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Nenhum pode ser deixado para trás

O 99 por um é um projeto social baseado em uma parábola. Nela, um pastor deixa seu rebanho com 100 animais para encontrar uma ovelha perdida

As horas passam devagar para as meninas internadas no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Santa Luzia, no bairro da Iputinga, no Recife. Os voluntários do projeto 99 por um logo identificam espaço fértil para desenvolverem o que costumam chamar de “momentos de espiritualidade e formação humana”. Uma vez por semana, durante duas horas, sentam – se com as jovens em conflito com a lei para construir fantoches e liberar “monstros” internos durante um círculo de oração.

O 99 por um é baseado em uma parábola da Bíblia. Nela, um pastor deixa seu rebanho com 100 animais para encontrar uma ovelha perdida. Da mesma forma, os voluntários se propõem a resgatar ao menos uma pessoa que esteja “perdida” entre tantas outras. Falam em semear o bem em ambientes inóspitos, lugares onde a esperança, a fé e a caridade foram perdidas.

Oficinas de fantoche e pinturas também ajudam na ressocialização dos jovens - Foto: Peu Ricardo/DP

Oficinas de fantoche e pinturas também ajudam na ressocialização das jovens – Foto: Peu Ricardo/DP

No espaço com capacidade para 20 meninas, convivem 32, com idades variando entre 14 e 21 anos. Todas se envolveram de alguma forma com infrações graves, inclusive homicídios, e perderam a liberdade pelo prazo máximo de três anos. Cercadas pelas paredes rabiscadas e grades, elas apostam nas atividades ofertadas pelos raros voluntários interessados em doar um pouco de seu tempo a elas.

“Vem fazer o fantoche para distrair a cabeça”, diz uma jovem para uma companheira flagrada chorando. Ela diz ter saudades da família. Outra adolescente, com 19 anos e grávida, conta estar participando das atividades para ser beneficiada no relatório da Funase e assim sair mais cedo da prisão para reencontrar mais dois filhos, de 2 e 3 anos. Uma das jovens, amante de desenhos desde criança, redescobriu o prazer da arte durante a confecção dos fantoches. O dela será negro e terá um black power. Ao final da oficina, as meninas usarão os fantoches para fazer uma apresentação sobre superação.

Voluntários promovem momentos de espiritualidade e formação humana com meninas do Case Santa Luzia. - Foto: Peu Ricardo/DP

Voluntários promovem momentos de espiritualidade e formação humana com meninas do Case Santa Luzia. – Foto: Peu Ricardo/DP

Um trabalho semelhante é desenvolvido há mais tempo no Case de Abreu e Lima, destinado somente a meninos, considerada uma das unidades da Funase mais violentas. Lá os encontros acontecem todas as sextas-feiras. “A ideia é trabalhar a autoestima, ajudá-los a desenvolver o próprio potencial. Um ex-interno de Abreu e Lima, por exemplo, hoje é voluntário da Associação Sementes de Bem, da qual o projeto 99 por um faz parte. Também conseguimos uma bolsa de estudos em uma faculdade particular para uma ex-interna que acabou de deixar o Santa Luzia e uma bolsa no Conservatório Pernambucano de Música para um jovem que toca sete instrumentos”, comemora a arte-educadora Rúbia Lopes. Ela conta ter percebido uma redução no número de palavrões falado pelas meninas após a chegada do projeto. O próximo passo no Santa Luzia é ajudá-las a encontrar um caminho profissional.

A Sementes de Bem é uma rede cristã de profissionais que atua em diversas áreas e tem como objetivo semear o bem, “amando o próximo como a si mesmo”, diz um trecho do slogan. É um dos 50 projetos aprovados para ser incubado pelo Porto Social ao longo de um ano. Na próxima edição, conheça o trabalho da ONG Prosol, cujo desejo é colocar em prática o banho saudável junto a pessoas em situação de rua.

Conseguimos uma bolsa de estudos em uma faculdade para uma menina que acabou de deixar o Santa Luzia.

Rúbia Lopes

Arte-educadora

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