As transformações urbanas na Agamenon

Por

Tânia Passos

Não será fácil reimaginar o cenário da Avenida Agamenon Magalhães. Foram mais de quatro décadas lidando com o seu dia a dia dinâmico e, por vezes, congestionado. O modo de circulação da primeira perimetral do Recife irá mudar radicalmente para se adequar ao corredor Norte/Sul. As pistas exclusivas para o BRT, nos dois sentidos, vão ficar ao lado do canal central da via.

Para garantir a velocidade do corredor, serão removidos os semáforos de quatro cruzamentos. Entram em cena os viadutos e as passarelas. Com estes equipamentos, a circulação na Agamenon Magalhães nunca mais será a mesma. E tanto motoristas como pedestres e ciclistas terão que reaprender os caminhos.

Não apenas a circulação, mas também alguns hábitos e costumes serão modificados com o futuro cenário da avenida. Não fazer a travessia em nível, por exemplo, onde haverá passarela, é um deles. Morador do bairro da Boa Vista, o aposentado Antônio Alfredo, 68 anos, terá que buscar outro supermercado para fazer as compras de todos os dias. O local onde hoje está o supermercado Bompreço dará lugar à curva do viaduto da Bandeira Filho. Ao todo, 31 imóveis serão desapropriados. “Tudo por aqui vai ficar muito diferente. Eu espero que seja para melhor.”

As mudanças trazem juntas as incertezas. O comerciante Deomedes Pereira, 48, está preocupado com o seu futuro. Desde que nasceu, ele mora e trabalha na esquina da Rua Montevidéu, em um dos imóveis que serão desapropriados. A área que pertence à família dele tem cerca de 1.250 metros quadrados. O espaço privilegiado serve de estacionamento para dois empreendimentos. “Tenho contrato com a Clínica de Fraturas e com um cursinho. Ao todo, são 35 vagas cobertas. Ainda não sei para onde vou”, revelou o comerciante, que também tem um bar no local.

Também preocupados estão os barraqueiros que comercializam na calçada nos fundos do supermercado. Alguns há mais de 30 anos. Uma equipe da Secretaria das Cidades está fazendo o levantamento da renda diária deles para que sejam indenizados. “Eu preferia outro lugar para trabalhar. O dinheiro da indenização vai acabar”, revelou o comerciante Aldo Paulino da Silva, 58 anos.

Se para quem trabalha no local as mudanças trazem incertezas, imagine para quem vai ser vizinho de um dos viadutos. Inconformados, os moradores da Rua Bandeira Filho já fizeram vários protestos contra a implantação dos elevados. O viaduto passará ao lado de um conjunto de quatro prédios com 72 apartamentos. “Os moradores ainda não sabem como vão sair e chegar em suas casas. Além disso, haverá aumento das poluições do ar e sonora”, revelou a psicóloga Valéria Vieira, 53 anos. Para o governo, o interesse da maioria se sobrepõe à minoria.

 

3 Replies to “As transformações urbanas na Agamenon”

  1. Como diz o Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, tratar a mobilidade com viadutos e alargamento de ruas é apenas apagar fogo jogando gasolina. Revela a ignorância dos governantes em assuntos de planejamento urbano.

  2. “Para o governo, o interesse da maioria se sobrepõe à minoria” – séria candidata a frase mais demagógica do ano.

    Como disse um conhecido, nesse caso em particular, o interesse do (des)governo é que está se sobrepondo à vontade da maioria!

    Não fizeram estudos prévios de impacto, vão descaracterizar a avenida para priorizar o automóvel, como sempre. Tudo para ajudar os amigos empreiteiros, únicos que vão lucrar com essa “obrada”.

    Para os amigos, tudo. Para o povo…

  3. A própria legislação diz que obras que beneficiarão muitos não podem ser desconsideradas por afetar poucos cabendo a estes poucos uma indenização a depender do caso.
    Criticam essas viadutos, mas nos EUA há linhas de metrô em elevados passando ao lado de prédios residencias, claro, no subúrbio, e como pobre não tem direito, aqui os mais providos são podem ser os donos da verdade. Em São Paulo, também, tem elevado na mesma situação.
    Falam numa descaracterização da avenida com os viadutos que privilegiariam os automóveis, mas e a viabilidade do BRT? E os ônibus que cruzam a avenida com destino a zona norte passando na Bandeira Filho que no futuro utilizarão o viaduto? Só passa carro nessa rua? Enquanto as criticas se concentram no Bandeira Filho e seu entorno, a outra ponto Paissandu não tem problema algum, talvez porque lá ninguém reside.
    Interessante pensar que antigamente a avenida foi concebida através de aterros hoje questionáveis. Bem mais longe, a Cidade da Copa vai ocupar uma enorme área de mata atlântica e cadê a gritaria quanto a isso em época de defender/presevar o verde?
    O aumento da poluição sonora e de poluentes só ocorrerá se o governo deixar que os veículos fiquem parados nos elevados como ocorreria e ocorre quando há congestionamento, então não é o viaduto que vai piorar, mas a falta de medidas que garantam a fluidez em nível dos veículos que passarão pelos elevados.
    Sobre o acesso dos moradores que ficam no lado esquerdo da rua, já que o direito só é comercial e do clube, me parece, é possível que uma pista local fique no lado esquerdo do elevado justamente para garantir o acesso ao imovéis, que por sinal deve ser por carro além do a pé, e permitir aos que estão na pista local se dirijam a rua para acessar as outras. A lanchonete (se ficar) e o clube deverão rever o acesso ao estabelecimento.
    Quanto ao uso de passalelas para cruzar a via, prefiro essa opção a ter que aguardar a abertura do sinal para tal e percorrer os pontos onde há a faixa de pedestres, que por sinal ao lado da Hosp. da Restauração é horrível por ser bastante larga a via. No futuro, neste ponto, só haverá uma faixa para acesso pela pista local, enquanto a outra será ocupada pela sustentação do elevado, então será facilitada a travessia em nível.
    Os que criticam falam que as obras não abragem o cruzamento da praça do Derby que pertence a um corredor radial Leste-Oeste e o adiante ao lado de um restaurante famoso. Viaduto em frente a praça não poderá ter pelo que o governo diz em função do caráter histórico do local. Túnel é possível, mas para quem e em que sentido? No caso do sentido, só viria longitudinal na Agamenon, mas isso não iria travar o trânsito, pois sentido centro há vários imovéis comerciais e falta largura no outro lado, além da rua ser um declive (fácil para alagar)? Um túnel só para o BRT na avenida não tiraria o cruzamento prejudicando o BRT do Leste-Oeste. Como são dois cruzamentos e não tão problemáticos, um sistema de sincronia dos sinais na presença do BRT resolveria. Ainda, se fala tanto em estudos de viabilidade, impacto ambiental e coisas do gênero que não foram feitos ou feitos usando metódos simples segundo o CREA quando se fala nos viadutos, mas fizeram isso para o túnel ao lado do Museu da Abolição na Madalena e o viaduto/estação na Rua Benfica onde o fluxo veículos é muito grande?
    Eu percebo que é uma minoria no seu direito de questionar querendo sobrepor muitas coisas, mas outras já com o martelo batido só aguardando execução não tiveram questionamentos semelhantes, talvez porque ninguém mora no local e comércios não serão demolidos.