Quando o futebol passou a ter voz

Rádio em 1920

No embalo do rápido avanço tecnológico, cada vez mais a transmissão dos jogos de futebol se confunde com a “realidade”.

Da TV preto e branco para a colorida. Do sinal analógico para o digital. Agora, vivemos uma era com a exibição em três dimensões, ainda nos cinemas, mas com a evolução para os jogos em 3D com sinal aberto, em qualquer parte do mundo.

Essa transmissão de forma massiva tem como berço o rádio. Antes das imagens, o som.

Após as informações via telégrafo, com um delay enorme sobre os fatos, o rádio enfim aproximou o torcedor da partida, em tempo real.

Há exatamente 90 anos, a primeira transmissão de uma partida de futebol (veja aqui).

Nada de Inglaterra, França ou Itália na rota. Ainda que de forma arcaica, o trabalho foi executado a partir do Rio de Janeiro, com destino a Montevidéu, no Uruguai.

Através do telégrafo, chegavam pequenas mensagens de texto na capital uruguaia.

Cinquenta aparelhos de rádio produzidos pela empresa americana General Electric haviam sido vendidos no país vizinho em 1922. Coube ao pioneiro Claudio Sapelli narrar aquelas mensagens enviadas das Laranjeiras para os novos ouvintes.

Mesmo tendo só o trabalho de ler as mensagens, começava ali o estilo radiofônico, com a devida “licença poética” ao descrever os fatos, colocando uma boa dose de emoção.

Ainda assim, o Brasil de Friedenreich e o Uruguai de Romano ficaram no empate sem gols pelo Campeonato Sul-americano. O primeiro gol seria narrado dias depois…

Criada em 6 de abril de 1919, a Rádio Clube de Pernambuco, emissora pioneira no Brasil, já funcionava na época em uma nova sede na Avenida Cruz Cabugá.

Apesar da popularização do futebol no estado, em pleno amadorismo, a primeira transmissão de uma partida só ocorreria por aqui em 1931, através da Rádio Clube, com a narração de Abílio de Castro. Foi também a primeira vez do Norte-Nordeste.

Confira um post de quem aprendeu a gostar de futebol acompanhando pelo rádio aqui.

Rádio em 1920

Tem gente mexeeeendo no placar

O Sport até abriu boa vantagem, mas não segurou a vitória diante do Botafogo, na noite deste sábado, no Rio de Janeiro. De qualquer forma, o empate por 2 x 2 deu um ponto ao Leão numa semana pra lá de difícil. Confira a partida abaixo.

Série A-2009: Botafogo 2 x 2 SportAos 7 do 1° tempo, Weldon botou a bola na frente e correu muito, deixando todo mundo para trás. Depois, tocou para Wilson, livre, livre… E só fez empurrar para o gol.

Dá, licença, dá licença!
Teeeem gente mexeeeeeeendo no placar! 😀

Jogando só nos contra-ataques, o Sport ampliou aos 20 minutos, em mais uma “maratona”, dessa vez com Moacir. O lateral/volante foi até a linha de fundo, se livrou da marcação e cruzou para Weldon, que só teve o mesmo trabalho de Wilson.

Essa eu assino embaaaixo!

Aos 36, porém, o botafoguense Juninho acertou o poste numa cobrança de falta.

A bola vai, vai, vai…

No 2° tempo, aos 15 minutos, o Botafogo diminuiu o placar num gol irregular. Eduardo bateu cruzado, pela esquerda, e Tony – adiantado – fez o mesmo que Wilson e Weldon. Sob o olhar do árbitro Jailson Macedo Freitas.

Que vergonha, seu juiz, que vergoooonha… 👿

O volante Eliseu, camisa 27, estreou aos 27 minutos, no lugar de Sandro Goiano. Aos 19 anos, o jogador ficou com uma missão ainda mais indigesta, pois Hamilton foi expulso no mesmo minuto… Assim, o interino Levi Gomes promoveu outra estreia, a do volante Dudé, de 21 anos -no lugar de Weldon. E Levi ainda arrumou tempo para outra estreia, a do zagueiro Juliano, saindo Moacir.

O coração faz tum-tum-tum.

Mas não adiantou tanta gente nova em campo… Aos 39, Fahel marcou de cabeça após cobrança de escanteio pela esquerda e empatou o jogo.

Futebol, haha, é aquip! 😎

A paixão de quem não via os jogos

Hoje em dia é possível assistir aos jogos dos 3 times do Recife pela TV com certa facilidade. O Estadual é transmitido ao vivo pela TV aberta desde 1999. As partidas da Copa do Brasil também, com o apoio da TV por assinatura. O mesmo ocorre no Campeonato Brasileiro.

Adilson CoutoMas até 1998 poucos jogos passavam. Era uma exibição maciça de partidas dos grandes clubes do Rio e de São Paulo. Assim, torcer sem ir ao estádio era basicamente via rádio mesmo.

Mesmo assim, milhares de torcedores foram “formados” durante muito tempo. Gerações inteiras! Não sei precisar se faço parte da última, mas sou, no mínimo, de uma das últimas gerações de torcedores “pé-de-rádio”.

E uma das vozes mais marcantes nos anos 90, para mim, foi a de Adilson Couto, narrador da Rádio Jornal. O Grau 10 Internacional. Capaz de empolgar o mais insosso dos jogos. Capaz de manter forte a paixão de um torcedor que sequer via a cor do gramado, a camisa do seu time.

Aos 62 anos, Adilson faleceu nesta noite (veja mais aqui). Ele trabalhou durante 17 anos na Rádio Jornal. O jornalismo esportivo pernambucano está de luto.

“A bola vai, vai, vai…” ou “O coração faz tum-tum-tum”.

Enquanto eu escrevia esse post, o meu amigo Filipe Porto (alvirrubro) abriu um chat no msn. A primeira frase dele: “Que notícia triste, cara. Acabei de ler”. Para quem vive o futebol pernambucano há algum tempo, nem foi preciso perguntar o assunto…

As torcidas de Sport, Náutico e Santa Cruz também estão de luto. Os torcedores dos três times devem ter gols gravados na memória com a voz de Adilson Couto. Vitórias suadas, títulos históricos, golaços.

Eu, com certeza, tenho…

Foto: Tom Cabral/JC Imagem (cortesia)

Frei Damião, um quase rubro-negro

Frei DamiãoConsiderado como um santo por muitos nordestinos, o nome de Frei Damião (1898-1997) está em processo de beatificação na Igreja Católica. O frade capuchinho realizou centenas de peregrinações no interior da região, mas a sua relação com o futebol foi quase inexistente. Quase. Em 1975, correu o boato no Recife de que Frei Damião teria dito que gostaria que o Sport fosse o campeão pernambucano daquele ano.

O Leão vivia mergulhado em uma crise financeira e estava há 12 anos sem vencer o Estadual. O clube já estava sendo apelidado pelos rivais de Leão XIII, que era o nome de um Papa e de um clube paraibano. Talvez por causa do apelido, o frade capuchinho pode ter tentado ajudar o Rubro-negro… 😎

O boato se espalhou. Mas será mesmo que Frei Damião teria dito aquilo? Os repórteres Hélio Macedo (Rádio Transamérica) e Alfredo Augusto Martinelli (Rádio Jornal) integravam a equipe da Rádio Olinda naquela época. E após uma reunião de pauta, Vitorio Mazilli, já falecido e então setorista do Sport, foi designado para apurar a informação. Não seria fácil, até porque o frade italiano não estava disposto a falar sobre o assunto.

Mas Mazilli viajou de kombi até o Sertão. Nem Hélio nem Martinelli souberam precisar o nome do município pernambucano, porém, lembram exatamente da frase dita por Frei Damião durante a esperada entrevista.

Sport, campeão pernambucano de 1975“Eu não acendi essa fogueira (o “boato”), mas gostaria que o Sport fosse o campeão sim”, admitiu o capuchinho durante uma missão de fé.

Entrevista exclusiva. Ao transmitir na resenha, o editor de som colocou a vinheta da Rádio Olinda em “BG” (fundo musical), para que a declaração não pudesse ser copiada.

Obs. O Sport foi o campeão pernambucano. E com um time que ficou conhecido como a Seleção do Nordeste.