantes, com Afogados e Flamengo de Arcoverde conquistando a classificação nos estádios Ferreira Lima, em Timbaúba, e Gileno de Carli, no Cabo. Com a dupla classificação sertaneja, a região empata com o Grande Recife em número de participantes, o que não ocorria desde 2012. Substitui os agrestinos Porto e Pesqueira.

Número de clubes por mesorregião:
2017 – RMR 4, Sertão 4, Mata 2, Agreste 2
2016 – RMR 4, Agreste 4, Mata 2, Sertão 2
2015 – RMR 4, Agreste 4, Mata 2, Sertão 2
2014 – RMR 4, Agreste 4, Mata 2, Sertão 2
2013 – Agreste 5, RMR 3, Sertão 3, Mata 1
2012 – RMR 4, Agreste 4, Sertão 4, Mata 0
2011 – RMR 5, Agreste 3, Sertão 3, Mata 1
2010 – RMR 4, Agreste 4, Mata 2, Sertão 2
2009 – RMR 4, Agreste 4, Sertão 3, Mata 1
2008 – Agreste 5, RMR 3, Sertão 3, Mata 1

Os dois finalistas da Série A2 haviam empatado as semifinais em seus domínios, precisando vencer fora de casa. Numa chave que indicaria um participante inédito, Afogados e Timbaúba empataram outra vez em 1 x 1, com o acesso da Coruja arrancado nos pênaltis, 5 x 3. Em mais de um século de bola rolando, a cidade da medalhista olímpica Yane Marques, de 36 mil moradores, finalmente fará parte da 1ª divisão. Já na região metropolitana, a Cabense era a favorita, mas o Fla goleou por 4 x 1. O time, com escudo e uniformes diferentes hoje em dia, volta à elite após 18 anos! Agora, a despedida do futebol local em 2016 será com Afogados x Flamengo, valendo o título, em 18 de dezembro.

A distribuição dos participantes de 2017 por mesorregião:
Grande Recife (4) – 
América, Náutico, Santa Cruz e Sport
Zona da Mata (2) – Atlético (Carpina, a 45 km da capital) e Vitória (50 km)
Agreste (2) – Central (Caruaru, 130 km) e Belo Jardim (187 km)
Sertão (4) – Flamengo (Arcoverde, 256 km), Afogados da Ingazeira (386 km), Serra Talhada (415 km) e Salgueiro (518 km)

Participações (1915-2017):
103 – Santa Cruz (primeira em 1915)
102 – Náutico (1916)
101 – Sport (1916)
83 – América (1915)
54 – Central (1937)
11 – Salgueiro (2006)
6 – Acadêmica Vitória (2009) e Serra Talhada (2012)
5 – Belo Jardim (2007) e Flamengo (1994)
3 – Atlético Pernambucano (2015)
1 – Afogados (2017)

Confira a tabela da primeira fase do Campeonato Pernambucano clicando aqui.

Sub 23, o novo caminho para a elite pernambucana, com e sem profissionais

Clubes do Pernambucano Sub 23 de 2014 (segunda divisão). Crédito: Cassio Zirpoli

A segunda divisão do Campeonato Pernambucano foi instituída de forma regular em 1995, tendo como primeiro campeão o Sete de Setembro de Garanhuns.

Deficitária desde sempre, a competição se manteve aos trancos e barrancos com estádios vazios, jogos ruins e tendo como único ponto a favor o acesso. A movimentação do interior era quase uma falácia, com arremedos em campo.

Demorou quase duas décadas, mas a FPF tomou uma atitude e reformulou o torneio de forma drástica, dando um sentido a mais além das vagas. A partir de agora, a segundona, a popular Série A2, passa a ser o Pernambucano Sub 23.

Os dois lugares na elite do futebol local seguem em disputa. Porém, para isso as equipes postulantes terão que seguir o mesmíssmo modelo.

Em cada jogo, os time podem inscrever 22 jogadores, com pelo menos 18 tendo no máximo 23 anos (nascidos a partir de 1992). O formato é semelhante ao da Olimpíada, mas aqui cinco nomes sequer precisam ser profissionais…

Até a conquista do título, os 15 clubes vão passar por cinco fases, sendo duas etapas em grupos e o restante em mata-mata. Acesso somado às revelações.

Elogio à parte, a federação precisa mudar outro cenário, o das arquibancadas. A segundona (“Sub 23”) começou com campos precários e vazios, como sempre.

Grupo A: Araripina, Afogados, Altinho e Petrolina.
Grupo B: Belo Jardim, Centro Limoeirense, Sete de Setembro e Timbaúba.
Grupo C: Barreiros, Ferroviário do Cabo, Jaguar e Vera Cruz.
Grupo D: Atlético/PE Íbis e Olinda.

O Decisão, que integraria a chave D, desistiu. Favoritos ao acesso?

Jogos da rodada de abertura do Pernambucano Sub 23 de 2014. Fotos: FPF/site oficial