Futebol às 11h da manhã, um sacrifício para os pernambucanos

A CBF oficializou em 2015 o horário de 11h para a Série A. O objetivo é abrir mais uma faixa no pay-per-view no domingo, com um jogo a cada fim de semana, e possibilitar a comercialização da competição para a Ásia. Entre os jogos reagendados, um do Sport. A partida contra o Santos na Vila Belmiro, em 31 de maio, teve o horário modificado, saindo das 18h30. A situação, ainda incomum no país, não é inédita no futebol pernambucano. Os três grandes já passaram por isso, mas na segunda divisão nacional. No Recife, o calor sempre beirou o insuportável, com um sol para cada um. No interior, o Salgueiro viveu um de seus maiores capítulos numa manhã de domingo…

07/09/1997 – Náutico 0 x 3 Vila Nova (Aflitos, Série B)
Foi a primeira vez, no Campeonato Brasileiro, que um time pernambucano jogou de manhã. Nos Aflitos, com 7.834 pagantes, o Timbu foi goleado pelo Vila Nova, com show de Sabino. No fim, vaias para o técnico Homero Cavalheiro (alguém lembra?) e para os goleiros Roberval e Ney. Ambos jogaram e ambos falharam. Aquela equipe se recuperaria na Série B e disputaria o acesso com a Ponte Preta, em Campinas. Horário? Novamente às 11h. O empate em 1 x 1 deu a vaga à Macaca. O último jogo cedinho do Alvirrubro foi em 2004, também pela Segundona. Nos Aflitos, derrota para o Ceará (3 x 1), com 40º no termômetro.

Série B 1997: Náutico 0x3 Vila Nova. Foto: Arquivo/DP/D.A Pres

03/10/1999 – Tuna Luso 3 x 0 Santa Cruz (Mangueirão, Série B)
O Tricolor capengou bastante na segunda divisão de 99 até arrancar na raça para o acesso à elite. Antes da classificação às quartas, que viria somente na última rodada do turno, atuações pífias. Como aquela às 10h em Belém (11h no Recife), num Mangueirão deserto, com 565 espectadores. Mas, conhecendo bem a cancha e o clima (“forte calor”, segundo a reportagem o Diario), a Tuna venceu marcando três gols ainda no primeiro tempo. No fim da peleja, o técnico coral, Nereu Pinheiro disparou: “O time não quer jogar”. Uma hora, quis.

Série B 1999: Tuna Luso 3x0 Santa Cruz. Foto: Arquivo/DP/D.A Press

09/05/2004 – Sport 0 x 0 Portuguesa (Ilha do Retiro, Série B)
Cimento fervendo na Ilha do Retiro. Na única partida do Leão às 11h, a temperatura chegou a bater em 45 graus, segundo o relato da partida publicado o Diario. O público de 14 mil pessoas ainda esperava uma melhora do time rubro-negro, que vivia péssima fase no Brasileiro, mas Robgol só chutou uma vez. Após o empate sem gols, o técnico do Sport, Luís Carlos Ferreira, provocou uma cena impagável. Foi até o banco de reservas da Lusa e disse em voz alta. “Vocês vão sofrer nesse campeonato, porque não ganhar desse meu time, desse jeito hoje, não existe!”. Não por acaso, era apelidado de “Doido”.

Série B 2004: Sport 0x0 Portuguesa. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press

17/10/2010 – Paysandu 2 x 3 Salgueiro (Curuzu, Série C)
Um jogo histórico para o Carcará e para o futebol do estado. Numa Curuzu abarrotada com 16 mil torcedores, com transmissão ao vivo na TV para todo o país, o Salgueiro surpreendeu e conquistou a inédita vaga à Segundona ao vencer, de virada, o Paysandu. A festa em Belém já era certa para o Papão, que ainda tinha o empate a favor. O terceiro gol pernambucano, que sacramentou a vaga, foi anotado pelo meia Edu Chiquita. De calor, Salgueiro entende.

Série C 2010, quartas de final: Paysandu 2x3 Salgueiro. Foto: Claudio Pinheiro/Futura Press

Desigualdade triunfal

100 anos do campeonato paraenseCelebrando os 100 anos do campeonato paraense, a federação de futebol do estado está promovendo a Copa Centenário, com a participação de todos os campeões desde 1908.

Mas não será um torneio inchado não…

Afinal, foram apenas 4 vencedores em 100 anos! Todos da capital. Somente Remo e Paysandu ganharam 84 vezes.

Trata-se da “maior concentração de taças” em um estado do Brasil. Superior até mesmo a Pernambuco, que tem apenas 7 campeões, nenhum deles do interior. Mas aqui, o último vencedor fora do “trio de ferro” foi o América, em 1944.

Em Belém (digo, no Pará…), a última vez que isso aconteceu foi em 1910. Ano em que o União Esportiva (escudo abaixo) conquistou o seu segundo título (o outro havia sido na estréia, em 1908). Desde então, o troféu passa do Remo para o Paysandu, e do Paysandu para o Remo. De vez em quando a Tuna Luso se mete na história e ganha também, mas a última vez foi em 1988.

O quadrangular está sendo custeado pelo governo do estado, e a maior atração está sendo mesmo a volta do União Esportiva, que há décadas não disputava um campeonato local. Para isso, foi necessária uma parceria com o Clube Municipal de Ananindeua, que emprestou jogadores e a sua comissão técnica.

E não é que na estréia, em 18 de outubro, o time do “bairro do Marco” venceu o Paysandu por 2 x 1!? Gols de Cléo e Tales Macarrão. Paulo de Tássio (é assim mesmo que se escreve) descontou.

Todas as partidas da copa estão sendo realizadas no Mangueirão. Os dois primeiros colocados farão a final no dia 8 de novembro. Você pode ler mais sobre a Copa Centenário clicando AQUI e AQUI.

Ah, o clássico Remo x Paysandu será disputado neste sábado, às 17h. Pela movimentação das torcidas pelo Orkut, o jogo deverá ter um público pequeno. Depois do rebaixamento do Remo para a Série D e da eliminação do Paysandu, que ficará na C em 2009, é até compreensível. As tradicionais torcidas do Leão Azul e do Papão merecem algo melhor mesmo.

Sociedade Atlética União Esportiva, primeira campeã paraenseCampeões do Pará
42 títulos – Paysandu e Remo
10 títulos – Tuna Luso
2 títulos – União Esportiva

Obs. No comecinho do século passado, o futebol paraense era bem mais desenvolvido que o pernambucano, tanto que o campeonato estadual de lá começou em 1908, enquanto o de cá só foi realizado pela primeira vez em 1915. Por isso, a histórica vitória do Sport por 3 x 2 sobre o combinado Remo/Paysandu, em 1919, valeu não só o troféu “Leão do Norte” como o mascote do Rubro-negro.