Canapé com Mariposa

Canapé

Numa conversa por telefone, na manhã de quarta-feira, a decisão de assistir in loco.

Uma ligação entre os celulares de Gustavo Dubeux e Luciano Bivar.

A 515 quilômetros de distância do Recife e faltando poucas horas para a partida, a única solução era viajar pelo céu.

Dito e feito. Sem muita programação e com alguns cheques, os dois foram até o Aeroclube de Pernambuco, no Pina, e decolaram num jatinho até Salgueiro.

Após o pouso na simplória pista no Sertão, eles seguiram direto ao vestiário do Sport. Participaram da preleção do time antes do duelo contra o Carcará.

Apoio e pressão no mesmo discurso. De ambos.

Depois, foram até a enxuta ala de camarotes do estádio Cornélio de Barros.

São menos de 20 cabines, sem divisórias. Mas com elevador, é verdade.

Para Dubeux e Bivar, o setor foi isolado numa cortesia da diretoria rival, com direito a serviço de bar. Contrataram até um garçom conhecido na cidade. De gravata…

Enquanto as mariposas tomavam conta do campo e da arquibancada, no camorte da cúpula leonina o cardápio contava com sucos, refrigerantes e canapés. Sim, canapés.

Com o seu sotaque quase carioca, Bivar até ofereceu a saborosa iguaria a um jornalista sentado na cabine ao lado.

“Você vai fazer uma desfeita dessa? Está gostoso. Aceite o canapé.”

O gaiato respondeu “Muito obrigado, Luciano” num carioquês mandrake.

Fim da partida, 0 x 0… E minutos depois o jantinho decolou de volta ao Recife.

Há quem diga que o canapé de Salgueiro seja o melhor do estado… Sem mariposa.

O mundo da base…

O Santos cansou de revelar jogadores nesta década…

Primeiro, com a geração de 2002, que deu o primeiro título brasileiro da história ao Peixe. Entre outros craques, surgiram Robinho, Diego, Léo, Elano e Alex. Todos eles com passagens na Seleção Brasileira. Todos eles foram vendidos para o exterior e renderam milhões ao clube da Baixada Santista. Consequência? Bicampeonato em 2004.

Agora, a geração de Neymar. Além do genial e genioso atacante, destacam-se no elenco da Vila Belmiro o meia Paulo Henrique Ganso e jogadores como Zé Eduardo e André, que já foi vendido neste ano. Todos eles com multas rescisórias astronômicas. O Santos chegou a negar uma oferta de R$ 71 milhões (30 mulhões de euros) do Chelsea por Neymar. Recusou pois sabe que tem ouro em estado bruto.

Ok. Então já ficou claro que um bom trabalho na categoria de base de um clube pode gerar muito dinheiro. Eis uma reviravolta nesta mesma década.

TerraEm 2001, o então presidente do Sport, Luciano Bivar, dissolveu a categoria de base da Ilha do Retiro. O Leão tinha cerca de 200 jogadores espalhados pelo infantil, juvenil e juniores.

O dirigente alegou que a Lei Pelé, que havia acabado com o passe dos jogadores profissionais, seria prejudicial aos clubes. Com o tempo, todos entenderam que era necessário esticar os contratos para poder conseguir um retorno financeiro através dos atletas, com o respaldo da lei.

Agora, exatamente dez anos depois, o mesmo Luciano Bivar deverá assumir o núcleo amador do futebol do Sport na provável gestão de Gustavo Dubeux (veja AQUI). Abaixo, uma nota publicada por Bivar nos jornais em 27 de setembro de 2000.

A Hora da Verdade

“Há muito esbraveja em minha aldeia sobre os riscos catastróficos que a famigerada Lei Pelé viria causar ao esporte mais popular do país. Uma das razões que me levaram ao Congresso Nacional era protestar contra o assunto. Todavia, a mídia populista e demagógica foi maior do que os que vociferavam no combate àquela norma, sobre o apocalipse que ela provocaria. Os trâmites legislativos avançaram como um furacão guiados por uma mídia insana e inconseqüente e marcaram a data da morte do futebol brasileiro: 26 de março de 2001, data da Vocatio Legis do art. 28 §2º, da Lei nº 9.615/98.”

Os dois irmãos

Sport, a primeira metadeSport, a segunda metadeA família Bivar tem mais de 50 anos de história no Sport. O primeiro, Milton Lyra Bivar, foi presidente do Rubro-negro em 1952.

Em 1989, o seu filho mais velho, Luciano, assumiu o Executivo do clube pela primeira vez. O mesmo Luciano que na festa do título do cinqüentenário (em 1955), então com 11 anos, vestiu a faixa “O Sport do amanhã”.

Ele ganharia o pleito mais 4 vezes. No último deles, em 2006, indicou o irmão mais novo, Milton, para dar continuidade aos trabalhos na Ilha. Gestões vitoriosas, aliás, com os títulos estaduais de 97, 98, 99, 2000, 06, 07, 08, Série B de 90, Nordestão de 2000 e Copa do Brasil de 2008. Dez taças, dez voltas olímpicas, quase 1/4 de todos os títulos do Sport.

Luciano Bivar, de 63 anos, e Milton Bivar, de 57, ambos recifenses, farão aniversário no próximo dia 29 de novembro. Mas a união entre os dois parece estar abalada. Esse racha teria sido a pedra fundamental da séria briga política que se desenha para a eleição do Rubro-negro em 16 de dezembro, visando o biênio 2009/2010.

Fontes próximas aos irmãos Bivar acreditam que os dois estão mesmo brigados, e que o apoio de Luciano à chapa de Homero Lacerda será pra valer. Duas composições para a chapa da oposição já foram ventiladas, com Luciano como vice de futebol em uma e presidente do Conselho Deliberativo na outra. Mas sempre presente.

O racha teria acontecido no começo de 2007, logo no início da gestão de Milton. No final daquele ano, Homero Lacerda também se desligou da diretoria. Nenhum dos três nunca confirmou isso, mas Homero já não esconde mais que Luciano está no seu grupo.

O maior temor da torcida em relação a tudo isso é porque em 2000, quando o Sport também vivia um momento fantástico, houve uma briga ainda maior, que resultou na derrocada do Sport por um grande período.

Há oito anos, o Sport foi pentacampeão pernambucano, bi do Nodestão, vice da Copa dos Campeões e 5º lugar no Brasileirão. Em dezembro, a acirrada eleição presidencial foi marcada pelas brigas entre “talibãs” e “urubus”, como eram chamados os grupos de Luciano Bivar e Wanderson Lacerda (com vitória do primeiro).

Pois um ano depois, o time perdeu o hexa estadual, foi rebaixado no Nacional como lanterna (28º lugar) e acabou a temporada atolado em dívidas (muitas delas em aberto até hoje). No meio disso, a confusão seguia no Leão, com denúncias de irregularidades e brigas nos bastidores, resultando na renúncia de Luciano Bivar.

E, é claro, em 5 longos anos na Série B.

Período que só acabou quando o Sport se uniu novamente.

  • Saiba mais sobre a história das eleições do Sport clicando AQUI.
  • Saiba mais sobre os “candidatos” Milton Bivar e Homero Lacerda clicando AQUI.

Democracia rubro-negra

Como foi dito no post Duelo de Titãs, a sucessão na presidência executiva do Sport deverá ser decidida nas urnas, provavelmente com dois nomes de peso: Milton Bivar e Homero Lacerda. Apesar de ser algo muito comum no clubes de futebol, o consenso não vem sendo alcançado ultimamente na Ilha do Retiro. Caso seja confirmado o bate-chapa em 16 de dezembro, esta será a 4ª eleição rubro-negra desde 2000. Disputas acirradas, vitórias esmagadoras, candidatos tradicionais, postulantes desconhecidos. Tudo dentro da democracia, marca do clube desde 1974. Veja abaixo as eleições.

Luciano Bivar é cumprimentado pelo candidato derrotado, Wanderson Lacerda21 de dezembro de 2000 3.548 votos
1.805 votos – Luciano Bivar (Rumo ao hepta)
1.011 votos – Wanderson Lacerda (Verdade Rubro-negra)
719 votos impugnados
13 votos nulos

Uma disputa calorosa, com bate boca entre os partidários, marcou a eleição que reuniu os dois presidentes da década de 1990, Wanderson (3 mandatos) e Luciano (2). O pleito, que utilizou 21 urnas eletrônicas, foi comandado pelo então presidente do TJPE, Nildo Nery. Mais de 3,5 mil leoninos votaram, no maior número de eleitores em uma disputa no clube.

Antes da votação, os dois candidatos fizeram denúncias de sócios irregulares. No pleito, 719 votos ficaram sub judice. Porém, eles não seriam suficientes para mudar o resultado. A chapa “Rumo ao hepta”, de Bivar, venceu de forma incontestável, mas o racha político continuou, e em 2001 o clube acabou rebaixado na Série A.

Severino Otávio, o "Branquinho", é abraçado na comemoração da vitória nas urnas19 de dezembro de 2002 1.696 votos
1.478 votos – Severino Otávio (Sport é Paz)
147 – Alfredo Bertini (Renovação)
71 – Geraldo Carvalho (Recuperação)

Em um clima de cordialidade, a primeira eleição do milênio transcorreu na “paz”, o lema de Branquinho (Severino Otávio), que venceu de forma esmagadora, em uma eleição com 3 candidatos.

A “paz” pregada também era uma referência às várias correntes políticas unidas em torno do nome do vencedor. No final, os três candidatos se abraçaram. A curiosidade do dia foi a declaração de Geraldo Carvalho, após a queda nas urnas. “Recebi um voto para cada ano de vida meu”, brincou Geraldo, então com 71 anos.

Alfredo Bertini perde pela segunda vez seguida, mas parabeniza Milton Bivar, o 3º de sua família na presidência do clube19 de dezembro de 2006 1.817 votos
1.560 votos – Milton Bivar (Lealdade e Tradição)
257 votos – Alfredo Bertini (Por amor ao Sport)

Uma barbada anunciada. Se em 2002 a vitória de Branquinho era certa, em 2006 a eleição foi uma mera formalidade.

Talvez apenas para referendar o nome do então desconhecido – para maioria da torcida – Milton Bivar, cujo irmão Luciano era o atual mandatário. Homero Lacerda, possível adversário em dezembro, estava na chapa da situação, como vice-presidente de Futebol. Na campanha, Milton havia prometido montar um grande time e comprar um CT. Já Bertini somou a sua segunda derrota no clube.

Outras eleições na Ilha
1974 – Jarbas Guimarães venceu José Joaquim
1986 – Homero Lacerda venceu Wanderson Lacerda

Cronograma do pleito para o biênio 2009/2010

16/11 – Lista de sócios
11/12 – Último dia para a inscrição de chapas
16/12 – Eleição (de 8h às 18h)
06/01/2009 – Posse do novo presidente

8 mil sócios podem votar

Fotos: Ricardo Fernandes (2002 e 2006) e Edvaldo Rodrigues (2000)