Na calada da noite, o protesto

Protesto do River Plate na Avenida Santa Fé. Foto: Cassio Zirpoli

Buenos Aires – É algo cultural na Argentina. Costumam dizer por aqui que se protesta por tudo, até mesmo pela falta de algo para protestar.

No domingo, os hermanos foram às urnas para escolher o novo prefeito da capital federal, cargo chamado de Jefe de Gobierno.

Ex-presidente do Boca Juniors e atual prefeito, Mauricio Macri teve 47% dos votos na luta pela reeleição, mas vai disputar o segundo turno com Daniel Filmus, candidato da presidente Cristina Kirchner, que teve 27%.

Cartazes colados em paredes nas ruas, papéis no chão etc. Todo aquele lixo eleitoral proibido no Brasil fez a festa na Argentina, através dos militantes.

Esse ativismo político também está estendido ao futebol. Ídolo do clube, o ex-zagueiro Daniel Passarella acabou se tornando presidente do River Plate. Porém, com o inédito rebaixamento à 2ª divisão nacional, a torcida do Millionario já pede a sua saída.

Quase todas as noites os hinchas colam protestos nos muros da cidade. Mesmo com o órgão de limpeza urbana retirando os papéis pela manhã, o protesto volta à noite.

Em La Boca, a campanha é inversa. Querem que Passarella siga em Nuñez. Política…

Casa do Boca Juniors provocado o River Plate pelo rebaixamento. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

A cidade mais feliz da Argentina

Córdoba – Muito se falou do rebaixamento do River Plate no campeonato argentino, fato que deixou “metade” de Buenos Aires em tristeza profunda, ainda mais com o desempenho frustrante da seleçao nacional até aqui.

Mas chegou a hora de falar do outro lado da moeda, na segunda maior cidade do país…

Glória do Belgrano, de Córdoba, presente no álbum elaborado pelo blog, acima, do centro ao estádio Mario Kempes. Após cinco anos, o clube conseguiu subir para a primeira divisao, e de maneira histórica. Haja felicidade.

Em uma “promoción” contra o River, o time venceu por 2 x 0 em casa e segurou o empate em 1 x 1 no estádio Monumental de Nuñez. O blog entrevistou alguns torcedores do clube em Cabildo Historico e todos falaram com orgulho da festa com 50 mil pessoas no Patio Olmos, após a classificaçao.

Para completar, o maior rival do clube, o Talleres, campeao da Copa Conmebol de 1999, está na 3ª divisao. Abaixo, Luciano Moya, que considerou como um título de 1ª divisao…

Nem Boca nem River. Só All Boys

All Boys

Buenos Aires – Eis uma pergunta básica sobre o futebol portenho…

“Boca Juniors ou River Plate?”

Para a maioria dos turistas que puxam um papo sobre futebol, os dois gigantes argentinos são as únicas opções  para despertar a paixão clubística.

Mas ainda existem outros times tradicionais no país, como Independiente, Racing, Vélez Sarsfield e Estudiantes, todos com troféus da Libertadores e do Mundial.

Sendo assim, o que faz algúem torcer por outra equipe em Buenos Aires? Existem mais de 15 clubes na cidade, todos com estádio particular.

Torcero “bairro” ainda é uma tradição forte, sobretudo nas classes mais pobres.

Um desses times, encravado no bairro de Floresta, é o chico All Boys. Ausente na elite argentina durante 30 anos, o clube voltou recentemente e fez até estrago, vencendo o River Plate – algo que, de certa forma, indluenciou no rebaixamento do Millonario.

Abaixo, conheça o taxista e hincha Cristian Rojas, de 29 anos, que há mais de 15 anos gasta parte do salário para ir ao estádio Isla Malvinas, casa do alvinegro.

Não por acaso, ele foi falando de futebol durante os 50 minutos até La Plata…

Último tango de Nuñez

Torcida do River Plate. Foto: River Plate/divulgação

Só mesmo o cantor Carlos Gardel, em seus melhores dias, conseguiria enraizar tanto drama em uma história quanto o rebaixamento inédito do River Plate.

Sim, o gigante River, arquirrival do Boca Juniors e dono do maior estádio da Argentina, o Monumental de Nuñez, palco da final da Copa América, que começa na próxima sexta.

O torneio continental começará ainda com um país atônito diante de algo tão marcante e surpreendente quanto a queda no domingo do Milionario, como é conhecida a tradicional agremiação de 110 anos de história, sempre na elite do futebol portenho, onde é o maior campeão, com 33 títulos.

No capítulo final de uma tragédia jamais anunciada, era preciso vencer o modesto Belgrano, de Córdoda, por dois gols de diferença. Em casa. Em mais um dia frio em Buenos Aires, o calor da hinchada do River, com quase 50 mil pessoas presentes.

O drama começou com um gol do adversário com apenas quatro minutos. Um silêncio daqueles cortado apenas pelo apito do árbitro Sergio Pezzotta, assinalando impedimento. Corretamente.

Do calafrio à emoção irracional 60 segundos depois, com o gol de Pavone, de fora da ára, na raça. Com a derrota por 2 a 0 no jogo de ida, restava devolver a diferença. A um gol da salvação, o River Plate pressionou. Dessa vez, a “camisa” não jogou.

Desarrumado, como nas últimas três temporadas – cuja média de pontos, no complicado sistema argentino, o deixou nessa repescagem -, o time deu espaço ao rival de ocasião. O gol incrivelmente perdido por Pereyra foi o primeiro aviso. Aos 17 minutos do segundo tempo, dois zagueiros do River trombaram e Farré, que não tinha nada a ver com aquele papelão fora de hora, empatou.

O fim de uma tradição – cuja faixa diagonal, para se ter uma ideia, é a fonte de inspiração do padrão do Vasco – estava a poucos minutos. O River, presidido pelo ídolo e ex-capitão Daniel Passarella – campeão do mundo com a seleção em 1978 -, ainda perdeu um pênalti com Pavone.

Pois é. A mística estava encerrada, sob a revolta da torcida, ensandecida com a situação, entre quebra-quebra e lágrimas intermináveis, sem deixar o estádio, a casa dos clássicos, fadado a receber jogos da “B”.

O domingo que jamais será esquecido na Argentina marcou, ainda, o aniversário de 15 anos da última Taça Libertadores conquistada pelo River Plate. Foi o verso final de um tango digno de Gardel. Hasta la vista, River.

Domingo dos tambores silenciosos

Tambores

“De acuerdo a la reunión del Comité de Seguridad de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires celebrada el 12 de mayo del corriente, y por los antecedentes del último Boca-River, se resuelve como medida de seguridad que no ingresen ni banderas ni bombos ni otros elementos que puedan perjudicar la seguridad del espectáculo el próximo domingo 15 en el estadio de Boca Juniors”.

Nota oficial das autoridades argentinas (veja AQUI).

Domingo, às 16h, Boca Juniors e River Plate vão se enfrentar no mítico estádio La Bombonera, pelo campeonato argentino.

No mesmo dia e no mesmo horário, a 3.786 quilômetros de distância, Santa Cruz e Sport vão decidir o título pernambucano de 2011 no Arruda.

Expectativa de 45 mil hinchas em Buenos Aires e 60 mil torcedores no Recife. Nem cá nem lá teremos a batucada das arquibancadas.

A falta de educação de alguns prejudica bastante o espetáculo de todos.

Que as quatro torcidas citadas no texto façam a diferença na “garganta” mesmo…

900 minutos de sinal aberto

Floralis Generica, escultura localizada no bairro da Recoleta, em Buenos Aires. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Um campeonato inteiro na TV sem custo algum para o telespectador. Já pensou? Atualmente, é uma realidade muito distante da nossa. Não na Argentina.

No Brasil, a Série A é transmitida de três formas. São dois jogos em sinal aberto por semana, caso tenha rodada na quarta-feira, e mais três na TV por assinatura, seguindo a mesma lógica de datas. As demais partidas são exibidas exclusivamente pelo sistema pay-per-view – um serviço para quem já tem a TV à cabo, diga-se.

Na Argentina, todos os 380 jogos da atual temporada (com os torneios Apertura-2010 e Clausura-2011) vão passar em sinal aberto para todo o país vizinho.

A TV Publica, como o nome deixa bem claro, pertence ao governo federal da Argentina. A emissora “estatizou” os direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Argentino da 1ª divisão, em 8 de agosto do ano passado, em uma decisão unânime dos clubes, que rescindiram com o Grupo Clarín, antigo detentor dos direitos desde 1991.

Boca Juniors x River PlateO governo pagou 600 milhões de pesos (hoje, cerca de R$ 256 milhões) para comprar os direitos. O Clarín havia pago 230 milhões de pesos…

Assim como no Brasil, a competição conta com 20 clubes, ou 10 jogos por rodada. Para que todos os jogos fossem exibidos, sem regionalização alguma, a AFA elaborou uma tabela que congrega 10 horários distintos.

É uma verdadeira overdose. Daí, o bar Locos por el Fútbol – veja AQUI.

No fim de semana em que estive na capital argentina, a sequência foi a seguinte:

Sexta-feira
19h10 – San Lorenzo 2 x 0 Tigre
21h20 – Quilmes 0 x 2 Vélez Sarsfield

Sábado
14h10 – Gimnasia y Esgrima 2 x 3 Arsenal
16h20 – All Boys 3 x 1 Independiente
18h30 – Colón 1 x 1 Estudiantes
20h30 – Banfield 0 x 0 Newell’s Old Boys

Domingo
14h00 – Olimpo 1 x 0 Lanús
16h00 – Boca Juniors 2 x 0 Huracán
18h10 – Racing 2 x 1 Argentinos Juniors
20h20 – Godoy Cruz 2 x 2 River Plate

Fora os descontos, foram 900 minutos de bola rolando.

A mudança nos direitos de transmissão foi batizada de “Fútbol para todos”. Para quem gosta de futebol, é fantástico. Para quem não gosta, é melhor pedir asilo político.

Com uma verba de R$ 1,4 bilhão por três anos do Brasileirão – e já em curso a negociação de mais três -, tal medida não deverá ser implantada no Brasil tão cedo.

Curiosidade: apesar de parecer uma “antena”, a escultura acima chama-se Floralis Generica (veja AQUI), na Recoleta. A antena da TV Publica está justamente atrás.

Onde só o futebol tem vez

Bar Locos por Fútbol, em Buenos Aires, na Argentina. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Um bar temático sobre futebol, com jogos de todas as divisões, países etc. Basta passar em algum canal de televisão. Assim é o Locos por el Fútbol, no requintado bairro da Recoleta, na capital argentina.

Apesar do visual do local, a cotação da moeda brasileira faz com que os preços sejam bem acessíveis por aqui. No câmbio, 1,00 real = 2,27 pesos.

Todas as mesas do famoso bar portenho são direcionadas para pelo menos uma televisão. Por sinal, existem mais aparelhos de LCD do que mesas… Embaixo são 15 TVs e 11 mesas. Em cima, outras 12 televisões e um telão. Na decoração fixa do bar, que se ajusta para partidas especiais (da seleção dos hermanos, por exemplo), estão sempre duas camisas do Boca Juniors.

Estive lá nesta terça-feira e a explicação foi simples: o Boca tem a maior torcida do país e a que mais frequenta o bar. O estádio La Bombonera, do Boca, está a 6 quilômetros do bar, enquanto o Monumental de Nuñez, do River, está a 7.

Uma tarde sem rodada para o blog, certo? Que nada! Transmissão ao vivo do “jogaço”  França 2 x 0 Luxemburgo, pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2012. Além de alguns DVDs da Fifa com jogos históricos da Copa do Mundo. Sem futebol, no!

Jogos do Brasileirão também têm vez? Por supuesto.

E a Série B…? Loco, mas com um mínimo de bom senso.

Veja o site oficial do bar Locos por el Fútbol clicando AQUI.

Dia da Raça. E das defesas

Campeonato Argentino de 2010: River Plate 0 x 0 Gimnasia y Esgrima, com 50 mil pessoas no estádio Monumental de Nuñez. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – Feriado nacional na Argentina nesta segunda-feira. O Día de la Raza, ou simplesmente o Dia da Raça, em homenagem ao descobrimento da América, em 12 de outubro de 1492, quando o navegador Cristóvão Colombo avistou a primeira gama de terra no Novo Mundo. Na capital argentina, o feriado é antecipado todos os anos para o fim de semana mais próximo à data, criando um “feriadão oficial”.

Com o clima finalmente deixando o frio intenso do inverno, os hermanos foram em peso aos parques tomar um sol, ainda que o tempo não tenha passado dos 22 graus.

Uma fatia da população preferiu outro caminho, no norte da metrópole. Carros, metrô, ônibus. Uma multidão de 50 mil torcedores. Todos em direção ao estádio Monumental de Nuñez, inclusive o blogueiro, que pagou 70 pesos (R$ 29) por uma entrada no setor Centenario Medio y Bajo. O feriado de toda essa galera seria apoiando o time Millonario.

Os torcedores (hinchas) locais são conhecidos pelo apoio incondicional. Desta vez, eles teriam que alentar (apoiar) por algo incomum a o clube, autointitulado de forma nada modesta como El Más Grande – de fato, é o maior campeão nacional do país, com 33 títulos, contra 23 do Boca Juniors, mas em termos internacionais, o River, campeão mundial em 1986, deve ao arquirrival.

O motivo para tamanho suporte é a séria ameaça de rebaixamento do clube, que jamais jogou a segunda divisão do país. No complicado sistema de acesso e descenso da Argentina, a pontuação que define os rebaixados  após uma temporada é a média dos últimos três anos, o chamado Promedio (entenda AQUI). Detalhe: em cada temporada são realizados dois nacionais (Apertura e Clausura), totalizando seis torneios.

O jogo seria justamente contra o principal adversário na luta para escapar do rebaixamento, o Gimnasia y Esgrima de La Plata. Até a tarde desta segunda, River e Gimnasia haviam disputado 85 jogos nos últimos três anos. O River somava 99 pontos contra 97. Na média: 1.164 x 1.141. Ambos estão no limite (veja AQUI).

A torcida da casa não queria nada de tiki tiki, como eles chamam o “jogo bonito”, de toque de bola. Uma vitória por 1 x 0 seria suficiente. Talvez por isso o confronto tenha sido tão nervoso, com muita raça, duas bolas na trave do River no primeiro tempo, duas chances inacreditáveis perdidas pelo Gimnasia e uma outra do principal atacante do time da casa, Pavone. O camisa 10 e capitão do River foi o rodado Ariel Ortega, ídolo máximo da barrabrava do clube, a Los Borrachos del Tablón (os bêbados da tábua).

Ortega ciscou, catimbou como sempre, mas não deu em nada. Em número de chances, 10 x 4 para o River. No placar, um 0 x 0 com vaias do público já impaciente. O jogo que encerrou a 10ª rodada do Apertura-2010 (liderado pelo Estudiantes, rival do Gimnasia) manteve o tradicional River Plate numa situação de risco. O resultado só fez deixar ainda melhor o feriado da hinchada do Boca Juniors…

Proibido, pero no mucho

Campeonato Argentino de 2010: River Plate 0 x 0 Gimnasia y Esgrima. Placar eletrônico do estádio Monumental tinha cronômetro, proíbido pela Fifa. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Buenos Aires – A Fifa poíbe a utilização de cronômetro no placar eletrônico há muito tempo. A decisão foi tomada para evitar qualquer tipo de pressão no árbitro.

Tanto por parte dos jogadores quanto da própria torcida local.

A regra vale para qualquer competição, em qualquer divisão, em qualquer país.

No entanto, sempre aparece alguém para tentar burlar a norma. Até mesmo em Copa do Mundo isso já aconteceu…

No estádio Monumental de Nuñez a medida é normal. É quase uma fonte extra de consulta para o árbitro.

Nesta segunda-feira, o juiz Rafael Furchi deu quatro minutos de acréscimo na etapa final do empate sem  gols entre River e Gimnasia y Esgrima.

O cronômetro no gigante placar eletrônico do estádio marcava rigorosamente 49 minutos quando o árbitro encerrou a partida.

Ele pode até ter sido pressionado nos minutos finais por causa do relógio exposto, mas, no fim, nenhum hincha reclamou do tempo…

Você concorda com o veto da Fifa em cronômetros em placares eletrônicos?

Argentinos? Eram nordestinos

Clássico argentino: River Plate (Buenos Aires) x Rosário Central (Rosário)

Parecia mesmo um clássico argentino. De leve.

Um River Plate x Rosário Central, no popular duelo entre as cidades Buenos Aires e Rosário. Com direito a uma chuva de gols, com emoção e muita raça.

Como no futebol dos hermanos

A técnica, porém, deixou claro que eram apenas homônimos. River Plate de Sergipe versus Central de Caruaru. Pela famigerada Série D.

O River Plate – atual campeão sergipano – é sediado em Carmópolis, a apenas 30 quilômetros de Aracaju. Por causa das condições do estádio local, a partida deste domingo foi realizada na capital, no Batistão.

O Central, que ostenta as cores alvinegras, ao contrário do clube argentino, buscou o resultado a todo custo.  No fim, um justo empate em 3 x 3. A Patativa vencia até os 34 minutos do segundo tempo, depois de virar o jogo, mas fez um gol contra…

Em tempo, o River sergipano faz um clássico com o Boca Juniors (veja AQUI).