Podcast 45 (203º) – Polêmica no conceito da Asa Branca e reviravolta com Walter

Debate na 203ª edição do podcast 45 minutos: o conceito da Taça Asa Branca

A criação da Taça Asa Branca, uma disputa anual promovida pela Liga do Nordeste entre o campeão da Lampions e um “grande clube brasileiro”, tendo como primeiro convidado o Flamengo, foi o debate do dia no futebol da região, com a rejeição à ideia nas redes sociais entre os assuntos mais comentados do país, via tag #ONordesteNãoMerece. E o 45 minutos aprofundou a discussão durante 50 minutos, falando do conceito (errôneo na nossa visão), a projeção do Fla, a disputa pelo mercado local e os detalhes da conversa do blog com Edgar Diniz, presidente do Esporte Interativo, a respeito das críticas ao modelo.

Confira um infográfico com a pauta do podcast aqui.

Na segunda parte do programa, uma passagem sobre a negociação do atacante Walter com o Sport, com o “balão” (jargão usado no futebol pernambucano) do Atlético-PR (foi balão? discutimos até isso!). Por fim, os bastidores da visita do presidente da FPF, Evandro Carvalho, à redação do Superesportes.

Nesta edição, estive ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa João de Andrade Neto e Rafael Brasileiro. Ouça agora ou quando quiser!

Taça Asa Branca, a disputa entre o campeão nordestino e o Flamengo…?

Flamengo e Copa do Nordeste? Arte: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

Através do Flamengo foi divulgada uma controversa ideia elaborada pela Liga do Nordeste. Isso mesmo. Segundo a mensagem compartilhada pela assessoria de imprensa do rubro-negro carioca, a “Taça Asa Branca abrirá oficialmente a temporada de futebol do Nordeste. O duelo será sempre entre o último campeão da Copa do Nordeste e um grande clube brasileiro”.

A lógica dessa notícia é o fato de o Fla ser o adversário na primeira edição, em 21 de janeiro de 2016, no Castelão, diante do Ceará. Na confirmação, direto do Auditório Rogério Steinberg, na sede da Gávea, a presença de dirigentes dos dois clubes, da liga e do canal Esporte Interativo, parceiro no novo evento anual.

Que o Flamengo é o time de maior torcida do país, não há o que contestar. Mas é, também, um dos maiores calos para o “produto” Nordestão. Por ser o mais popular em seis dos nove estados da região, dividindo as atenções de torcedores locais (53 milhões de telespectadores), por articular a sua entrada no torneio regional, como ocorreu em 2014, e por canalizar, ao lado do Corinthians, boa parte da receita oriunda da tevê – o que parece ser ratificado neste convite.

Ainda assim, o Flamengo poderia ser o adversário desse jogo…
…mas por critérios técnicos.

Simplesmente por ser um “grande clube brasileiro”? Soa mais como uma atitude provinciana da liga – como seria com o Palmeiras ou o Fluminense no mesmo contexto. Tratando o Mengo como convidado, e nada mais, a escolha fere conceitualmente a Lampions League, uma competição de independência técnica e financeira dos clubes da região em relação ao eixo futebolístico (e midiático) do país, o Rio-São Paulo. Um torneio que, mesmo baseado numa audiência televisiva segmentada, viu a premiação subir de R$ 5,6 mi para R$ 14,8 milhões em quatro anos. Não por acaso gerou o interesse de fora.

A Taça Asa Branca nasceu com um nome de apelo e com a interessante ideia de abertura na pré-temporada, como a Ariano Suassuna e a Chico Science, as criações “particulares” de Sport e Santa Cruz. Atrelada à Liga do Nordeste, no entanto, a disputa deveria primar por um foco maior, pelo fortalecimento da identidade da Copa do Nordeste. E nem é difícil imaginar outras opções.

Sugestões de confrontos contra o campeão nordestino:
1) Campeão Brasileiro
2) Campeão da Copa do Brasil
3) Campeão da Primeira Liga (Copa Sul-Minas-Rio)
4) Campeão da Copa Verde
5) Adversário estrangeiro

Ou seja, teoricamente, o próprio Flamengo poderia ser um rival, promovendo um choque de campeões. E não simplesmente por ser o Flamengo…

No acervo do Diario, a cronologia sobre a oficialização do quadrangular final do Campeonato Brasileiro de 1987

Edições do Diario de Pernambuco de 10 de setembro a 15 de setembro de 1987. Crédito: Arquivo/DP

Há quase três décadas é comum escutar de torcedores e, sobretudo, jornalistas, de todos os cantos do país, que o decisivo cruzamento envolvendo os dois primeiros colocados dos módulos amarelo e verde, em 1987, surgiu apenas com o campeonato em andamento, o que negaria segundo os mesmos o direito de Sport e Guarani na disputa. Essa é a base da polêmica sobre o Campeonato Brasileiro, ainda sob análise do Supremo Tribunal Federal para decidir sobre um campeão (Sport) ou dois (Sport e Flamengo).

Trata-se de uma visão rasa da história. Em 2013, o blog publicou um registro do tradicional Jornal do Brasil, do Rio, com a cronologia da confusão, datada na abertura da “Copa União”. No texto do Jornal do Brasil, no dia 11 de setembro de 1987, é possível conferir a primeira vez em que o quadrangular final foi citado, em 24 de julho, 48 dias antes da primeira rodada. Vasculhando arquivos de jornais do país, torcedores leoninos encontraram também uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre a reunião no dia 8, na sede da federação carioca, quando dirigentes dos clubes do módulo amarelo e Eurico Miranda, o representante o Clube dos 13, concordaram com a realização do quadrangular.

Aproveitando o resgate , o blog foi ao acervo do Diario de Pernambuco no mesmo período, com o jornal cobrindo intensamente a polêmica nos bastidores, uma vez que dois times locais estavam envolvidos diretamente, Sport e Náutico. O outro representante do estado, o Santa, fazia parte do verde.

A seguir, as reportagens na decisiva semana para a criação do regulamento:

09/09 – João Guerra, o presidente timbu, vibra com a vitória na CBF, a reunião ocorrida um dia antes: “clubes do Amarelo conseguiram mudar o regulamento do Campeonato Nacional, que vai ter cruzamento entre os dois grupos – Verde e Amarelo – para ser conhecido o campeão brasileiro deste ano”.

10/09 – Não havia “site oficial”, obviamente. Assim, os comunicados oficiais eram divulgados através de fax. Dois dias após a reunião conciliatória, a direção da CBF ainda não havia enviado o regulamento oficial, o que preocupou Homero Lacerda, mandatário leonino na época. “Se ferir os direitos do Sport, vamos dar entrada na Justiça Federal” (dito e feito, tempos depois).

10/09 – Presidente da CBF, Otávio Pinto Guimarães garante o início do Brasileirão no dia 11, uma sexta-feira (a data da publicação da notícia), com Palmeiras x Cruzeiro: “Podem ficar tranquilos, a bola vai rolar”. Ele reconhece o recebimento dos documentos com o entendimento. Mesmo em processo de análise, disse que o acordo estava “avalizado”, restando a homologação. 

11/09 – Sem o regulamento chancelado nas mãos, seis clubes do Módulo Amarelo se negam a jogar (Sport, Náutico, Vitória, Portuguesa, América-RJ e Atlético-GO), ameaçando paralisar toda a competição. Pressionada, a CBF suspende as partidas. “Só jogamos diante de uma garantia da CBF”, afirma Fred Oliveira, irmão de Carlos Alberto e presidente da FPF na época.

13/09 – Em vez de jogos em Limeira e na Ilha do Retiro, suspensos, as atenções de torcedores alvirrubros e rubro-negros foram para o protesto em conjunto no Recife, questionando a organização e a transmissão da competição, com ameaça da venda dos direitos do Módulo Amarelo ao SBT e à Record.

14/09 – Enfim, o telex circular de nº 062 foi enviado pela CBF ao Recife, com o artigo sexto do regulamento do Brasileiro: “O campeão e o vice-campeão das Taças João Havelange (Verde) e Roberto Gomes Pedrosa (Amarelo) disputarão, em quadrangular, o título de campeão e vice-campeão brasileiro de 1987, ficando de posse da Copa Brasil 87 (troféu) e classificados para representar a CBF na Taça Libertadores da América de 1988”.

16/09 – Estreia do Sport, com empate em 1 x 1 com o Atlético-PR na Ilha.

17/09 – Estreia do Náutico, com derrota diante do Criciúma, 2 x 0, fora de casa. 

Veja as páginas das edições citadas: 10/09, 11/09, 11/09, 12/09, 13/09 e 15/09.

O restante do regulamento foi escrito às pressas, pois a bagunça seguia, não há como negar. Com a assinatura do Clube dos 13 no documento? Conforme escrito na própria sentença de 11 páginas a favor do Leão, através da Justiça Federal, em 1994, existiu um “acordo tácito”. Ou seja, os clubes do módulo verde se submeteram às regras normativas da CBF, ao seu tribunal, aos seus árbitros, à sua organização e à sua chancela. Em 2016, o ministro Marco Aurélio Mello deve dar o seu parecer sobre o recurso extraordinário do clube carioca no STF. A papelada está nas suas mãos desde 12 de maio de 2015. Um calhamaço. Cronologicamente, a compreensão parece ser mais simples.

O ranking de cotas do pay-per-view no Campeonato Brasileiro de 2013 a 2015

Além das cotas fixas no Campeonato Brasileiro, a Rede Globo paga aos 18 clubes com contratos duradouros – os acordos atuais vão até 2018 – parcelas extras referentes às vendas de pacotes do pay-per-view, com receitas proporcionais ao número de assinantes de cada clube. Trata-se de um adicional importantíssimo. Em 2013, o canal rateou R$ 280 milhões somente com o PPV. No ano seguinte, R$ 300 mi. Na temporada 2015 o aumento foi de 50%, chegando a R$ 450 milhões, segundo o site MKT Esportivo. E a tendência é que a televisão por assinatura siga ganhando força na negociação do futebol, até porque o Premiere exibe os 380 jogos da competição, vários deles exclusivos.

Em relação à divisão do dinheiro, há uma controvérsia, pois a apuração dos assinantes é feita através de uma pesquisa em conjunto entre Ibope e Datafolha, que em 2014 entrevistaram dez mil pessoas. Não seria mais fácil detalhar cada assinante logo na compra do pacote de PPV? Imagina-se que haja tecnologia para isso, até porque o único ranking oficial de assinantes difere da divisão das cotas. A Sky, uma das principais operadoras envolvidas, disponibiliza um ranking de torcedores, com o cliente indicando o seu clube do coração num cadastro no site da empresa, ação que ainda carece de uma divulgação maior, diga-se. A lista da Sky – que conta com 5,4 milhões de clientes, ou 28% do mercado nacional – engloba qualquer time do país. Comparando com o estudo encomendado pela emissora, restrito a 18 equipes, o Sport sobe 0,09%, enquanto o Bahia salta 1,46%. Pior para alvirrubros e tricolores, sequer citados.

Nº de assinantes em 2015
Bahia
Ibope – 3,7%
Sky – 2,24%

Vitória
Ibope – 2,3%
Sky – 1,41%

Sport
Ibope – 1,5%
Sky – 1,41%

Santa Cruz
Ibope – n/d
Sky – 0,59%

Náutico
Ibope – n/d
Sky – 0,57%

Cotas de PPV
Bahia
2013 – R$ 8,40 milhões
2014 – R$ 11,12 milhões
2015 – R$ 16,65 milhões

Vitória
2013 – R$ 7,28 milhões
2014 – R$ 6,87 milhões
2015 – R$ 10,35 milhões

Sport
2013 – R$ 3,36 milhões
2014 – R$ 4,43 milhões
2015 – R$ 6,75 milhões 

O quadro deixa claro que alguns clubes presentes na Série A (Santa Cruz, Ponte Preta, América-MG, Chape e Figueirense) não devem ser inseridos no rateio de 2016, que por outro lado engloba três integrantes da Série B (Vasco, Bahia e Goiás). Isso porque os clubes “cotistas” ganham independentemente da Série, enquanto os demais, com contratos singulares na elite (renovados a cada edição), têm o PPV embutido no acordo. Justo? Não parece…

Calculando as cotas das Série A e B de 2016 a partir do modelo da Bundesliga

Bundesliga, a liga de futebol da Alemanha

Segue o debate sobre a divisão de cotas de televisão no Campeonato Brasileiro, cuja polarização entre Flamengo e Corinthians ganha mais força a partir do novo contrato, de 2016 a 2018. Após a projeção da Série A no estilo da Premier League, mais um cenário baseado em um mercado de sucesso, agora através da Bundesliga. Se no Brasil a divisão de receitas é basicamente por audiência e na Inglaterra é um misto de audiência, desempenho e igualdade, na Alemanha vale apenas o desempenho no campeonato nacional, considerando os resultado dos últimos cinco anos. Ou seja, 100% rendimento técnico.

O quadro elaborado por Tiago Nunes projeta como ficaria a situação no Brasil. E conta tanto a Série A quanto a Série B, uma vez na terra dos atuais campeões mundiais a cota é negociada pela própria federação. O contrato de quatro anos, que está na última temporada (2016/2017), prevê 625 milhões de euros por edição, sendo 80% do bolo para a primeira divisão e 20% para a segunda. A distribuição das receitas é um pouco complicada, pontuando cada colocação, com 36 para o campeão, 35 para o vice, até o último lugar da segundona, com 1 pontinho. Lá são 18 times por divisão. Logo, aqui se considerou 40 times (ou seja, 40 pontos para o campeão, 39 para o vice etc). Além disso, cada ano ganha um peso, multiplicando por 5 o mais recente e por 1 o mais antigo.

As cotas das Séries A e B através do modelo da Bundesliga, da Alemanha. Crédito: Tiago Nunes/@TiagoJNunes (www.sapoticast.com)

Nas últimas cinco temporadas, portanto, o melhor desempenho seria o do Corinthians, com 551 pontos, o que renderia ao clube paulista R$ 78,2 milhões em 2016, ou R$ 39,1 milhões a mais que a menor cota da elite, enquanto na realidade a diferença é de R$ 150 mi. Já o Flamengo, o outro expoente, teria apenas a 10ª maior cota, inferior, por exemplo, à do Atlético-PR. Irreal.

Obs. A disparidade técnica na Alemanha vem de outras fontes de receita do Bayern de Munique, como patrocínios, produtos licenciados, sócios etc.

Confira o gráfico inspirado na Bundesliga em uma resolução maior aqui.

As cotas fixas de TV (sem luvas e ppv) em 2015:

Sport 
Oficial – R$ 35 milhões
Premier League – R$ 61,7 milhões
Bundesliga – R$ 55,6 milhões

Santa Cruz
Oficial – R$ 20 milhões*
Premier League – R$ 39,5 milhões
Bundesliga – R$ 39,1 milhões
* Especulação

Náutico
Oficial – R$ 5 milhões
Premier League – não disponível
Bundesliga – R$ 16,7 milhões 

Corinthians 
Oficial – R$ 170 milhões
Premier League – R$ 103,2 milhões
Bundesliga – R$ 78,2 milhões

Flamengo
Oficial – R$ 170 milhões
Premier League – R$ 86,3 milhões
Bundesliga – R$ 59,7 milhões

Completa um século o primeiro título pernambucano de futebol, do Flamengo

Flamengo do Recife, campeão pernambucano de 1915

Luiz Cavalcanti; Chico Alves e Rubens; Fred (Maciel), Ruy e Zezé; Waldemar, Gastão Bomfim, Tayllor, Percy Fellows e Lelys.

Eis a escalação do primeiro campeão pernambucano de futebol. Há exatamente um século, em 12 de dezembro de 1915, um domingo, o Flamengo do Recife venceu o Torre por 3 x 1, no campo do British Club, e ganhou o pioneiro troféu.

O Diario de Pernambuco, que a cada ano dava mais espaço às nobres disputas do football, publicou um texto na página dois da edição de 14 de dezembro:

“Encerrou-se anteontem, com a vitória do Sport Club Flamengo contra o Torre Sport Club, o campeonato da Liga Sportiva Pernambucana (LSP), instituído para o football. Depois de uma série de matchs emocionantes, que trouxeram em constante delírio o público esportivo do Recife, teve o Flamengo coroados os seus esforços e firmada a sua força dentre os seus dignos adversários nas lutas pacíficas do esporte. O Flamengo do Recife quis ser o êmulo do seu congênere do Rio, e vencendo a tática do Santa Cruz e a tenacidade do Torre, soube guardar para si os louros da vitória, e as ‘louras medalhas”. 

“Terminamos enviando ao glorioso Flamengo e a seu digno capitão Gastão Bomfim os nosso mais efusivos votos pelo prosseguimento, sempre ascendente, das glórias alcançadas.”

A conquista, marcada por um jogo violento na decisão, veio num triangular, que anos depois seria chamado de “supercampeonato”, e de forma invicta.

Fundado no ano anterior, em 20 de abril, o Fla surgiu na Rua de Santa Cruz, na Boa Vista. A primeira mensalidade aos sócios da “Cruz Branca”, o seu primeiro nome, antes da inspiração carioca, foi estipulada em cinco mil réis pelo presidente Alcebíades Braga. Outro ponto importante na história da extinta agremiação está no uniforme, alvinegro, assim como o do Santa Cruz em seu primeiro ano de atividade. Por causa da aparência semelhante, a Liga Pernambucana (atual FPF) determinou que um dos dois teria que ceder, com os corais adotando o vermelho e virando, enfim, tricolor na temporada seguinte.

Após a pioneira conquista, o Campeão da Fidalguia não alcançaria mais destaque, caindo de rendimento a cada década. Em 1945, dois anos antes de sua última participação no Estadual, foi atropelado pelo Náutico por 21 x 3 (sim, 21 x 3), a maior goleada da história do futebol pernambucano. Saiba mais aqui.

Caiu no ostracismo, saindo de cena. Mas é inegável, já estava na história.

Há 100 anos…

Uniforme do Flamengo do Recife

O preço de cada ponto somado no Campeonato Brasileiro de 2015

A relação cota de TV x pontuação na Série A de 2016. Arte: Tiago Nunes (twitter.com/TiagoJNunes)

A milionária diferença entre as receitas no Campeonato Brasileiro, sobretudo através da televisão, vem afunilando a disputa pelas primeiras colocações. Quase sempre, o maior investimento obtém resultados satisfatórios. Quase sempre. Que o diga o Vasco, rebaixado pela terceira vez em oito anos. Mesmo com a 4ª maior cota de TV em 2015, os cruz-maltinos terminaram no Z4. E a relação dinheiro/ponto expõe o clube, com R$ 1,7 milhão a cada pontinho somado na tabela. A interessante análise sobre a eficiência de gasto foi feita por Tiago Nunes, calculando todas as cotas (fixas) de acordo com a classificação final da Série A.

Este ano, o Corinthians conquistou o título quebrando o recorde de pontos nos pontos corridos, desde que a competição passou a ter vinte clubes. Foram 81 pontos, mas na “administração” do dinheiro, foi o 18º. A Ponte Preta, 11ª colocada, está no topo desta lista, com R$ 352 mil a cada ponto somado. Com essa quantia, o Timão precisaria ter somado 312 pontos! Impossível, claro, pois a pontuação máxima é de 114.

No fim da lista, o Flamengo, que gastou seis vezes mais que a Macaca para cada ponto. Um dinheiro sem retorno no rubro-carioca, sem dúvida.

1º) Ponte Preta – R$ 352 mil/pontos (R$ 18 mi e 51 pts)
2º) Chapecoense – R$ 382 mil/ponto (R$ 18 mi e 47 pts)
3º) Figueirense – R$ 418 mil/ponto (R$ 18 mi e 43 pts)
4º) Avaí – R$ 428 mil/ponto (R$ 18 mi e 42 pts)
5º) Sport – R$ 457 mil/ponto (R$ 27 mi e 59 pts)
6º) Atlético-PR – R$ 529 mil/ponto (R$ 27 mi e 51 pts)
7º) Joinville – R$ 580 mil/ponto (R$ 18 mi e 31 pts)
8º) Coritiba – R$ 613 mil/ponto (R$ 27 mi e 44 pts)
9º) Atlético-MG – R$ 652 mi/ponto (R$ 45 mi e 69 pts)
10º) Grêmio – R$ 661 mil/ponto (R$ 45 mi e 68 pts)
11º) Goiás – R$ 710 mil/ponto (R$ 27 mi e 38 pts)
12º) Internacional – R$ 750 mil/ponto (R$ 45 mi e 60 pts)
13º) Cruzeiro – R$ 818 mil/ponto (R$ 45 mi e 55 pts)
14º) Fluminense – R$ 957 mil/ponto (R$ 45 mi e 47 pts)
15º) Santos – R$ 1,03 milhão/ponto (R$ 60 mi e 58 pts)
16º) São Paulo – R$ 1,29 milhão (R$ 80 mi e 62 pts)
17º) Palmeiras – R$ 1,32 milhão/ponto (R$ 70 mi e 53 pts)
18º) Corinthians – R$ 1,35 milhão/ponto (R$ 110 mi e 81 pts)
19º) Vasco – R$ 1,70 milhão/ponto (R$ 70 mi e 41 pts)
20º) Flamengo – R$ 2,24 milhões/ponto (R$ 110 mi e 49 pts)

Calculando as cotas da Série A 2016 a partir do modelo da Premier League

Premier League, a liga de futebol da Inglaterra

Em 2016, o investimento da televisão no Brasileirão será de R$ 1,23 bilhão. A divisão da receita é um recorrente tema de debate, ainda mais agora, com o início do novo contrato da Globo com os clubes, com três anos de duração.

Paralelamente à discussão sobre a distorção das cotas, a Premier League sempre aparece como modelo ideal. No futebol inglês, a receita oriunda da tevê é dividida da seguinte forma: 50% igualmente entre os vinte times, 25% pela classificação no campeonato anterior e 25% pela representatividade de audiência de cada um. Assim, em vez do atual sistema de castas no Brasil, com um hiato de R$ 150 milhões entre a maior cota (Flamengo e Corinthians) e a menor (Santa Cruz, Ponte, entre outros), a diferença máxima seria de R$ 67 milhões, no caso entre Corinthians e América-MG. Mais equilíbrio, sem dúvida.

Projeção de cotas de TV na Série A de 2016 a partir do modelo da Premier League. Crédito: Diego Borges/Rádio Globo Recife AM

No quadro inspirado no campeonato inglês, o jornalista Diego Borges, da Rádio Globo Recife AM, projetou a cota da Série A de 2016 conferindo, na divisão da classificação, 9,75% ao campeão, 9,25% ao 2º etc. Usando um método bem semelhante, Douglas Batista mudou apenas o peso de cada colocação (20 ao 1º, 19 ao 2º etc). Foi com este segundo modelo que Chistiano Candian imaginou em maio como seria a distribuição do Brasileiro de 2015 (veja aqui).

Sport no contrato oficial
2016 – R$ 35,0 milhões
2015 – R$ 27,0 milhões

Sport via Premier League
2016 – R$ 61,7 milhões
2015 – R$ 40,5 milhões

Em relação à intervenção do governo brasileiro neste processo – possível, pois a emissora de televisão, mesmo privada, opera numa concessão pública -, dois projetos de lei já foram criados, ambos por deputados federais pernambucanos.

Em 2011, o Projeto de Lei 2019/2011 de Mendonça Filho.

50% de forma igualitária entre os 20 participantes
50% numa composição entre classificação e audiência (sem especificação)

Em 2014, o Projeto de Lei 7681/2014, do Raul Henry.

50% da receita serão divididos igualmente entre os 20 participantes
25% da receita serão divididos conforme a classificação na última temporada
25% da receita serão divididos proporcionalmente ao nº de jogos transmitidos

Ambos engavetados na Câmara.

A regionalização das séries A, B e C do Campeonato Brasileiro em 2016

Ao todo, 60 clubes do país têm “calendário cheio”, com atividade regular devido à participação nas três principais divisões do Campeonato Brasileiro. Com a definição de todos os acessos e descensos, veja como ficou a relação nas séries A, B e C de 2016. Ainda há a Série D, claro, mas trata-se de uma competição com a classificação oriunda dos campeonatos estaduais.

Série A
Corinthians-SP, Atlético-MG, Grêmio-RS, São Paulo-SP, Inter-RS, Sport-PE, Santos-SP, Cruzeiro-MG, Palmeiras-SP, Atlético-PR, Ponte Preta-SP, Flamengo-RJ, Fluminense-RJ, Chapecoense-SC, Coritiba-PR, Figueirense-SC, Botafogo-RJ, Santa Cruz-PE, Vitória-BA, América-MG

Nordeste – 3 (2 pernambucanos e 1 baiano)
Sudeste – 11 (5 paulistas, 3 cariocas e 3 mineiros)
Sul – 6 (2 gaúchos, 2 paranaenses e 2 catarinenses)
Centro-Oeste – 0
Norte – 0

Série B (16)
Avaí-SC, Vasco-RJ, Goiás-GO, Joinville-SC, Náutico-PE, Bragantino-SP, Paysandu-PA, Sampaio Corrêa-MA, Bahia-BA, Luverdense-MT, CRB-AL, Criciúma-SC, Paraná-PR, Atlético-GO, Ceará-CE, Oeste-SP, Vila Nova-GO, Londrina-PR, Tupi-MG e Brasil-RS

Nordeste – 5 (1 pernambucano, 1 baiano, 1 cearense, 1 maranhense e 1 alagoano)
Sudeste – 4 (2 paulistas, 1 carioca e 1 mineiro)
Sul – 6 (3 catarinenses, 2 paranaenses e 1 gaúcho)
Centro-Oeste – 4 (3 goianos e 1 mato-grossense)
Norte – 1 (1 paraense)

Série C
Macaé-RJ, ABC-RN, Boa Esporte-MG, Mogi Mirim-SP, Fortaleza-CE, ASA-AL, Confiança-SE, Portuguesa-SP, América-RN, Juventude-RS, Guarani-SP, Botafogo-PB, Cuiabá-MT, Salgueiro-PE, Tombense-MG, Guaratinguetá-SP, Botafogo-SP, River-PI, Remo-PA e Ypiranga-RS.

Nordeste – 8 (2 potiguares, 1 pernambucano, 1 cearense, 1 alagoano, 1 sergipano, 1 paraibano e 1 piauiense)
Sudeste – 8 (5 paulistas, 2 mineiros e 1 carioca)
Sul – 2 (2 gaúchos)
Centro-Oeste – 1 (1 mato-grossense)
Norte -1 (1 paraense)

A distribuição dos milhões das cotas de televisão nas Séries A e B de 2016

As cotas de TV do Campeonato Brasileiro da Série A em 2016. Arte: Fred Figueiroa/DP/D.A Press

As duas principais divisões do Campeonato Brasileiro têm uma cobertura completa da TV, com a transmissão dos 760 jogos, nos sinais aberto e fechado. Ambas as séries já estão definidas para 2016, com quatro trocas na A, como a volta de Botafogo e Santa, e oito mudanças na B, com destaque para a terceira participação do Vasco. E a próxima temporada marca o início do novo contrato com a Rede Globo, detentora dos direitos. Os 40 times receberão novos repasses, que fomentam a maior parte das respectivas receitas. No quadro produzido pelo podcast 45 minutos, um raio x das finanças oriundas da tevê.

Na elite foram firmados acordos de três anos, com clubes acima de R$ 35 milhões/ano. É o caso Sport, no último escalão dos “cotistas” até 2018. Basta compará-lo a Corinthians e Flamengo, que passam a ganhar R$ 170 milhões, R$ 60 mi a mais que no contrato encerrado, num aumento de 54%. Ou seja, maior numérica e percentualmente. Uma evolução baseada na audiência dos principais mercados, São Paulo e Rio, mas nem sempre atrelada à questão técnica. No fim da pirâmide, cinco clubes, incluindo o Tricolor, negociando acordos anuais entre R$ 20 mi e R$ 25 milhões. Num primeiro contato, o mandatário coral, Alírio Moraes, ouviu uma oferta de R$ 16 milhões. Pois é.

Evolução dos contratos 2012-2015 para 2016-2018
1) Flamengo e Corinthians – de R$ 110 mi para R$ 170 milhões (54%)
2) São Paulo – de R$ 80 mi para R$ 110 milhões (37%)
3) Vasco e Palmeiras – de R$ 70 mi para R$ 100 milhões (42%)
4) Santos – de R$ 60 mi para R$ 80 milhões (33%)
5) Cruzeiro/Galo/Grêmio/Inter/Flu/Fogo – de R$ 45 mi p/ R$ 60 milhões (33%)
6) Outros ex-integrantes do Clube dos 13 – de R$ 27 mi p/ R$ 35 milhões (29%)

Enquanto isso, na Série B, o valor básico foi ampliado de R$ 3 mi para R$ 5 milhões, numa articulação que contou com o presidente do Náutico, Glauber Vasconcelos. A bronca é ter que competir com o Vasco, que R$ 100 milhões. Os 17 “não cotistas” da Segundona ganharão, juntos, R$ 85 milhões. Competitividade? Irreal. E olhe que esse levantamento todo se refere apenas às cotas fixas do Brasileirão. Ainda há o pay per view, com um rateio de R$ 350 milhões através do Premiere, de acordo com o número de assinantes apurado em pesquisa do Datafolha, ampliando de vez a disparidade.

Veja as cotas dos clubes pernambucanos em todos os torneios de 2016 aqui.

As cotas de TV do Campeonato Brasileiro da Série B em 2016. Arte: Fred Figueiroa/DP/D.A Press