Indo além das reformas preventivas nos banheiros dos estádios da capital

Bacias sanitárias na Ilha do Retiro, com com os modelos tradicional e turco

Se existe uma unanimidade em relação à falta de estrutura dos estádios recifenses, sem dúvida é a questão dos banheiros. Sujos, com vazamentos, portas sem trava nas cabines, vasos sem tampa e até falta de papel higiênico…

É assim no Arruda, na Ilha do Retiro e também nos Aflitos.

A morte ocorrida no José do Rego Maciel, com uma privada arremessada do anel superior, trouxe um velho alerta. Não foi a primeira vez que um vaso foi atirado. Em outras partidas, nos clássicos, marginais já quebraram inúmeros vasos, usados os pedaços como armas em potencial. Depredação sistemática.

Numa atuação preventiva, o Sport deve trocar em um mês 38 vasos tradicionais por modelos “turcos”, acoplados ao piso, exigindo um certo malabarismo…

As primeiras imagens, comparadas às privadas antigas, só escancaram o péssimo nível oferecido. Repito, é algo generalizado. Se em setores mais caros, como cadeiras e camarotes, os banheiros ainda são transitáveis, nas demais áreas, com a imensa maioria do público, a situação é precária.

Exceção feita à Arena Pernambuco, naturalmente, os grandes palcos do futebol local precisam mesmo de uma reforma. Não só por prevenção, mas principalmente por respeito ao torcedor…

Banheiro da Arena Pernambuco. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

A nova hashtag pedindo paz no futebol, ainda aguardando a política de segurança

Campanha da Arena Pernambuco pedindo paz nos estádios

O trabalho de conscientização no futebol do estado precisa ser permanente.

A Arena Pernambuco lançou neste 9 de maio a hashtag é #paznofutebol, visando o jogo Santa Cruz x Luverdense, o primeiro com a presença da torcida coral após o triste episódio na saída do estádio do Arruda.

Na ideia, o pedido pelo uso de camisas brancas nos jogos – curiosamente, o uniforme branco é o padrão reserva de Santa, Náutico e Sport.

Somente neste ano, esta é a segunda campanha com foco nas redes sociais. Em 22 de janeiro surgiu através da FPF a mensagem #paznosestádios.

O motivo também tinha sido um ato violento no futebol, com a briga de torcidas no jogo Botafogo x Sport, no Almeidão. Que não seja necessária uma terceira hashtag em 2014, até porque a questão é bem mais complexa, social.

É preciso que o poder público assuma de uma vez por todas a responsabilidade de uma política de segurança nos jogos de futebol no estado.

Os primeiros jogos de portões fechados de alvirrubros, rubro-negros e tricolores

Náutico, Santa Cruz e Sport contam com mais de cinco milhões de torcedores, segundo as pesquisas nacionais mais recentes. Um número considerável, que se estende à presença do público nas partidas no Recife.

Apesar disso, o comportamento de uma parcela ínfima das massas resultou em penas emblemáticas. A disputa de um jogo oficial de portões fechados.

Os três rivais centenários já passaram pela constrangedora situação. Pior. As partidas foram exibidas na tevê, sem um torcedor sequer nas arquibancadas. Sem bilheteria, os clubes engoliram um prejuízo daqueles. Pior. O borderô ainda terminou negativo, com o custo operacional de pelo menos R$ 10 mil.

Eis a triste primeira vez de cada um…

29/04/2005 – Náutico 1 x 3 Portuguesa (Série B)
A punição foi imposta pela CBF após a invasão de um torcedor alvirrubro no gramado dos Aflitos, num jogo contra o Bahia no Campeonato Brasileiro do ano anterior. O Timbu precisou atuar na Ilha do Retiro.

Série B 2005: Náutico 1x3 Portuguesa. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

16/02/2014 – Sport 2 x 0 CSA (Nordestão)
A confusão com integrantes da uniformizada do clube, na estreia da competição contra o Botafogo, no Almeidão, resultou na perda de dois mandos. A punição do STJD acabou reduzida para um jogo. Como não houve atenuante na Ilha, não foi preciso mudar o local.

Nordestão 2014, quartas de final: Sport 2x0 CSA. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press

07/05/2014 – Santa Cruz 3 x 1 Lagarto (Copa do Brasil)
O assassinato de um torcedor na saída do Arruda, após o jogo Santa x Paraná, pela Série B, gerou uma pena preventiva da CBF, com a interdição imediata do Mundão e a pena de portões fechados. Assim, os Aflitos, sem uso, foi o escolhido.

Copa do Brasil 2014, 1ª fase: Santa Cruz 3x1 Lagarto. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Atos cada vez mais violentos, com os mesmo atores

Briga na arquibancada no jogo CRB x Santa Cruz, pelo Nordestão 2013. Foto: Chico Peixoto/Leia Já Imagens

Aconteceu com os integrantes da Gaviões da Fiel após o crime na Bolívia.

Com membros da Força Jovem após a briga generalizada em Joinville.

Por que não ocorreria com pessoas ligadas à Inferno Coral após a baderna em Maceió?

Reincidentes. De brigas, assaltos, assassinatos…

Suspeito de atirar uma privada na cabeça de Paulo Ricardo, do alto do Arruda, Everton Felipe Santiago estava na briga contra uma facção do CRB, em fevereiro do ano passado, no Rei Pelé, na Copa do Nordeste (veja aqui).

Sim, aquele jogo que resultou numa perda de três mandos de campo ao Tricolor em 2014, e que agora pode resultar numa punição de mais dez.

Seu nome não figurou entre os 41 torcedores impedidos pela justiça de frequentar jogos de futebol na cidade, num ato publicado pela FPF dois meses depois.

Seu nome não foi investigado pela polícia, para coibir novos atos da uniformizada – de outros grandes grupos na capital, de bandeiras rivais. E olhe que existe uma unidade especializada, a delegacia de repressão à intolerância esportiva.

Também não houve ação do clube, o Santa, sobre os envolvidos, banindo dos jogos.

E ele sequer foi vetado pela própria direção da Inferno Coral de seguir viajando com a delegação…

É difícil controlar um grupo de 80 mil membros? É.

Porém, não foi o caso.

O nicho onde Everton se encontrava é bem mais restrito, de três a cinco ônibus por viagens na região e presença no Arruda até nos jogos sem grandes públicos…

Imagens e mais imagens com outros integrantes desde 2008, já veterano, com a alcunha popular de “Ronaldinho da Toic”. Tudo à disposição na web.

Quanto se cobra uma política de segurança pública no futebol do estado, se cobra isso: trabalho preventivo. Não houve.

O reconhecimento do suspeito em outro crime, através do Diario de Pernambuco, foi tarde demais Paulo Ricardo…

Everton Felipe, suspeito de matar o torcedor Paulo Ricardo, após o jogo Santa Cruz x Paraná, na Série B 2014. Foto: Anderson Malagutti/DP/D.A Press

As ramificações das uniformizadas com a Jovem, Inferno Coral e Fanáutico

Torcidas organizadas no futebol brasileiro

A Jovem (Sport) é parceira da Camisa 12 (Inter), que é rival da Geral (Grêmio), que é aliada da Fanáutico (Náutico), que por sua vez alimenta uma rivalidade com a Inferno Coral (Santa), parceira da Galoucura (Atlético-MG), que é inimiga da Máfia Azul (Cruzeiro), facção ligada à Jovem (Sport)… Entendeu? Pois é.

A cena é comum no Recife, em Salvador, São Paulo, Porto Alegre ou qualquer outra grande capital. A torcida organizada visitante, de outro estado, recebe o apoio da uniformizada do rival local do adversário. Um complexo e perigoso trato baseado nas ramificações das “torcidas organizadas aliadas”.

Existem seis grandes grupos, que acirram ainda mais as rivalidades, até em clubes sem tradições do tipo. Como, por exemplo, Santa Cruz x Paraná, no Arruda. A Fúria do Paraná é parceira da Jovem do Sport, que integra também a “união do punho cruzado”. Por isso, recebeu o apoio logístico (hospedagem, material e transporte) da facção pernambucana, incluindo a presença de membros.

O fato acabou levando à presença de Paulo Ricardo na fatídica partida

Em quase todos os jogos o cenário se repete, com maior ou menor intensidade, dependendo do tamanho da “TO”. Abaixo, as ramificações dos maiores grupos do estado, em ação nos bastidores à parte da proibição da justiça nos estádios.

Torcida Jovem (Sport) – 90 mil membros
Principais aliadas: Máfia Azul (Cruzeiro), Independente (São Paulo), Jovem Fla (Flamengo) e Camisa 12 (Inter)

Torcidas uniformizadas aliadas da Torcida Jovem (Sport)

Inferno Coral (Santa Cruz) – 80 mil membros
Principais aliadas: Força Jovem (Vasco), Galoucura (Atlético-MG), Bamor (Bahia) e Mancha Azul (CSA).

Torcidas uniformizadas aliadas da Inferno Coral (Santa Cruz)

Fanáutico (Náutico) – 20 mil membros
Principais aliadas: TUP (Palmeiras), Geral (Grêmio), Jovem (Botafogo) e Cearamor (Ceará)

Torcidas uniformizadas aliadas da Fanáutico (Náutico)

Dilma Rousseff lamenta a morte de Paulo Ricardo e sugere delegacia que já existe

Tuitadas da presidente Dilma Rousseff sobre a morte de um torcedor no Arruda. Crédito: twitter/reprodução

A morte do torcedor Paulo Ricardo, atingido por um vaso sanitário, teve repercussão internacional, a menos de quarenta dias da Copa do Mundo.

Neste domingo, dois dias após o assassinato, ocorrido no fim de um jogo no Arruda, a presidente da república, Dilma Rousseff, se pronunciou.

Em cinco mensagens publicadas em sua conta no twitter, a presidente brasileira pediu paz e reforçou a criação das delegacias especializadas.

Ao que parece, a presidente se esqueceu que Pernambuco já conta com a delegacia de repressão à intolerância esportiva, criada em 21 de junho de 2013 (veja aqui).

Sobre a delegacia especial, o seu primeiro ponto:

a) prevenir e reprimir, com exclusividade no município do Recife e Região Metropolitana, as agressões à ordem pública oriundas de torcidas organizadas em grandes eventos esportivos.

Mesmo assim o caso segue sem solução…

O segundo ato da parceria entre Disque Denúncia e FPF, subindo de R$ 300 para R$ 5.000

Disque Denúncia no Recife

Em 14 anos de existência, o Disque Denúncia faz pela segunda vez uma parceria com a FPF para coibir a violência no futebol local. Algo que, francamente, nem deveria ser imaginado. Infelizmente, é preciso.

Em maio de 2013, na véspera das finais do Pernambucano, foi lançado um projeto oferecendo até R$ 300 por informações sobre autores de atos criminosos nos jogos entre Santa Cruz e Sport, que decidiram o título.

Na ocasião, era possível enviar fotos e vídeos como provas de atos ilícitos.

Agora, em maio de 2014, a recompensa subiu para R$ 5 mil.

A gravidade também é muito maior, com um homicídio ainda não resolvido.

Para atirar os dois vasos sanitários que atingiram Paulo Ricardo Gomes da Silva na cabeça, num choque fatal, o (s) assassino (s) caminhou (caminharam) 120 metros no anel superior, do banheiro feminino, onde as privadas foram arrancadas, até a área acima do portão 6, próxima a uma das torres de refletores.

O estádio já estava fechado, de acordo com a administração coral. Nota-se que ainda não havia sido esvaziado. A polícia montada, presente na hora do crime, não cercou o Arruda como devia, evitando a fuga dos criminosos.

E assim, sem câmeras no corredor onde os vasos foram carregados, (ainda) não há qualquer imagem dos suspeitos…

Para quem tiver informações, o telefone do Disque Denúncia é 3421-9595.

As imagens da violência inacreditável no futebol

A descrição era inacreditável.

Torcedor morre atingido por um vaso sanitário.

No dia seguinte ao lamentável episódio na saída do Arruda, a Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou o vídeo com o momento exato do crime. Imagens captadas pelas câmeras do órgão, na Rua das Moças.

Mesmo vendo, segue difícil de acreditar que o futebol chegou a isso.

Que o futebol pernambucano chegou a isso…

Arruda interditado preventivamente. Julgamento deve piorar a situação

CBF interdita preventivamente o Arruda

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva deverá oferecer denúncia contra o Santa Cruz sobre a morte do torcedor após o jogo contra o Paraná.

Entretanto, de forma preventiva, a CBF já puniu o Tricolor…

O Arruda está interditado, através de decisão administrativa publica pela entidade.

Os corais deverão atuar na Arena Pernambuco, cujo acordo para uma partida, contra a Luverdense, já estava assinado.

Resta saber agora o tamanho da possível (provável) punição ao clube.

Em caso de jogos com portões fechados, como preza a nova diretriz do STJD – aplicada inclusive no Sport na Copa do Nordeste -, nem a Arena seria a solução…

Vítima fatal na violência sem controle do futebol pernambucano

Morte de torcedor no Arruda em 2 de maio de 2014. Foto: Yuri de Lira/DP/D.A Press

Um torcedor foi morto na rua ao ser atingido por um vaso sanitário arremessado do alto do estádio do Arruda.

A frase é surreal.

A partida entre Santa Cruz e Paraná teve um público baixíssimo, apesar dos 8.029 torcedores anunciados. Provavelmente contabilizando a troca do Todos com a Nota, mesmo com muitas pessoas desistindo de ir ao jogo por causa da forte chuva na cidade.

Mesmo assim, mesmo vazio, o estádio foi palco de cenas de violência, com brigas de supostos membros de torcidas organizadas.

Acredite, não foi a primeira vez que lançaram uma privada do anel superior do Arruda. Na Ilha do Retiro já fizeram algo parecido.

Desta vez, infelizmente, a tragédia anunciada há tempos aconteceu.

Uma vítima fatal, mais uma no futebol pernambucano, com uma indecente política pública de segurança. O primeiro homicídio com uma relação direta ao futebol local aconteceu em 18 de março de 2001, num confronto entre Jovem e Fanáutico. Desta vez, Inferno Coral versus a uniformizada visitante, com apoio de membros da Jovem, numa ramificação que se estende a quase todas facções do país.

Esse tema, com o uso do futebol como proliferação da violência por parte das organizadas, é recorrente. A segurança nos jogos, sobretudo na capital, precisam da mão firme do governo do estado, há tempos ignorando o cenário caótico.

O planejamento é baseado no aumento do efetivo, no choque. Investigação? É algo quase nulo. Prisão? Inexistente.

Assim, Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, morador do Pina e torcedor do Sport, entra na estatística como mais uma vítima da violência no futebol.

Uma morte difícil de aceitar, mas cujos indícios eram evidentes…

Morte de torcedor no Arruda em 2 de maio de 2014. Foto: Yuri de Lira/DP/D.A Press