O cinturão mundial do futebol, desde 1872

"Campeonato Mundial Oficioso de Futebol"

No boxe, a disputa pelo título mundial parte de uma premissa simples e tradicional. Há um campeão, detentor do cinturão de uma associação, que coloca o status em jogo a cada luta. Ganhando ou empatando, segue como campeão. Em caso de derrota, o cinturão passa a ter um novo dono, e assim sucessivamente. Vamos então a um exercício de ficção. E se o futebol adotasse a ideia? Oficialmente, a Fifa jamais cogitou. Desde 2003, porém, existe um levantamento do tipo. Tudo começou, na verdade, em 1967, quando a Escócia venceu a Inglaterra em Wembley por 3 x 2. No mesmo palco, um ano antes, o English Team havia conquistado a sua única Copa do Mundo. Provocando, os vizinhos (e rivais) alegaram tomada de posse do título mundial. A partir dessa polêmica, o jornalista Paul Brown resolveu colocar a ideia no papel, na revista Four Four Two, mas voltando ainda mais no tempo. Para produzir o banco de dados, ele levou em conta como “disputa de título” o primeiro jogo internacional oficial, coincidentemente, um amistoso entre Inglaterra e Escócia no distante 30 de novembro de 1872.

Considerando aquela partida no Scotland Cricket Ground, em Glasgow, assistida por quatro mil espectadores, o título mundial oficioso entre seleções ficou em jogo nada menos que 898 vezes até o início da Copa América de 2015, incluindo três jogos em Pernambuco. Acredite, o Brasil chegou à disputa no Chile como “atual campeão”. Durante o Mundial de 2014, o Uruguai chegou com a marca, mas acabou perdendo o “cinturão” para a surpreendente Costa Rica, no Castelão. Os costa-riquenhos mantiveram o título contra Itália (1 x 0, na Arena Pernambuco), Inglaterra (0 x 0) e Grécia (1 x 1, também em São Lourenço da Mata), até cair diante da Holanda, nos pênaltis. A Laranja Mecânica ficou pouquíssimo tempo, passando a vez já na fase seguinte, ao ser eliminada pela Argentina na semifinal.

E os hermanos, como se sabe, foram superados pela Alemanha. Assim, os germânicos conseguiram um feito raro neste contexto, ao ganhar a Copa do Mundo e a Copa Alcock. Sim, o troféu do “UFWC” tem nome, em homenagem ao inglês que instigou o primeiro amistoso internacional da história. Entretanto, passado o Mundial, a Alemanha perdeu da própria Argentina na “revanche” em Dusseldorf. E o Brasil? Pois é. O time de Dunga ganhou o Superclássico das Américas por 2 x 0, em Beijing, vencendo mais sete vezes até o campeonato sul-americano. Até hoje, 50 países se revezaram no Unofficial Football World Championship, incluindo zebraças como Antilhas Holandesas (1963), Zimbábue (2005) e Coreia do Norte (14 jogos entre 2011 e 2013!).

O maior campeão mundial não oficial da história é a Escócia, com 86 vitórias. Explica-se. Até a Copa do Mundo de 1950, os quatro países que integram a Grã-Bretanha só jogavam entre si, na Home International Championship. Tropeços contra seleções “forasteiras” ocorreram poucas vezes, com o cinturão voltando rapidamente para o quarteto. A situação só mudou em Belo Horizonte, no estádio Independência, com uma das maiores surpresas da história do Mundial, com o time amador dos Estados Unidos vencendo a Inglaterra por 1 x 0. Curiosamente, os norte-americanos perderam o título não oficial no Recife, na partida seguinte da Copa de 1950. Numa Ilha do Retiro com 8 mil pessoas, incluindo o então presidente da Fifa, Jules Rimet, o Chile fez 5 x 2, mantendo a série durante dois anos, até perder da Canarinha em Santiago (no “primeiro título” verde e amarelo). Pentacampeão mundial oficial, o Brasil figura apenas em 6º no ranking oficioso, atrás de Escócia, Inglaterra, Argentina, Holanda e Rússia, incluindo os dados da extinta União Soviética.

Ranking mundial "não oficial" de Seleções até 12/06/2015

Quando não basta o espírito olímpico

Bandeiras das Coreias do Sul e do Norte

Em 2000, na Olimpíada de Sydney registrou um ato histórico. Sob uma única bandeira, as delegações das Coreias do Norte e do Sul desfilaram juntas no estádio Olímpico.

Seria aquele um marco de união de uma nação dividida ao meio há décadas?

O norte comunista e o sul capitalista. Alvos de uma longa Guerra Fria.

A península da Coreia conta com a demarcação desde 1945, num acordo após a Segunda Guerra Mundial entre os governos de Washignton e Moscou. Pois é.

Entre 1950 e 1953, as duas Coreias chegaram guerrear, com mais de dois milhões de mortos no conflito e a criação de uma faixa de segurança desmilitarizada entre as duas nações com 4 quilômetros de largura e 238 de comprimento.

Das capitais Seul e Pyongyang, a ordem continua para 72 milhões de coreanos.

Irmãos até que se prove o contrário…

A disputa entre soviéticos e americanos acabou, inclusive na Olimpíada, mas o imbróglio na fronteira asiática mantém o clima sempre tenso. Até mesmo com ameaça de mísseis.

A cada quatro anos, o espírito olímpico parece apaziguar a pseudo-rivalidade construída por regimes políticos, à parte da vontade do povo.

Nos Jogos Olímpicos na Austrália, apesar da bandeira unificada, os países não competiram juntos. Tampouco seria assim em 2012, em Londres.

Logo no primeiro dia de competições, um insólito episódio e desde já histórico, mostrando de forma visceral que o racha está longe de terminar.

A seleção de futebol feminino da Coreia do Norte enfrentaria a Colômbia na primeira rodada do torneio olímpico.

Na entrada das equipes, a bandeira apresentada no telão foi a do Sul. As jogadoras se recusaram a jogar. A partida só foi iniciada com a divulgação da bandeira do país.

Nem sempre é possível empregar o lema olímpico do Barão de Coubertin.

Do boicote de capitalistas em 1980 e socialistas em 1984 a uma simples bandeira…

Desfile das Coreias do Sul e do Norte na Olimpíada de 2000, em Sydney

Geuneun daehwaleul ihae

O hino nacional das seleções, antes do início das partidas na Copa do Mundo, já deixa evidente o tamanho da diferença entre as nações. São línguas completamente distintas. Grego, eslovaco, alemão, coreano, dinamarquês e até português (luso)…

No jogo entre Coreia do Norte e Costa do Marfim, o lateral africano Eboué, que fala francês (língua oficial do seu país), chegou perto do banco de reservas do adversário para ouvir a conversa entre o capitão Hong Yong Jo e o técnico Kim Jong Hun.

E descobriu o esquema tático…

Tradução do título (escrito em coreano): ele entendeu a conversa.

Todos os patrícios ganharam

Copa do Mundo de 2010: Brasil 0 x 0 Portugal

Grupo G.

Era possível um “amistoso” entre os patrícios? Era, ora pois! Um empate parecia desenhado para o jogo desta sexta-feira em Durban.

Mas os primeiros 45 minutos foram muito movimentados. Boas jogadas no ataque, bola na trave de Nilmar e muitas faltas, com todo mundo reclamando em português. Foram sete cartões amarelos e a substituição prematura do volante Felipe Melo. Ponto para Josué, que entrou e fez a sua estreia num Mundial, marcando a presença em campo de Pernambucano em todos as Copas desde 1990.

Mas nada de gols… Muito menos na etapa final, com um duelo morninho, morninho. O resultado garantia a liderança ao Brasil e a vaga nas oitavas para a Portugal. Todos saíram ganhando, apesar do 0 x 0. Para a Seleção, a estatística de finalmente terminar uma partida sem ter a meta vazada na África. Assim, aumenta a confiança de Juan e Lúcio, que formam a melhor dupla de zaga do planeta.

Copa do Mundo de 2010: Costa do Marfim 0 x 0 Coreia do NorteEm Nelspruit, a Costa do Marfim até que tentou tirar a diferença no saldo de gols. Mas, de fato, não é todo dia que uma seleção goleira por 8 gols de diferença numa Copa.

Desde a Copa de 1930, em mais de 750 jogos realizados, apenas 6 terminaram com um resultado com uma margem tão grande de gols.

Mas os Elefantes da África só chegaram aos 3 x 0 sobre a combalida Coreia do Norte. Didier Drogba não marcou nenhuma vez, mas foi eleito pela Fifa como o melhor em campo.

Fotos: Fifa

Enquanto isso em Pyongyang… 1966!

Copa do Mundo de 2010: Portugal 7 x 0 Coreia do Norte

Sete pode até ser a conta do mentiroso, mas é o número de jogadores portugueses que estão na foto acima e também a quantidade de gols marcados pela seleção de Camões… Foi uma das maiores goleadas da história do Mundial.

A maior é quase inalcançável, diga-se. Em 1982, a Hungria detonou El Salvador por 10 x 1. Mas Portugal se esforçou bastante nesta segunda, na Cidade do Cabo.

No primeiro tempo, a vantagem mínima para os lusos, com um gol de Meireles aos 29 minutos. Na etapa final, um gol atrás do outro. Aos 8, 11, 15, 16, 42 e 44…

Portugal 7 x 0 Coreia do Norte – aquela mesma que dificultou bastante para a Seleção na estreia. Gastou o gás ali e foi uma equipe bem mas frágil, com rombos na defesa. Portugal usou a velocidade e até mesmo a cadência, sem pressa para chegar ao gol.

Até Cristiano Ronaldo marcou! Um gol do craque português após quase dois anos. O último havia sido na Eurocopa de 2008. Desde então, seca de gols. De todos aqueles números acima, o “42 do segundo tempo” foi dele, do camisa 7.

Em tempo: acho que a TV estatal norte-corena não vai transmitir essa partida para a capital Pyongyang… Talvez passe um compacto do primeiro confronto entre as duas seleções na Copa do Mundo. Nas quartas de final de 1966… Derrota também, mas de forma mais digna. E em cores. Veja abaixo.

Foto: Fifa

Vitória épica

Coreia do NorteApenas alguns políticos da mais alta cúpula da Coreia do Norte podem deixar o isolado país oriental. E com a devida autorização do ditador Kim Jong-il…

O acesso à informação é algo quase proibido no país, um dos mais fechados do mundo. Até mesmo a estreia da seleção no Mundial de 2010, diante da badalada Seleção Brasileira, precisou ser analisada.

Havia até a expectativa de que a partida só seria transmitida 2 horas depois por lá, caso não fosse uma goleada constrangedora. E não foi. Os norte-coreanos perderam por 2 x 1. E Yun Nam ainda fez um gol para se tornar um herói nacional.

Na internet já circula um vídeo bem sacana com a “versão” da partida que teria sido transmitida na TV estatal para a capital da Coreia do Norte, Pyongyang. Essa galera do YouTube…

Placar? Coreia do Norte 1 x 0 Brasil. Épico!

Post com a colaboração do rubro-negro Lauro Mafra

Artilharia pesada. Falta calibrar

Copa do Mundo de 2010: Brasil 2 x 1 Coreia do Norte

Clima de “réveillon” no Recife, com uma movimentação incalculável e pelo mesmo motivo. Boa Viagem ficou parada. Um trânsito insuportável em toda a cidade. E o relógio marcava apenas 14h30 de uma terça-feira…

O adversário era a inexpressiva Coreia do Norte.  Mas o fato de ser em uma “Copa do Mundo” transforma tudo.  A Seleção Brasileira realmente para o país. Mexe demais com o país. Quase todo mundo de amarelo ou verde nas ruas.

Em campo, em Joanesburgo, uma vitória construída no segundo tempo, com gols pelo lado direito, com Maicon e Elano. No fim, Yun Nam marcou o gol asiático e virou herói nacional. Brasil 2 x 1.

Apesar da sonolência nos primeiros 45 minutos, o Brasil até que tentou na etapa final. Ao todo, foram 26 finalizações brasileiras. Muito? Sim. O recorde até aqui. Em 14 jogos realizados na Copa de 2010, até o momento, a marca pertencia à Argentina, com 20 chutes. O Brasil finalizou 26…

Se forem consideradas apenas as finalizadas certas, foram 10 chutes. Outro recorde. A Alemanha havia chutado na meta em dez oportunidades. Se bem que eles fizeram quatro…

Mas o Brasil já larga em vantagem. A Canarinha está a uma vitória das oitavas de final do Mundial. Essa é a missão do time de Dunga contra a Costa do Marfim, no domingo.

Foto: Fifa

Segunda tentativa

Diario de Pernambuco: 03/06/2006Diario de Pernambuco: 15/06/2010Finalmente o dia da estreia do Brasil.

Algo a temer?

Só mesmo uma grande pipocada. Uma vitória verde e amarela sobre a Coreia do Norte, a partir das 15h30 desta terça, deve ser a aposta mais fácil da Copa do Mundo de 2010 nesta primeira rodada. Goleada?

Algo até possível, por mais que o discurso seja o de respeito total ao adversário – algo correto, dentro do princípio da desportividade.

No entanto,  Brasil vai pela 8ª vitória seguida em estreias. Como se sabe, a Canarinha é a única seleção que esteve presente em todos os 18 Mundiais anteriores.

O retrospecto é excelente. São 14 vitórias, 2 empates e apenas 2 derrotas. A última delas há 76 anos. No domingo, o Diario publicou uma reportagem sobre as curiosidades de todas as estreias do Brasil. Confira a matéria AQUI.

A capa da esquerda do DP é a da estreia em 2010. A da direita foi a de 2006, na primeira tentativa do hexa. Agora vai? Pra frente, Brasil!

Distribuição dos 41 gols marcados pela Seleção em estreias (sofremos apenas 16):

26 na grande área (4 de cabeça)
3 na pequena área (1 de cabeça)
10 de fora da área
2 de pênalti

Seleção Brasileira rumo ao hexa1º tempo
De 0 a 15 min – 2 gols
De 16 a 30 min – 6
De 31 a 45 min – 8
Total: 16 gols (39%)

2º tempo
De 0 a 15 min – 6 gols
De 16 a 30 min – 11
De 31 a 45 min – 6
Total: 23 gols (56%)

O maior artilheiro na estreia é Leônidas da Silva, com 4 gols (1 em 1934 e 3 em 1938).

Tim-i segyee daehan junbiga

Coreia do NorteA Coreia do Norte é considerada a seleção mais “fechada” da Copa do Mundo de 2010. Antes da África, os jogadores estão realizando uma fase de preparação nos alpes suíços, sob o comando do técnico Kim Jong-Hun,  mas sem muito contato com a imprensa.

A base da equipe é o Clube 25 de Abril (homenagem à fundação do Exército Popular Norte-coreano). O time da cidade de Nampo cedeu 7 atletas para o Mundial.

Ainda assim, a Fifa divulgou em seu site uma lista provisória com os 23 nomes da Coreia do Norte (veja AQUI), além de fotos. Na lista, fica claro que o time terá panelinhas, com a turma Kim e a galera do Pak, além da ala Ri. Também tem o pessoal do An…

Coreia do NorteGoleiros: Kim Myong Gil, Kim Myong Won e RI Myong Guk.

Demais jogadores: An Chol Hyok, An Yong Hak, Cha Jong Hyok, Choe Kum Chol, Hong Yong Jo, Ji Yun Nam, Jong Tae Se, Kim Kum Il, Kim Kyong Il, Kim Yong Jun, Mun In Guk, Nam Song Chol, Pak Chol Jin, Pak Nam Chol, Pak Nam Chol, Pak Sung Hyok, Ri Chol Myong, Ri Jun Il, Ri Kwang Chon e Ri Kwang Hyok.

E aí… Vai dar trabalho? 😯

O setor de criação da equipe deverá ter Mun In-Guk, Pak Nam-Chol e Ji Yun-Nam, cujo entrosamento vem do time 25 de Abril. No ataque, Choe Kum-Chol e Kim-Kum-Il. Ou seria o contrário…?

Até a estreia da Seleção Brasileira, Dunga vai ter que decifrar…

Tradução do título (escrito em coreano): “A equipe está pronta para o Mundial”.

Torcida realmente organizada

Torcida Jovem? Fanáutico…? Inferno Coral…?!

Nada disso. Torcida organizada mesmo é essa abaixo, na Coreia do Norte. Estudantes acompanhando o futebol com mosaicos. E nada de placas para ajudar. O mosaico é feito exclusivamente por roupas (com uma cor na frente e outra atrás).

Não por acaso, o vídeo se chama “Human LCD”. De fato, parece uma TV mesmo.

Saiba mais sobre os mosaicos norte-coreanos AQUI.