“Vou ter uma guerra em cima de mim. Já sei disso”. Por um Estadual no meio da pré-temporada, segundo Evandro

O presidente da FPF, Evandro Carvalho. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press

“Eu quero que alguém me diga como se faz um campeonato de futebol com apenas 12 datas. Me diga você”.

Durante uma conversa por telefone, o presidente da FPF, Evandro Carvalho, não fez a menor questão de esconder a insatisfação com o calendário da CBF para 2015. O dirigente tem na confederação uma aliada a toda prova, ou quase isso, pois desta vez criticou a entidade, algo raríssimo em sua gestão.

Na ligação, tive que responder à indagação. Considerando que o Pernambucano tem doze clubes, poderia ser disputado com um turno completo, de onze rodadas, e uma decisão em jogo único entre os dois primeiros colocados.

A resposta foi imediata, quase esperando o formato…

“A gente também pensou esse regulamento aqui, mas onze jogos num turno e final de um jogo dexaria campeonato ridículo. É um absurdo! Os grandes (do Recife) vão jogar só uma vez? Cadê os clássicos, a renda? Essa situação (doze datas) vai dar muito trabalho para a gente conseguir um caminho legal. A CBF cedeu ao Ministério Público, ao Clube dos 13, ao Bom Senso FC, a todo mundo, mas acabou prejudicando os clubes pequenos.”

Questionado pelo blog se lutaria para ganhar mais algumas datas, ao menos para uma fase preliminar envolvendo os times intermediários, o mandatário não só confirmou o pleito como disse o que o aguarda…

“O ano do futebol profissional não pode começar só em 1º de fevereiro. Isso só funciona para os maiores times do país, que já estão até negociando amistosos internacionais. Enquanto isso, os pequenos não têm como ficar um mês sem atividade (a pré-temporada oficial será de 7 a 31 de janeiro). O menor contrato possível com um atleta é de três meses de duração. Os clubes não vão aceitar fazer isso para jogar só onze vezes. Não tem como! Vou lutar para ter jogos em dezembro e janeiro (como em 2013/2014, com a Taça Miguel Arraes). Vou ter uma guerra em cima de mim. Já sei disso…” 

A preocupação do mandatário deve-se à própria imagem, com a possível repercussão negativa de jogos no meio da pré-temporada país afora.

Apesar da norma exposta no novo calendário, o raciocínio de Evandro até faz sentido, sobretudo para os clubes menores. Impor o período de férias em dezembro é uma restrição às Séries A e B e aos melhores das Séries C e D. Isso contempla cerca de 50 times, num universo de 684 agremiações brasileiras em atividade. Atualmente, 16 mil dos 20 mil jogadores federados ficam seis meses parados, num estudo do próprio movimento Bom Senso (veja aqui).

Em seguida, Evandro, claro, valorizou o seu peixe…

“No Brasil, só dois campeonatos estaduais são rentáveis. São Paulo e Pernambuco (por causa do Todos com a Nota). Sem campeonato, não tem como manter os times do interior. Os times do Clube dos 13 (grupo que nem existe mais, mas numa afirmação válida para os grandes do Brasil) só pensam na sobrevivência deles.”

Vale destacar que o estado só terá doze datas por causa do Nordestão, que será realizado paralelamente. Na maior parte do país serão 19. Porém, apenas três pernambucanos disputarão as duas competições (Sport, Náutico e Salgueiro). Ou seja, o Santa só terá doze jogos até o Brasileiro…

Seguindo o prazo dado do Estatuto do Torcedor, a FPF tem até o fim de outubro para apresentar uma solução para a 101ª edição do Estadual. O presidente da federação encerrou a entrevista com uma sentença.

“O mínimo para um campeonato é ter 15 datas. Menos que isso não se faz”.

Ou seja, o mínimo seria justamente o regulamento adotado em 2014, com turno único e semifinal e final, ambos em ida e volta.

A última vez que um campeão pernambucano jogou no máximo doze partidas foi em 1943, quando o Leão foi campeão com apenas oito jogos, mas num torneio confuso, com oito jogos não realizados e no qual o Timbu pediu a desfiliação.

Você concorda com Evandro? Como você faria um torneio com 12 jogos?

Proposta do Brasileirão com 664 clubes nas Séries A, B, C, D e E. Na última divisão, microrregiões

Cálculo do Bom Senso FC sobre a Séries C, D  e E (projeto). Crédito: facebook.com/BomSensoFC14

O Campeonato Brasileiro, com esta alcunha, surgiu em 1971.

No mesmo ano foi criada a segunda divisão nacional, intermitente. A terceirona teve a sua primeira edição disputada em 1981.

O quarto degrau do nosso futebol, já batizado de Série D, foi implantado em 2009. Por enquanto, o modelo profissional, via CBF, segue com quatro divisões.

Mas há quem imagine uma quinta divisão oficial. Sim, a Série E!

Somando todas as divisões, essa proposta totalizaria 664 times em ação. Já pensou?

De acordo com os dados do movimento Bom Senso FC, em apenas 22% dos jogos das Séries C e D os times se deslocam de ônibus. No restante das partidas, ou 78%, as viagens ocorrem de avião, elevando bastante o custo. Não por acaso, a despesa de cada jogo fica em R$ 100 mil, a partir do subsídio da Confederação Brasileira de Futebol.

O Bom Senso estipula um gasto bem menor para a CBF, de R$ 10 mil, desde que em 91% das partidas os clubes façam viagens de ônibus.

O investimento bruto da CBF seria o mesmo, de R$ 40 milhões, mas podendo incluir até mesmo uma quinta divisão. Nas últimas três séries (C, D  e E), os campeonatos seriam “microrregionalizados”, algo como grupos com Pernambuco/Paraíba e Alagoas/Sergipe.

Somente na reta final haveria cruzamento com outras áreas, ainda assim, de forma regionalizada. Nada de clube atravessando o país para jogar. Só nas duas primeiras divisões, já estruturadas financeiramente (patrocínio e tevê).

Segundo o movimento dos jogadores, essa (enorme) mudança poderia evitar que 16 mil dos 20 mil atletas profissionais do país ficassem seis meses parados no ano. O mesmo ocorre com 583 dos 684 clubes do Brasil.

Confira as propostas do Bom Senso para as cinco divisões do Brasileirão.

Proposta do Bom Senso FC para as Séries A e  B

Proposta do Bom Senso FC para a Série C

Proposta do Bom Senso FC para a Série D

Proposta do Bom Senso FC para a criação da Série E

A necessidade de bom senso na causa de 20 mil jogadores profissionais no país

Estudo do movimento Bom Senso

O movimento criado pelos jogadores de futebol, à parte do apagado sindicato da categoria, vai ganhando força. O Bom Senso FC, cérebro dos surpreendentes protestos dos atletas no Brasileirão, criou um site oficial.

No canal é possível encontrar a petição do movimento e o material de divulgação, com os dados sobre a situação dos jogadores profissionais no país. Segundo o levantamento, o Brasil conta com 20 mil atletas profissionais.

Apesar dos salários milionários de algumas estrelas na Série A, a verdade é que a imensa maioria ganha cifras bem modestas. Isso ocorre porque nada menos que 85% dos 684 clubes brasileiros não têm um calendário anual. A maioria dos times joga em média 17 partidas por temporada. Há quem jogue 70, 80 vezes.

Considerando o contracheque médio, com a projeção abaixo de dois salários mínimos – e apenas um real a menos na soma de dois salários mínimos, ou R$ 1.447 – e um semestre de contrato, o ganho anual dessa seria de  R$ 8.682 em 2014. Apenas 3% dos jogadores ganha acima de R$ 1.448 por mês.

Fora os 3 mil desempregados no mercado da bola… A causa realmente é geral.

Estudo do movimento Bom Senso