As ramificações das uniformizadas com a Jovem, Inferno Coral e Fanáutico

Torcidas organizadas no futebol brasileiro

A Jovem (Sport) é parceira da Camisa 12 (Inter), que é rival da Geral (Grêmio), que é aliada da Fanáutico (Náutico), que por sua vez alimenta uma rivalidade com a Inferno Coral (Santa), parceira da Galoucura (Atlético-MG), que é inimiga da Máfia Azul (Cruzeiro), facção ligada à Jovem (Sport)… Entendeu? Pois é.

A cena é comum no Recife, em Salvador, São Paulo, Porto Alegre ou qualquer outra grande capital. A torcida organizada visitante, de outro estado, recebe o apoio da uniformizada do rival local do adversário. Um complexo e perigoso trato baseado nas ramificações das “torcidas organizadas aliadas”.

Existem seis grandes grupos, que acirram ainda mais as rivalidades, até em clubes sem tradições do tipo. Como, por exemplo, Santa Cruz x Paraná, no Arruda. A Fúria do Paraná é parceira da Jovem do Sport, que integra também a “união do punho cruzado”. Por isso, recebeu o apoio logístico (hospedagem, material e transporte) da facção pernambucana, incluindo a presença de membros.

O fato acabou levando à presença de Paulo Ricardo na fatídica partida

Em quase todos os jogos o cenário se repete, com maior ou menor intensidade, dependendo do tamanho da “TO”. Abaixo, as ramificações dos maiores grupos do estado, em ação nos bastidores à parte da proibição da justiça nos estádios.

Torcida Jovem (Sport) – 90 mil membros
Principais aliadas: Máfia Azul (Cruzeiro), Independente (São Paulo), Jovem Fla (Flamengo) e Camisa 12 (Inter)

Torcidas uniformizadas aliadas da Torcida Jovem (Sport)

Inferno Coral (Santa Cruz) – 80 mil membros
Principais aliadas: Força Jovem (Vasco), Galoucura (Atlético-MG), Bamor (Bahia) e Mancha Azul (CSA).

Torcidas uniformizadas aliadas da Inferno Coral (Santa Cruz)

Fanáutico (Náutico) – 20 mil membros
Principais aliadas: TUP (Palmeiras), Geral (Grêmio), Jovem (Botafogo) e Cearamor (Ceará)

Torcidas uniformizadas aliadas da Fanáutico (Náutico)

Exportando a violência das organizadas

Briga com supostos integrantes da torcida organizada do Santa Cruz em 2013 em Brasília, São Luís (Karlos Geromy/OIMP/D.A Press) e Maceió (ITAWI ALBUQUERQUE/FUTURA PRESS) e

A situação das torcidas uniformizadas pernambucanas não tem sido fácil de controlar. Em 2013, o cenário parece ter piorado fora do estado.

Até aqui, supostos integrantes da maior organizada do Santa Cruz, a Inferno Coral, já arrumaram confusão nos estádios Rei Pelé (Maceió), Castelão (São Luís) e Boca do Jacaré (Brasília).

Em alguns casos, torcedores dos clubes rivais do adversário coral nas respectivas partidas também aumentaram a quantidade de vândalos presentes, como nesta quarta, com torcedores do Gama, rival do Brasiliense.

A explicação vem das alianças das torcidas organizadas em todo o país, com facções de times de fora aliadas de clubes do estado, até mesmo vestindo as becas das torcidas. Ou seja, o aliado de um rival local também é um rival.

Mas exportar a violência é demais.

Em janeiro, um integrante da Torcida Jovem foi detido na reabertura do Castelão, sob a acusação de ter quebrado uma cadeira, a primeira nas arenas da Copa. A Fanáutico, em viagens pelo país, é sempre abordada nas estradas.

Vale destacar ainda o apoio financeiro, não oficial, dos clubes às principais organizadas. Ajuda no Arruda, na Ilha do Retiro, nos Aflitos…

Suposto integrante da Torcida Jovem detido após quebrar uma cadeira do Castelão, em Fortaleza (Ilo Santiago/Diário do Nordeste Online) e viagem da Fanáutico

A beca das organizadas como escudo para pilhar a cidade

As camisas das torcidas organizadas Inferno Coral (Santa Cruz), Jovem (Sport) e Fanáutico (Náutico)

Atualmente, as três maiores torcidas uniformizadas do Recife têm 190 mil membros.

A Fanáutico, fundada nos Aflitos por cinco jovens alvirrubros em 5 de fevereiro de 1984, tem 20 mil torcedores cadastrados.

A Inferno Coral, formada em 25 de abril de 1992 a partir da união de três torcidas, a Santamante, a Força Jovem e Os Cobrões, conta com 80 mil torcedores associados.

Já a Torcida Jovem surgiu em 29 de Outubro de 1995 numa dissidência de outra torcida organizada rubro-negra. Atualmente, conta com 90 mil membros.

Agora, esqueça o futebol, pois os atores desta história sem fim não dão a mínima…

Nos estádios a arruaça é temida pela grande maioria dos torcedores e visada há tempos pela polícia. Longe dos jogos só faz crescer o número de episódios do mesmo naipe.

Usando como escudo a camisa de torcidas uniformizadas dos três grandes clubes do estado, ou “beca”, como chamam, alguns marginais vão pilhando a situação.

Em 19 de novembro de 2012, a sede da Fanáutico na Boa Vista foi invadida por supostos membros da Torcida Jovem (relembre aqui).

No mesmo dia, após mensagens nas redes sociais, supostos membros da Fanáutico resolveram vingar a organizada e tentaram invadir a sede da maior uniformizada do Leão.

Um confronto no meio da rua, com quarenta integrantes de cada lado. Tiros para o alto, pedaços de madeira e ferro arremessados de um canto para o outro e mais ameaças.

No réveillon, um galpão no estádio da Ilha do Retiro onde a Jovem guarda parte de seus materiais para as partidas – bandeiras e baterias – foi incendiado. Veja a imagem.

A invasão ao clube teria sido provocada por supostos membros da Inferno Coral.

Em 2 de janeiro de 2013, supostos membros da mesma uniformizada tricolor divulgaram um vídeo portando uma arma de fogo com ameaças a outras facções. Assista aqui.

E assim segue a rotina para quem o futebol está longe de ser o “esporte” preferido.

No post, todos os “membros” foram precedidos da palavra “supostos”, uma vez que não há provas por parte da polícia sobre a autoria desses crimes. Nem se os mesmos fazem parte dos quatros oficiais das organizadas ou apenas se usam a beca como disfarce.

Isso mostra a passividade do poder público diante de um cenário em expansão, da pior forma possível, caótica e sem localização definida.

Levar 500 policiais a um jogo já não é mais suficiente para conter os vândalos, que não cansam de manchar os nomes das próprias torcidas e daqueles que realmente torcem.

As brigas seguem no entorno, a quilômetros de distância. E cada vez mais em dias comuns, sem um joguinho sequer na cidade. É questão de segurança pública, urgente.

O cadastramento do governo do estado para os torcedores efetivos das organizadas nos jogos já deveria ter saído do papel. Segue afogado na burocracia.

Sobre o contexto, vale lembrar o número de crimes levantados pelo Ministério Público de Pernambuco envolvendo, mais uma vez, supostos integrantes das organizadas locais.

Foram 800 crimes listados em 5 anos na região metropolitana.

Pois é. Negligenciar uma investigação nas entranhas das uniformizadas é miopia pura.

Atos criminosos de supostos membros da Jovem, Fanáutico e Inferno Coral