Intifada na Ilha

Pernambucano-2009: Sport 2 x 1 Santa Cruz

Neste domingo, fui até a Ilha do Retiro para cobrir o clássico para o Diario, juntamente com o repórter Márcio Cruz. Ficamos na cabine reservada para a imprensa escrita, em um daqueles novos módulos, construídos por causa da Libertadores. Apesar da distância do gramado, era possível ver o circo de horrores que se transformou a arquibancada do estádio, na divisa entre as 2 torcidas.

A turma do Santa ficou na curva entre a arquibancada frontal e a geral do placar. A confusão, porém, foi na divisão com o tobogã do placar eletrônico.

Entramos na Ilha às 14h50. Fora dela, pedra pra todo lado, na chegada da organizada Inferno Coral, após o túnel Chico Science, em uma batalha contra a Torcida Jovem. E com a Polícia no meio. Pânico.

Pernambucano-2009: Sport 2 x 1 Santa CruzÀs 15h20 ocorreu a primeira detenção dentro do estádio. De um integrante da “T.O.I.C.” (vulgo Inferno).

Por sinal, naquele setor do estádio, apenas 3 (TRÊS) policias do BPChoque faziam a segurança. Surreal. Insegurança absoluta. O que resultou em muita provocação, objetos arremessados…

15h30. Torcedores da Jovem, que sempre ocupam a geral do lado esquerdo das cabines, começaram a entrar pela geral do placar. Com o único objetivo de tumultuar, arrumar confusão, gerar confusão… Conseguiram.

15h37. Finalmente chega o reforço policial para a divisa das torcidas. E a polícia já chegou batendo forte, gerando mais correria. Acalmar os ânimos?! Pra quê?! 😯

Acompanhando aquilo tudo, uma comitiva da Inglaterra… Um comitiva de segurança nos estádios. Parece piada, né? Não é, infelizmente.

16h15. Briga generalizada entre PMs e torcedores da Inferno. Paralelamente, briga generalizada entre PMs e torcedores da Jovem… E um policial ainda teve a ‘brilhante’ ideia de retirar um integrante da Jovem passando pela torcida do Santa. Dá pra acreditar? 😯

Nas cadeiras, mais confusão. No pequeno setor destinado aos tricolores não havia policiamento. Isso mesmo. Nenhum. Ninguém. Nada. Os primeiros PMs só chegaram às 16h27, depois de muita discussão e ameaças de rubro-negros, irados com a comemoração dos 50 corais após o gol de Marcelo Ramos. Ah! Um policial ainda foi questionar os tricolores: “Esse setor é mesmo o de vocês?” (sim, foi exatamente isso, na minha frente).

O dirigente coral Fred Arruda precisou ir falar com o policial para explicar que SIM, aquele setor era dos tricolores. A situação só acalmou no final do primeiro tempo (16h50), com uma reorganização da torcida do Santa na curva.

No final (18h), a decisão: a torcida do Sport sairia antes. Será mesmo que não seria mais seguro evacuar logo 3 mil pessoas ao invés de 23 mil? A PM achou que não. E assim, a Intifada “Jovem x Inferno” continuou nas ruas da cidade, como ocorre há anos. Admito que escrevi esse post desanimado, pois não muda nunca…

Fotos:: Helder Tavares/DP

Carnaval de rua

Torcida Jovem sendo escoltada pela PM até o Arruda

Por Fred Figueiroa*

O barulho do primeiro tamborim. Depois, dos cavaquinhos. 13h em ponto. O samba começou em mais uma prévia de carnaval no bairro das Graças: “Eu fico com a pureza da resposta das crianças…é a vida, é bonita e é bonita” – o vocalista teve tempo de cantar apenas o primeiro verso. De repente, ouve-se o som de uma pequena multidão. Não, ele não tocaria para tanta gente nesta tarde. E o seu sambinha que acabara de começar logo foi silenciado.

“…E o Santa não pára de descer, da A pra B, da B pra C, da C pra D” entoava a multidão amarela que descia a rua das Crioulas. Bandeiras à frente. Carro de polícia escoltando. Do alto dos edifícios, as pessoas olhavam o “bloco passar” das janelas e varandas. Sim, parecia um bloco de carnaval. Uniformizado. Em êxtase.

Parecia. Mas só de longe.

Aquela era a Torcida Jovem do Sport indo em direção ao Arruda. Numa semana em que as torcidas organizadas voltaram às manchetes dos jornais pelos seus comportamentos de violência e barbárie, é uma sensação estranha assistir aquele inusitado desfile que lembra os blocos de carnaval de rua.

À distância, a beleza e a alegria contagiam. Avisam ao inconsciente das pessoas que está chegando a hora de ir ao estádio. O jogo jajá começa. Mas, se estivesse 13 andares abaixo, a única sensação que teria era a de medo. Medo que, certamente, estava nos olhos dos motoristas dos carros que ficaram presos no inevitável engarrafamento criado.

Enfim, alguns minutos depois, a marcha seguiu pela Rosa e Silva – deixando o silêncio na rua por alguns segundos.

E então, tamborins e cavaquinhos voltaram a tocar na tal prévia de carnaval. O cantor, depois do susto, emendou: “Vamos lá que a nossa torcida é mais organizada”. E recomeçou o seu samba: “Eu fico com a pureza da resposta das crianças…é a vida, é bonita e é bonita”.

É, a vida é bonita mesmo. Depende apenas do ângulo em que se olha.

* Fred Figueiroa é editor-assistente do Diario de Pernambuco, colaborador do blog e “fotógrafo” de plantão