Chico Science e Ariano Suassuna, mitos transformados em taças de Santa e Sport

Chico Science e Ariano Suassuna em encontro na década de 1990. Foto: Arquivo/Fred Jordao/DP

Chico Science e o manguebeat…  Ariano Suassuna e movimento armorial.

Dois dos nomes mais populares e queridos da cultura pernambucana, ainda que Ariano tenha nascido na vizinha João Pessoa. A paixão dos dois pelo estado era tão grande que não havia como ignorar o futebol. Chico, tricolor. Ariano, rubro-negro. Viventes das arquibancadas.

Na década de 1990, os dois viveram o auge nacionalmente, com os álbuns Da lama ao caos e Afrocibederlia e a adaptação da peça teatral O Auto da Compadecida. Entre essas obras, alguns encontros. Sempre ricos de ideias, amigos pessoais.

Hoje, eternizados, ocupam um lugar especial na memória de todos. Na música, na dramaturgia, no teatro, nos movimentos culturais etc. As homenagens são muitas, e o futebol faz parte delas.

Chico já havia sido caricaturado em uma figurinha do álbum do clube coral, enquanto os traços de Ariano inspiraram uma linha de uniformes leoninos.

Agora, um novo passo. Em 2015, em dois amistosos internacionais, Santa Cruz e Sport criaram taças amistosas com os nomes dos ilustres torcedores.

Primeiro, o Leão lançou a Taça Ariano Suassuna, visando o confronto contra o Nacional do Uruguai. O jogo contra o tricampeão da Libertadores foi agendado para a Arena Pernambuco, em 24 de janeiro.

A Cobra Coral não deixou por menos e batizou de Taça Chico Science a partida contra o Zalgiris Vilnius, da Lituânia. Mesmo nomeando a disputa depois, o jogo contra o bicampeão lituano foi marcado mais cedo, dia 22, no Arruda.

Que os troféus instituídos tenham vinda longa na pré-temporada dos rivais das multidões. E que o Náutico também lance o seu. Qual alvirrubro seria homenageado?

Sport carimba o campeão da Recopa. Só sei que foi assim…

Série A 2014, 12ª rodada: Sport 2x1 Atlético-MG. Foto: sportrecife/instagram

Eurico e Severino, os heróis de uma tarde dedicada a Ariano.

Saídos diretamente de O Santo e a Porca e O Auto da Compadecida.

Chicó, o maior personagem, vestiu a 9, mas não esteve em seu melhor dia. Contudo, a obra do escritor rubro-negro é vasta. Do tamanho do Sertão.

Havia espaço para vários outros nomes.

Os atleticanos, no embalo de uma Recopa erguida em Minas, bem que tentaram acabar com um domingo em memória a Suassuna.

Pressionaram bastante, com muita qualidade. Tardelli, Maicossuel, Jô…

Pararam em João Grilo, vulgo Magrão.

Pois é. Do outro lado, encontraram adversários rebatizados, encarnando nomes já gravados na cultura nordestina… e brasileira.

Após um tempo de pouca ação do time de Ariano, a bronca no intervalo. Responsável pela formação, Eduardo Batista vai usando uma criatividade armorial para fazer o Sport render. Vem conseguindo.

Para isso, era preciso fazer a equipe acordar na marcação, melhorar as jogadas pelos lados e, sobretudo, chutar mais.

Não há reino mágico que faça isso tudo surgir sem esforço… E houve.

A tarde de alegria, como foi a vida de Ariano, começou com Severino, outrora Durval, lançando para Eurico, o improvável Felipe Azevedo. Bola nas redes.

Seguiu com o próprio Severino, regenerado, ampliando no buruçu.

No fim, o rebuliço ainda foi grande, mas Ariano teve uma merecida vitória, 2 x 1.

Foi uma partida dificílima na velha Ilha, mas só sei que foi assim…

Série A 2014, 12ª rodada: Sport 2x1 Atlético-MG. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press

“Felicidade é torcer pelo Sport”, de Ariano Suassuna para a eternidade

Ariano Suassuna na Ilha do Retiro, com Fumagalli, em 2007. Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press

“O Sport, pra mim, é – e sempre foi – uma das coisas mais importantes na minha vida.”

“Felicidade é torcer pelo Sport.”

As frases foram ditas há tempos por Ariano Suassuna, paraibano de nascimento e pernambucano de coração. Ambas tornaram-se inerentes ao escritor, um frequentador assíduo da Ilha do Retiro desde 1938, levado ainda criança pelo compositor tricolor Capiba, amigo da família.

Um rubro-negro na essência, sempre vestido de vermelho e preto, ou “Sport Fino” segundo a descrição do próprio, presente nas grandes conquistas do clube. Tamanha paixão pelo Sport lhe rendeu uma homenagem especial.

Em julho de 2013, as declarações foram gravadas no uniforme do Leão, numa linha inspirada nos traços armoriais, o estilo regional criado pelo autor.

“Agora estando ou não no estádio, estou sempre presente. Estarei lá por meio da camisa.”

Ali, já tratava-se de uma grande verdade.

Em 13 de maio deste ano, Ariano comemorou o último aniversário do clube, gravando um vídeo de parabéns destinado à torcida leonina.

Aos 87 anos, após resistir o quanto pôde, Ariano nos deixou, ficando na eternidade. Dono de uma personalidade com nuances na cultura, no esporte e na política, o escritor de O Auto da Compadecida está marcado na história.

Clubismo à parte, ficará na memória de rubro-negros, alvirrubros e tricolores.

Admiradores de um pernambucano nato.

Camisa especial do Sport para Ariano Suassuna. Foto: Alexandre Barbosa/DP/D.A Press

O 109º parabéns ao Sport nas palavras de Ariano Suassuna

O escritor Ariano Suassuna gravou um depoimento à tevê oficial do clube sobre o 109º aniversário do Sport, neste 13 de maio.

Na ocasião, o dramaturgo paraibano de 86 anos também explicou como surgiu a sua paixão pelo Leão. Tem relação até com o Auto da Compadecida.