Não é a casa da Copa América. É a casa do futebol

Estádio La Bombonera, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Na capital, apenas um estádio será utilizado na Copa América de 2011. Um estádio e um jogo. O Monumental de Nuñez, do River Plate, será o palco da final, em 24 de julho. No entanto, o campo mais visitado do país continua sendo a Bombonera.

Inaugurada em 1940, a “cancha” jamais recebeu um jogo da Copa América. E olhe que no período o país sediou a competição em 1946, 1959 e 1987. A aura criada em torno de uma edificação que parece brincar com as leis da física basta.

Mesmo com o intervalo na temporada argentina de futebol – aqui, o ritmo é o mesmo da Europa, começando no segundo semestre -, a casa do Boca Juniors, com capacidade para 57.503 pessoas, virou um ponto oficial do turismo argentino.

O principal caldeirão da América do Sul está sempre no catálogo das agências.

A prática turística no local foi iniciada no início da década passada, no embalo dos títulos internacionais do clube xeneize, com Libertadores e Mundiais. Porém, colaborou bastante a construção do museu do clube, o mais visitado da cidade.

Aproveitando a folga da Seleção Brasileira nesta segunda, o blog deu uma passada no bairro de La Boca. O espírito copeiro de lá faz falta à Seleção…

Estádio La Bombonera, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Nem Boca nem River. Só All Boys

All Boys

Buenos Aires – Eis uma pergunta básica sobre o futebol portenho…

“Boca Juniors ou River Plate?”

Para a maioria dos turistas que puxam um papo sobre futebol, os dois gigantes argentinos são as únicas opções  para despertar a paixão clubística.

Mas ainda existem outros times tradicionais no país, como Independiente, Racing, Vélez Sarsfield e Estudiantes, todos com troféus da Libertadores e do Mundial.

Sendo assim, o que faz algúem torcer por outra equipe em Buenos Aires? Existem mais de 15 clubes na cidade, todos com estádio particular.

Torcero “bairro” ainda é uma tradição forte, sobretudo nas classes mais pobres.

Um desses times, encravado no bairro de Floresta, é o chico All Boys. Ausente na elite argentina durante 30 anos, o clube voltou recentemente e fez até estrago, vencendo o River Plate – algo que, de certa forma, indluenciou no rebaixamento do Millonario.

Abaixo, conheça o taxista e hincha Cristian Rojas, de 29 anos, que há mais de 15 anos gasta parte do salário para ir ao estádio Isla Malvinas, casa do alvinegro.

Não por acaso, ele foi falando de futebol durante os 50 minutos até La Plata…

Domingo dos tambores silenciosos

Tambores

“De acuerdo a la reunión del Comité de Seguridad de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires celebrada el 12 de mayo del corriente, y por los antecedentes del último Boca-River, se resuelve como medida de seguridad que no ingresen ni banderas ni bombos ni otros elementos que puedan perjudicar la seguridad del espectáculo el próximo domingo 15 en el estadio de Boca Juniors”.

Nota oficial das autoridades argentinas (veja AQUI).

Domingo, às 16h, Boca Juniors e River Plate vão se enfrentar no mítico estádio La Bombonera, pelo campeonato argentino.

No mesmo dia e no mesmo horário, a 3.786 quilômetros de distância, Santa Cruz e Sport vão decidir o título pernambucano de 2011 no Arruda.

Expectativa de 45 mil hinchas em Buenos Aires e 60 mil torcedores no Recife. Nem cá nem lá teremos a batucada das arquibancadas.

A falta de educação de alguns prejudica bastante o espetáculo de todos.

Que as quatro torcidas citadas no texto façam a diferença na “garganta” mesmo…

Os maiores clubes da década

Federação Internacional de História e Estatística do FutebolA Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS) divulgou o ranking de clubes da última década.

Trata-se da soma geral de um complicado sistema de pontuação adotado pelo instituto desde 1984, reconhecido pela Fifa.

Na lista mundial, “apenas” os 1.000 primeiros times foram anunciados.

Do Recife, apenas o Sport está lá, num modesto 614º lugar, com 377 pontos.

O título da Copa do Brasil em 2008 e boa participação na Libertadores no ano seguinte contaram pontos preciosos, mas pesou o fato de ter ficado fora da Série A em 6 temporadas… Na lista mensal, o Leão chegou a ficar em 29º em abril/2009.

Nos últimos 3.650 dias, no entanto, o time da Ilha do Retiro foi superado por clubes como Vitória (279º), Figueirense (280º)  e Juventude (387º).

O melhor time entre 2001 e 2010 foi o Barcelona, com 2.550 pontos. Veja a lista AQUI.

O IFFHS também elaborou um ranking sul-americanos. Neste, o Rubro-negro acabou em 114º. A novidade é o Náutico, com 196 pontos, na 166ª posição.

Como esse segundo ranking contabiliza apenas as 185 primeiras posições, o Santa Cruz acabou ficando de fora, mesmo com participações na Série A em 2001 e 2006.

Com 2.095 pontos, o Boca Juniors, melhor sul-americano, foi o único clube fora da Europa a ficar no Top 10 mundial. Pesaram as Libertadores de 2001, 2003  e 2007.

Veja o ranking sul-americano da década AQUI.

900 minutos de sinal aberto

Floralis Generica, escultura localizada no bairro da Recoleta, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Um campeonato inteiro na TV sem custo algum para o telespectador. Já pensou? Atualmente, é uma realidade muito distante da nossa. Não na Argentina.

No Brasil, a Série A é transmitida de três formas. São dois jogos em sinal aberto por semana, caso tenha rodada na quarta-feira, e mais três na TV por assinatura, seguindo a mesma lógica de datas. As demais partidas são exibidas exclusivamente pelo sistema pay-per-view – um serviço para quem já tem a TV à cabo, diga-se.

Na Argentina, todos os 380 jogos da atual temporada (com os torneios Apertura-2010 e Clausura-2011) vão passar em sinal aberto para todo o país vizinho.

A TV Publica, como o nome deixa bem claro, pertence ao governo federal da Argentina. A emissora “estatizou” os direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Argentino da 1ª divisão, em 8 de agosto do ano passado, em uma decisão unânime dos clubes, que rescindiram com o Grupo Clarín, antigo detentor dos direitos desde 1991.

Boca Juniors x River PlateO governo pagou 600 milhões de pesos (hoje, cerca de R$ 256 milhões) para comprar os direitos. O Clarín havia pago 230 milhões de pesos…

Assim como no Brasil, a competição conta com 20 clubes, ou 10 jogos por rodada. Para que todos os jogos fossem exibidos, sem regionalização alguma, a AFA elaborou uma tabela que congrega 10 horários distintos.

É uma verdadeira overdose. Daí, o bar Locos por el Fútbol – veja AQUI.

No fim de semana em que estive na capital argentina, a sequência foi a seguinte:

Sexta-feira
19h10 – San Lorenzo 2 x 0 Tigre
21h20 – Quilmes 0 x 2 Vélez Sarsfield

Sábado
14h10 – Gimnasia y Esgrima 2 x 3 Arsenal
16h20 – All Boys 3 x 1 Independiente
18h30 – Colón 1 x 1 Estudiantes
20h30 – Banfield 0 x 0 Newell’s Old Boys

Domingo
14h00 – Olimpo 1 x 0 Lanús
16h00 – Boca Juniors 2 x 0 Huracán
18h10 – Racing 2 x 1 Argentinos Juniors
20h20 – Godoy Cruz 2 x 2 River Plate

Fora os descontos, foram 900 minutos de bola rolando.

A mudança nos direitos de transmissão foi batizada de “Fútbol para todos”. Para quem gosta de futebol, é fantástico. Para quem não gosta, é melhor pedir asilo político.

Com uma verba de R$ 1,4 bilhão por três anos do Brasileirão – e já em curso a negociação de mais três -, tal medida não deverá ser implantada no Brasil tão cedo.

Curiosidade: apesar de parecer uma “antena”, a escultura acima chama-se Floralis Generica (veja AQUI), na Recoleta. A antena da TV Publica está justamente atrás.

Pauta onipresente

Livro sobre a Igreja Maradoniana, à venda em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Diego Armando Maradona é mesmo uma entidade à parte na Argentina. Qualquer coisa que ele faça repercute de forma impressionante no país.

Perto de completar 50 anos de idade (em 30 de outubro), Maradona é uma figura onipresente na mídia local, em pelo menos três editorias: esportiva, social e política.

No Brasil, muitas crianças querem pedalar como Neymar. Por aqui, muitas querem repetir as jogadas de Messi. Mas quase todos os garotos argentinos querem mesmo é marcar novamente o gol de mão contra a Inglaterra, anotado em 1986 (veja AQUI).

Feito reservado ao mito local, que faz por onde manter o status.

Há dois dias continua passando na TV a declaração do gênio portenho acusando o presidente da AFA (a “CBF” deles), Julio Grondona, e o diretor técnico da associação de futebol do país, Carlos Bilardo, de terem encerrado a sua passagem na Seleção.

“Me cerraron las puertas.”

Com bastante experiência no fato de ser o centro das atenções, Maradona sabe que cada palavra sua tem um peso grande sobre os hinchas, que o idolatram apesar de qualquer episódio pouco ortodoxo em sua biografia. As camisas nas calles confirmam.

E haja mesa redonda debatendo o assunto.

No dia seguinte, com boa parte da imprensa ocupada sobre a pendência que afastou Maradona da Albiceleste, El Diez já estava presente em uma partida de showbol, entre argentinos e uruguaios. De chuteira e contando piadas, rendeu novamente.

Mais notícias. Mais mídia. Mais Maradona. Amém!

De fato, o ex-jogador é o deus (ou “D10s”) da Igreja Maradoniana, fundada na cidade de Rosário, em 1998. Esta surreal religião virou livro e tem o seu destaque nas inúmeras livrarias de Buenos Aires (veja AQUI).

Pelé? Esse foi o segundo melhor da história. E olhe lá…

Maradona nas ruas de Caminito. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Caminito da pasión

Caminito, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – De volta à capital argentina após o passeio no Uruguai, chegou a vez de um dos programas oficiais do país vizinho: vagar pelas calles (ruas) de Caminito.

Encravado dentro do bairro de La Boca, terra do Boca Juniors, o colorido de Caminito é uma das mais famosas atrações turísticas de Buenos Aires. O nome foi inspirado em um tango, como não poderia deixar de ser, de 1926 (saiba mais AQUI).

Tango e cores primárias à parte, o futebol toma conta de Caminito… Não bastasse à proximidade ao estádio La Bombonera, lembranças e quinquilharias remetem ao futebol.

Camisas, ímã de geladeira, cinzeiro com réplicas dos estádios, pulseiras, quadros etc. Na teoria, nada se relaciona com Caminito. Mas ao enxergar a paixão dos argentinos pela sua seleção e pelos grandes clubes esse cenário econômico fica compreensível.

Caminito, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de PernambucoComo os brasileiros não ficam atrás neste quesito, o tema se desenvolve rapidamente, com boas doses de provocação.

Por sinal, o volme de turistas brasileiros é impressionante. Tanto que em Caminito a nossa moeda é aceita em espécie!

Com o apelo do futebol, os chicos (garotos) dos restaurantes ficam na calçada chamando os brasileiros, puxando papo sobre os clubes para atrair clientes – bife de chorizo como prato principal e show de tango gratuito.

São Paulo e Flamengo são as primeiras opções. Mas ao trocar duas frases e perguntar o nome da cidade de origem, eles vão logo citando, um a um, os clubes locais.

O Recife está bem na fita. Sport, Náutico e Santa Cruz estão no “catálogo” desses argentinos. Não pense que é apenas o nome. Falam das cores, da rivalidade e apelidos.

Santa Cruz? A Série D já é conhecida aqui, infelizmente.

Após levantar a bola verde e amarela, os argentinos retomam o orgulho local e evocam a grandeza dos seus times. Apesar da oferta generosa de equipes nos quiosques (cerca de dez), Boca Juniors e River Plate são os mais procurados pelos gringos – neste caso, nós também “somos” os gringos. A vantagem do Boca é gritante, no quintal de sua casa. Muitas casas da vizinhança têm as cores do time, amarelo e azul.

Isso é quase um convite à La Bombonera, já conhecida dos brasileiros (veja AQUI).

E assim segue a caminhada brasileña na fria Buenos Aires, com 14 graus. No futebol, o clima sempre é mais quente… Esse diálogo é universal.

Caminito, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Onde só o futebol tem vez

Bar Locos por Fútbol, em Buenos Aires, na Argentina. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Um bar temático sobre futebol, com jogos de todas as divisões, países etc. Basta passar em algum canal de televisão. Assim é o Locos por el Fútbol, no requintado bairro da Recoleta, na capital argentina.

Apesar do visual do local, a cotação da moeda brasileira faz com que os preços sejam bem acessíveis por aqui. No câmbio, 1,00 real = 2,27 pesos.

Todas as mesas do famoso bar portenho são direcionadas para pelo menos uma televisão. Por sinal, existem mais aparelhos de LCD do que mesas… Embaixo são 15 TVs e 11 mesas. Em cima, outras 12 televisões e um telão. Na decoração fixa do bar, que se ajusta para partidas especiais (da seleção dos hermanos, por exemplo), estão sempre duas camisas do Boca Juniors.

Estive lá nesta terça-feira e a explicação foi simples: o Boca tem a maior torcida do país e a que mais frequenta o bar. O estádio La Bombonera, do Boca, está a 6 quilômetros do bar, enquanto o Monumental de Nuñez, do River, está a 7.

Uma tarde sem rodada para o blog, certo? Que nada! Transmissão ao vivo do “jogaço”  França 2 x 0 Luxemburgo, pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2012. Além de alguns DVDs da Fifa com jogos históricos da Copa do Mundo. Sem futebol, no!

Jogos do Brasileirão também têm vez? Por supuesto.

E a Série B…? Loco, mas com um mínimo de bom senso.

Veja o site oficial do bar Locos por el Fútbol clicando AQUI.

Libertando a voz

Narrações inesquecíveis… Várias delas se confundem com as conquistas no gramado. Que o diga Galvão Bueno, com o se “É tetra! É tetra!”, na Copa do Mundo de 1994.

Abaixo, um vídeo especial com locuções incríveis, em português e espanhol, em finais da Taça Libertadores da América. Na sequência: Peñarol (1987, com um gol no último minuto da prorrogação), Colo Colo (1991), Olimpia (2002), Once Caldas (2004), São Paulo (2005), Boca Juniors (2007) e LDU (2008).

Para conferir a narração do título do Inter em 2010, na TV argentina, clique AQUI.

Velha Senhora

La Bombonera

Data: 25/05/1940. Nesta dia, um sábado, foi disputado um amistoso entre Boca Juniors e San Lorenzo, inaugurando o mítico estádio de Buenos Aires, o maior caldeirão do mundo para muitos torcedores. Inclusive rivais. Na festa de abertura, vitória do Boca por 2 x 0. O primeiro gol foi de Ricardo Alarcón. Onde? La Bombonera.

Nesta terça, o estádio em La Boca chega aos 70 anos de história (veja AQUI). Tive o prazer de assistir a uma partida lá em 26 de agosto de 2007, quando o Boca ganhou do Gimnasia Y Esgrima de La Plata por 2 x 1, pelo Torneio Apertura. De virada, aos 45 minutos do 2º tempo, depois de expulsões e muita confusão. Futebol argentino!

Isso tudo com um clima de 6 graus, chuva e vento (frio demais). Mesmo assim, fiquei caladinho na “segunda tribuna”, atrás de uma das traves, no lado oposto à La 12, a barrabrava dos hermanos. O conforto ainda passa um pouco longe, mas valeu a pena.

Antes, durante e depois da partida, um som incrível no estádio xeneize. A torcida do Boca é fora do comum. A Bombonera vive um clima fantástico. Saí de lá com a certeza de que aquele time é quase imbatível. E de que futebol ainda é espetáculo.